Além da eficácia verificada nos experimentos iniciais, as substâncias demonstraram benefício adicional em relação aos fármacos disponíveis no mercado: a ausência de efeitos colaterais. “Os testes indicam que não há prejuízos para células de mamíferos”, revela o professor. O resultado já era esperado, uma vez que a formulação é extraída de fungo aprovado pelo Ministério da Saúde como complemento alimentar humano.
Como explica o professor Carlos Alberto Tavares, também autor da pesquisa, outra particularidade é que a medicação à base do cogumelo preserva o macrófago – a principal célula parasitada pela leishmania no hospedeiro mamífero. “O produto consegue agir diretamente sobre os parasitas dentro da célula hospedeira, sem que ocorra a ativação dos macrófagos parasitados.”
Protocolo doloroso
De modo geral, o tratamento das leishmanioses é feito com os chamados antimoniais pentavalentes, que causam toxicidade cardíaca, renal e hepática. “É um protocolo doloroso para o paciente”, esclarece Coelho. As aplicações do medicamento são feitas por via endovenosa ou intramuscular. “O tratamento é longo, durante o qual tem sido constatado aumento no número de casos de recaída. O paciente pode até apresentar cura clínica, porém, depois de algum tempo, volta a desenvolver a doença”, relata.
As formulações em teste na UFMG, que fazem parte da tese de doutorado de Diogo Valadares, não apresentam essa toxicidade e destinam-se ao uso oral, forma menos traumática para o paciente. O objetivo do grupo é desenvolver produtos para humanos e, sobretudo, cães, importante fonte de transmissão da doença.
Causada pelo protozoário leishmania, a doença circula principalmente na tríade inseto-cão-homem e se manifesta nas formas cutânea (tegumentar) e visceral (sistêmica). O tratamento no Brasil privilegia a manifestação visceral, devido à capacidade do parasita de migrar para diversos órgãos do corpo.
Dados do Ministério da Saúde mostram que Minas Gerais ocupa o segundo lugar no ranking do número de casos no Brasil. Entre 2009 e 2010, foram 1.232 ocorrências em humanos, com 132 mortes – 41% registradas em BH e região metropolitana. Pedido de patente para a nova formulação foi depositado em 2010, mas não há previsão para sua comercialização.