Jornal Estado de Minas

Cogumelo é eficaz contra leishmanioses

Formulações farmacêuticas produzidas com substâncias do extrato purificado do cogumelo-do-sol poderão tornar-se recurso diferenciado no tratamento das leishmanioses. A informação é de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da cooperativa Minasfungi do Brasil que, em parceria, estão testando novas formulações in vitro e em camundongos infectados pela doença.
“Depois do tratamento por via oral, animais infectados com a espécie Leishmania amazonensis apresentaram, em vários órgãos, redução mais acentuada do número de parasitas do que quando receberam medicamentos convencionais, como a anfotericina B”, diz o professor da UFMG, Eduardo Antonio Ferraz Coelho, um dos responsáveis pela pesquisa.

Além da eficácia verificada nos experimentos iniciais, as substâncias demonstraram benefício adicional em relação aos fármacos disponíveis no mercado: a ausência de efeitos colaterais. “Os testes indicam que não há prejuízos para células de mamíferos”, revela o professor. O resultado já era esperado, uma vez que a formulação é extraída de fungo aprovado pelo Ministério da Saúde como complemento alimentar humano.

Como explica o professor Carlos Alberto Tavares, também autor da pesquisa, outra particularidade é que a medicação à base do cogumelo preserva o macrófago – a principal célula parasitada pela leishmania no hospedeiro mamífero. “O produto consegue agir diretamente sobre os parasitas dentro da célula hospedeira, sem que ocorra a ativação dos macrófagos parasitados.”

Protocolo doloroso

De modo geral, o tratamento das leishmanioses é feito com os chamados antimoniais pentavalentes, que causam toxicidade cardíaca, renal e hepática. “É um protocolo doloroso para o paciente”, esclarece Coelho. As aplicações do medicamento são feitas por via endovenosa ou intramuscular. “O tratamento é longo, durante o qual tem sido constatado aumento no número de casos de recaída. O paciente pode até apresentar cura clínica, porém, depois de algum tempo, volta a desenvolver a doença”, relata.

As formulações em teste na UFMG, que fazem parte da tese de doutorado de Diogo Valadares, não apresentam essa toxicidade e destinam-se ao uso oral, forma menos traumática para o paciente. O objetivo do grupo é desenvolver produtos para humanos e, sobretudo, cães, importante fonte de transmissão da doença.

Causada pelo protozoário leishmania, a doença circula principalmente na tríade inseto-cão-homem e se manifesta nas formas cutânea (tegumentar) e visceral (sistêmica). O tratamento no Brasil privilegia a manifestação visceral, devido à capacidade do parasita de migrar para diversos órgãos do corpo.

Dados do Ministério da Saúde mostram que Minas Gerais ocupa o segundo lugar no ranking do número de casos no Brasil. Entre 2009 e 2010, foram 1.232 ocorrências em humanos, com 132 mortes – 41% registradas em BH e região metropolitana. Pedido de patente para a nova formulação foi depositado em 2010, mas não há previsão para sua comercialização.