Jornal Estado de Minas

Mudança na rotação da Terra é imperceptível

Além de ter provocado milhares de mortes e iniciado uma possível tragédia nuclear, o terremoto devastador da sexta-feira, 11, fez com que a costa do Japão se movesse 2,4 metros e alterou a rotação da Terra. De acordo com Richard Gross, cientista do Laboratório de Jatopropulsão da Nasa (agência espacial norte-americana), o tremor de magnitude 9 levou a Terra a girar mais rapidamente e a balançar de modo diferente. “O fenômeno rearranjou a massa do planeta, um pouco mais próxima de seu eixo de rotação”, afirmou Gross ao Estado de Minas.
Desde as 2h46 (hora de Brasília) do dia 11, os dias foram encurtados em 1,8 microssegundo — unidade que equivale a um segundo dividido por um milhão. O Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia da Itália (INGV) assegura que o eixo de rotação do planeta deslocou-se quase 10 centímetros. “O impacto desse fato sobre o planeta foi muito maior que o do grande terremoto de Sumatra, em 2004, e provavelmente é o segundo maior, atrás apenas do terremoto do Chile de 1960”, explicou o órgão, por meio de comunicado.

Apesar de curiosa sob o ponto de vista científico, a mudança na duração dos dias é imperceptível. A cada ano, a duração de um dia (86,4 mil segundos) varia cerca de 1 milissegundo. “A rotação da Terra se modifica com frequência, principalmente em resposta às alterações na força e na direção dos ventos atmosféricos e das correntes oceânicas”, explicou o especialista da Nasa. Segundo Gross, as modificações provocadas por esses fenômenos são até 500 vezes maiores que as causadas por grandes terremotos. “As transformações induzidas por abalos sísmicos são bem pequenas e não podem ser sentidas”, observou.

Gross compara o efeito do terremoto ao comportamento de um pneu mal balanceado. “O planeta gira em torno de seu eixo de rotação, mas sua massa é balanceada pelo eixo-figura, algo como o centro de gravidade. Como a Terra não está rodando em volta do eixo-figura, ela balança”, acrescentou. No caso da Terra, os eixos de rotação e de figura são tão diferentes um do outro que a Terra não gira suavemente, mas, literalmente, sacode.

“O eixo-figura da Terra se moveu depois que o tremor rearranjou a massa do planeta”, explicou o cientista. Segundo as análises de pesquisadores, o eixo-figura se movimentou 17cm e 133 graus rumo à longitude Leste. O eixo Norte-Sul, que a cada dia gira a 1.604km/h, não sofre qualquer interferência de abalos sísmicos e está sujeito a ações apenas de forças externas, como a atração gravitacional do Sol, da Lua e de outros planetas.

Deformação O geofísico norte-americano Kenneth Hudnut, do instituto US Geological Survey (USGS), afirmou ao EM que o terremoto também provocou uma importante deformação na parte Norte de Honshu — a maior e mais populosa ilha do arquipélago japonês. “A área costeira foi deslocada para baixo antes da chegada do tsunami, de tal forma que a parte superior das barreiras de contenção do mar baixou levemente. Esse fator ajuda a entender por que o tsunami conseguiu superar as muralhas de proteção”, comentou. Ainda segundo Hudnut, a ilha se moveu cerca de 2,4m para frente.

A Autoridade de Informação Geoespacial do Japão detectou que o maior deslocamento para baixo (vertical) na costa Norte de Honshu foi de 70cm, a partir da cidade de Choshi, na província de Chiba. A mesma instituição descobriu uma ruptura de 400 quilômetros de comprimento por 10 quilômetros de profundidade na falha geológica responsável pelo terremoto.