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Estado de Minas

Cientistas descobrem formas de reconstrução óssea com células-tronco

Amostras são retiradas de tubas uterinas e de polpas de dente de leite. Testes em humanos podem ocorrer em cinco anos


postado em 22/03/2011 09:21

Geneticista Mayana Zatz participa do grupo de cientistas da USP, formado ainda por Maria Rita Passos-Bueno e Tatiana Jazedje(foto: EVELSON DE FREITAS/AE - 14/10/03 )
Geneticista Mayana Zatz participa do grupo de cientistas da USP, formado ainda por Maria Rita Passos-Bueno e Tatiana Jazedje (foto: EVELSON DE FREITAS/AE - 14/10/03 )
Apenas três anos se passaram desde que uma das equipes de cientistas do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (Cegh/USP) provou para o mundo, pela primeira vez, que a tuba uterina (antigamente chamada de trompa de Falópio) era uma fonte rica em células-tronco adultas mesenquimais (que podem se transformar em outros tecidos). No início do ano, a mesma equipe — liderada pelas geneticistas Maria Rita Passos-Bueno e Mayana Zatz e pela bióloga e doutora em ciências Tatiana Jazedje Costa e Silva — confirmou que esse tipo de material é capaz de reconstruir cartilagens, ossos e músculos lesionados do crânio de camundongos.

O próximo passo da pesquisa é tentar regenerar – inicialmente, também em animais – a tuba uterina, adianta ao Estado de Minas Tatiana Jazedje. Atualmente, ela se debruça sobre a compreensão dos segredos celulares do aparelho reprodutor feminino. “Acreditamos que as células-tronco de tuba uterina têm um papel importante para a manutenção do ambiente ideal para a fecundação e o desenvolvimento do embrião em fase inicial, até cinco dias antes da descida ao útero”, explica, referindo-se ao aprofundamento das pesquisas que relacionam infertilidade feminina a células-tronco da tuba. “Por enquanto, isso é uma hipótese”, adverte. O que intriga a bióloga e sua equipe é saber por que a tuba uterina é tão rica nessas células.

Outro campo de ação do Cegh/USP é a busca de correção de distrofias musculares, por enquanto em bichos, comenta Mayana Zatz, que coleciona várias e promissoras frentes de estudo nos laboratórios do centro – a maioria nas áreas de terapia celular, biologia molecular e de medicina regenerativa. “Quando se fala em regeneração óssea ou muscular, temos alcançado resultados muito bons e bastante animadores”, admite a pesquisadora, com segurança e certeza no futuro. Mas ela pondera quanto à necessidade de se ter cautela ao tratar o tema: “Tudo isso provoca muita esperança, é claro, mas temos de situar a parte prática dos estudos exclusivamente em animais, neste momento”, acrescenta. “Embora possamos pensar em testes em humanos num futuro breve.”

Nos experimentos do grupo de Mayana Zatz também foram usados moldes que servem de suporte para as células-tronco se fixarem antes de serem aplicadas nos modelos animais e que auxiliem no processo de ossificação. O próximo passo da pesquisa é submeter o trabalho à aprovação dos órgãos de regulamentação, como o Conselho Nacional de Ética em Pesquisas (Conep), para poder iniciar testes em pessoas.

Osteosporose

Uma das linhas de abordagem da pesquisa com células-tronco para regeneração óssea (e muscular) foi exatamente “testar várias fontes de células-tronco com elevado poder de diferenciação, retiradas do próprio organismo, capazes de acelerar a reconstrução de ossos que sofreram alguma fratura ou malformação, como ocorre com bebês que nascem com alterações craniofaciais”, descreve Mayana. “A técnica pretende assegurar eficiência também no tratamento de doenças, como a osteoporose, que causa a perda de massa óssea e aumenta a fragilidade dos ossos e o risco de fraturas.”

Entre as fontes de extração de células-tronco para cultivo e teste com animais, foram escolhidas polpa de dente de leite, tecido adiposo – descartado em cirurgias de lipoaspiração, por exemplo –, tecido muscular de lábio leporino e de tubas uterinas. "A vantagem dessa descoberta é que, como a osteoporose atinge majoritariamente mulheres idosas, devido a perdas hormonais, pode-se agora regenerar osso fraturado com recursos do próprio paciente", diz Mayana.

Prazos, perspectivas e avanços

O que incentiva um cientista na busca desenfreada por resultados, em qualquer área do conhecimento, é o jogo de erros e acertos e a oposição entre a dúvida e a certeza. Movida pela realidade dos avanços tecnológicos e das conquistas, rápidas, em várias etapas dos estudos da ciência atuais, a bióloga Tatiana Jazedje Costa Silva acredita que, num prazo de cinco a 10 anos, a reconstrução de ossos por terapia celular já será possível. “É uma visão muito pessoal. Mas, baseada no que vem ocorrendo hoje em dia, podemos trabalhar com esse prazo. Não seria exagero.”

Tatiana se refere, em particular, à regeneração de tubas uterinas com células-tronco do próprio órgão e à recomposição óssea — com células de polpa de dente de leite ou de outras fontes — para correção de alterações faciais em bebês e tratamento de osteoporose. “Há vários tipos de doenças ósseas que poderão ser beneficiadas com a terapia celular, sem dúvida alguma."

Cirurgia plástica

A verdade é que várias áreas da medicina estão em período experimental de aproveitamento de células-tronco. Duas das principais e mais consistentes experiências com seu uso diz respeito à formação de novos vasos sanguíneos a partir dessas células. Um trabalho pioneiro sobre revascularização de retalhos com células-tronco é coordenado pela equipe de Cirurgia Plástica da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre e já está aprovado pelo Conep.

No âmbito da cardiologia, equipe de médicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolve tratamento de cardiopatias, em parceria com o Hospital Pró-cardíaco, no Rio de Janeiro. Nesses estudos, foram realizados os transplantes de células-tronco adultas em 20 pacientes que aguardavam o transplante cardíaco. Do total de transplantados, 16 pacientes foram estudados por um longo prazo, demonstrando que a terapia celular trouxe consideráveis melhoras clínicas.

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