Para realizar o experimento, a equipe de Litvin criou em laboratório uma espécie de jardim de infância, para o qual nenhum camundongo gostaria de ser mandado. Presa em uma gaiola de vidro, a cobaia era obrigada a conviver por 10 dias com animais mais velhos e maiores que ela – um rato diferente por dia. Como são territorialistas, assim que se viam dividindo o mesmo espaço os camundongos tendiam a se enfrentar, e a cobaia, em desvantagem, perdia a disputa invariavelmente.
Os pesquisadores permitiam que as brigas diárias durassem apenas 10 minutos. Depois desse tempo eles isolavam o camundongo maior em um cubículo de vidro, ainda dentro da gaiola. Dessa forma, o animal menor ainda podia ver, ouvir e sentir o cheiro do agressor, situação estressante para ele. Depois de viver sob esse tipo de pressão por 10 dias, a cobaia ganhava um dia de descanso e era levada então a uma outra jaula, onde passava a conviver com animais do mesmo tamanho ao seu.
Todos os animais que haviam passado pelo trauma do bullying apresentavam mudanças de comportamento nessa fase do experimento. “Descobrimos que, depois de passar dias sentindo-se derrotados e subjugados por outros animais, os camundongos ficaram relutantes em se aproximar de outros animais de sua espécie”, descreve Litvin em entrevista ao Estado de Minas, por e-mail.
Hormônio
Identificada a mudança comportamental, os pesquisadores partiram para uma análise do cérebro dos camundongos traumatizados. Primeiro, eles notaram que uma droga que inibia a ação de um hormônio chamado vasopressina era capaz de reduzir a ansiedade das cobaias. Depois, a equipe examinou os cérebros dos animais e notou que eles estavam mais sensíveis à ação do hormônio, que no ser humano está associado à agressão, ao estresse e a distúrbios de ansiedade. O aumento dos receptores de vasopressina foi notado especialmente na amígdala, área que pode ser descrita como o centro emocional do cérebro.
Para Litvin, essas mudanças no sistema cerebral podem ser a base da alteração comportamental surgida a partir de situações de estresse social crônico. “Os roedores estressados apresentaram mudanças na ativação de neurônios que estão relacionados com o controle da ansiedade e com a socialização. Essas mudanças podem ser a base de alguns dos efeitos comportamentais que surgem em situações como o bullying”, afirma.
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Bullying motivou 87% de ataques em escolas, diz estudo Novo código disciplinar proíbe trotes e bullying em escola do interior de MinasMas os indícios apontados pela pesquisa americana não surpreendem a médica psiquiatra e especialista em bullying Ana Beatriz Barbosa Silva. “Qualquer estresse leva a mudanças de comportamento e promovem a liberação de uma série de substâncias químicas”, diz a autora do livro Bullying: mentes perigosas nas escolas (Objetiva). No caso do bullying, ela ressalta que a situação tende a ser mais grave porque o estresse pode se prolongar, tornando-se crônico. “Como a criança normalmente não conta a ninguém o que está sofrendo, a situação pode seguir por um ou dois anos. A amígdala cerebral fica mesmo hiperfuncionante e passa a sinalizar perigos que às vezes não existem”, completa.