Guardem bem estes nomes: Carolina Maranhão, de 98 anos, e a um mês de completar 99; Laura Andrés Ribeiro Caram, de 91, e Maria Helena Andrés, de 88. Elas vão ensinar como chegar à longevidade suavemente, sem ficar pensando na morte o tempo inteiro, sem reclamar das dores, sem se assustar com as mudanças no corpo e no espírito. Elas vão mostrar que, na última etapa do crescimento humano, têm a oportunidade única de mergulhar nas profundezas do ser.
Para conhecer Carolina, Laura e Maria Helena Andrés, só marque a hora, porque quem conta o tempo são elas. O relógio das horas não interessa mais. Na casa de Carolina, é preciso ficar algum tempo na varanda do 7º andar do prédio onde mora, no alto da Avenida Afonso Pena. Junto com ela, a convidada vai chegar à janela enorme e admirar o que ela chama de “meu quintal particular”, árvores enormes que formam uma pequena floresta diante do olhos. “Veja a dança das árvores, elas dançam e conversam”, proclama a senhora que está quase chegando aos 100 anos, quando vê o vento balançando os galhos e as folhas das árvores.
Não se apressem, porque Carolina tem muito a conversar e a mostrar, desde a biblioteca com livros em português, francês e inglês até o computador estrategicamente colocado no seu quarto, ao lado das linhas de crochê e da manta que está tecendo para o batizado do bisneto. A convidada precisa ter tempo para a geleia de jabuticabas que ela acabou de preparar com torradas e café. Precisa percorrer as fotos de sua galeria particular com a família já criada e ouvi-la declarar: “Posso ficar sem comer, mas não fico sem ler”.Pessoas como Carolina, Laura e Maria Helena poderiam muito bem estar na dissertação de mestrado da professora de psicologia da PUC Minas Anna Cristina Pegoraro de Freitas sobre Espiritualidade e sentido de vida na velhice tardia. As três provam que a espiritualidade dá sentido à vida, principalmente na idade avançada. Uma espiritualidade exercida a cada amanhecer, quando os olhos se abrem e elas percebem que estão vivas e que tudo vale a pena. Desde o horizonte escancarado na janela da casa da artista plástica Maria Helena Andrés, no Retiro das Pedras, até o momento em que ela espalha as cores pelas telas para pintar mais um quadro. “Este é o meu jeito de meditar. É o meu deus interior”, garante ela, que é vegetariana, morou na Índia, tem um blog, uma espécie de diário de suas viagens externas e internas.
Em sua dissertação de mestrado, Cristina fala também da feminização da velhice. “São mais mulheres do que homens que chegam à idade avançada.” Na contagem feita em 2007 pelo IBGE em 5.435 municípios brasileiros, o número de idosos com mais de 100 anos era de 11.422, dos quais 7.950 eram mulheres e 3.473 homens. Prova disso é que Carolina, Laura e Maria Helena Andrés são viúvas.
Anna Cristina mostra que “estamos envelhecendo e atingindo a longevidade, mesmo que muitos não acreditem nessa realidade. É só prestar atenção nos dados: O Brasil está em franco envelhecimento populacional. Segundo o IBGE, em 2008 eram 30 velhos para cada 100 crianças. A projeção para 2050 é de 172 velhos para 100 crianças”. Quem sabe depois de ler essa reportagem, a gente aprenda que envelhecer não é um desastre, mas um processo natural da vida. E só não envelhece quem morre antes. Com Carolina, Laura e Maria Helena é preciso aprender que, quanto mais o corpo envelhece, mais o espírito se fortalece.