A velhice, até muito pouco tempo, era tida como algo humilhante e vergonhoso, um tabu que se tentava não falar, nem comentar. A escritora Simone de Beauvoir comenta em seu livro A velhice, escrito em 1970, que quando dizia que estava desenvolvendo um ensaio sobre a velhice quase sempre as pessoas exclamavam: ‘Que ideia! Mas você não é velha!. Que tema triste...’” Ela diz em seguida: “Aí está justamente por que escrevo: para quebrar a conspiração do silêncio”.
Esse é o texto de introdução da dissertação de mestrado em ciências da religião da PUC Minas de Anna Cristina Pegoraro de Freitas, de 54 anos, sobre Espiritualidade e sentido de vida na velhice tardia . Em quase 200 páginas, ela mostra o sentido de espiritualidade adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Espiritualidade é o conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material que pressupõem que há mais no viver do que pode ser percebido ou plenamente compreendido, remetendo o indivíduo a questões como o significado e o sentido da vida, não necessariamente a partir de uma crença ou prática religiosa. Reconhecendo sua importânica para a qualidade de vida, a OMS incluiu a espiritualidade no âmbito dos domínios que devem ser levados em conta na avaliação e promoção de saúde em todas as idades”, diz.
O interesse pelo envelhecimento da população sempre esteve presente na vida da psicóloga, mas aumentou com a doença da mãe. Professora da disciplina Psicologia da vida adulta à velhice nas quatro unidades da PUC Minas (Coração Eucarístico, Betim, Barreiro e Contagem), Anna Cristina coordena o projeto Mais idade com idosos, da Pró-reitoria de Extensão, e representa a universidade no Conselho Municipal do Idoso, da Secretaria Municipal de Saúde.
Vivência Convivendo com idosos tanto em casa como na PUC Minas, Anna Cristina começou a pesquisar até chegar à dissertação, que teve como objetivo principal “compreender como a vivência da espiritualidade influencia na elaboração do sentido de vida na velhice, utilizando-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa. Para embasar a análise, a revisão da literatura abordou os conceitos de velhice em diferentes momentos da história – e a velhice como um estágio do desenvolvimento humano.”
Na pesquisa empírica, os dados foram coletados por meio da história oral com oito mulheres entre 80 e 100 anos. “As narrativas geraram três temas principais: velhice, espiritualidade e sentido de vida, que foram desdobrados em categorias. A análise permitiu, em síntese, concluir que a espiritualidade se mostrou um fator fundamental para a elaboração do sentido de vida na velhice tardia. Sempre, em todas as dificuldades, a espiritualidade está presente como fator indispensável não só no enfrentamento das mesmas, como também – e principalmente – como colaboradora de sentido para suas vidas.”
Segundo ela, o grupo pesquisado também demonstrou que se pode viver uma velhice tardia com qualidade de vida, dependendo do estilo de cada um, da prática espiritual e da consciência temporal, ou seja, é possível manter uma vida com sentido.