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Estado de Minas

Mememania - Como uma coisa leva à outra

Expressão da cultura do remix na internet, vídeos e montagens de fotos dão origem a modinhas na rede e marcam a maneira como a comunicação se dá em mídias sociais


postado em 12/05/2011 12:20 / atualizado em 12/05/2011 19:04

Como na rede a agilidade dita o ritmo, Bia Granja defende registro histórico dessas expressões da cultura de internet(foto: Edu César/Divulgação)
Como na rede a agilidade dita o ritmo, Bia Granja defende registro histórico dessas expressões da cultura de internet (foto: Edu César/Divulgação)
Piadinhas e referências que estariam condenadas ao limbo de timelines em atualização frenética já têm, agora, um catálogo digno. A memepédia brasileira, organizada por enquanto como um canal no site Youpix (youpix.com.br/memepedia), promete pôr ordem na casa e explicar, na medida do possível, as febres que, de uma hora para outra, marcam a maneira como as pessoas se comunicam nas mídias sociais. “Hoje um trending topic (item na lista de assuntos mais comentados no Twitter) fica no ar, geralmente, por 11 minutos. Então faz sentido ter um registro histórico dessas expressões da cultura de internet”, explica Bia Granja, editora do site.

Ela reconhece que isso talvez não seja exatamente o que “os intelectuais” (aspas dela) chamem de cultura, mas para Bia, não há dúvida: “Criticar os memes é misturar alhos com bugalhos. Eles são uma manifestação clara da vontade das pessoas usarem a internet para se divertir e celebrar gírias de um universo super rico e bem humorado, como é a web brasileira”. Nesse balaio de gato, não confundir virais com memes é importante. “O vídeo da Rebecca Black (ver quadro) é um viral, mas quando as pessoas editam e pegam só aquela parte do cereal e repetem isso em gifs animados que entram nas conversas no MSN, ou em citações aleatórias, transformam esse trechinho em um meme”.

Para a professora Ana Elisa Ribeiro, as falhas de concordância verbal nos posts demonstram consciência e não ignorância de quem faz a piada
Para a professora Ana Elisa Ribeiro, as falhas de concordância verbal nos posts demonstram consciência e não ignorância de quem faz a piada
O remix, então, é essencial ao universo dos memes. Eles se modificam e dão origem a outros memes. É assim que a piada “Fica, vai ter bolo”, encorajada no tumblr ficavaiterbolo.com já virou “Fica, vai ter buylling”, ou “Fica, vai ter (qualquer outra coisa que você quiser inserir aqui)”. Na origem, a brincadeira era uma das comunidades inúteis do Orkut, inspirada pela frase célebre dita em quase toda festa de aniversário para impedir a despedida de convidados apressadinhos. Recentemente, os personagens de Twitter @nairbello e @hebecamargo criaram o tumblr com o tema, e recebem montagens diversas de imagens em que a frase é inserida, dando um novo contexto a tudo. Essa técnica, aliás, é a base para a criação dos memes norte-americanos considerados precursores da prática.

O publicitário e animador Carlos Filizola, autor do blog Extrupixel, confessa uma sensação de pertencimento quando vê, pichada em um muro, a frase “Ahã, senta lá, Cláudia”. Foi Carlos o criador do vídeo Ambição perigosa: a morte da Xuxa, em que ele reeditou vários trechos do Clube da Criança, programa da apresentadora na extinta TV Manchete. De um trecho em que a loira, impaciente, ordenava que uma criancinha chamada Cláudia parasse de importunar, surgiu o meme, que atravessa muitas conversas na web. “Ter as mesmas referências aproxima as pessoas”, diz Carlos.

O criador e a criatura: o publicitário Carlos Extrupixel...<br>... e Xuxa, no vídeo que ele editou:
O criador e a criatura: o publicitário Carlos Extrupixel...
... e Xuxa, no vídeo que ele editou: "Ahã, senta lá, Cláudia!"
(foto: Arquivo pessoal)
Já Fransuel Nascimento, o responsável pela memepédia, definido por Bia como um “agitador wébico”, ressalta a diferença crucial entre meme e piada interna: “Memes nascem com um contexto bem definido, mas não dependem do próprio contexto para se espalhar. Por isso, viralizam rápido e as pessoas não sabem de onde eles surgem, justamente porque independem do contexto. A piada interna não, ela morre porque depende da contextualização para ser interpretada”.

Por isso, uma das ideias da memepedia é justamente abrir o código àqueles que ainda não entenderam muito bem do que se trata esse amontoado de frases e piadinhas, a princípio, herméticas. “É muito parecido com o universo das gírias. Quando eu entrei no Twitter, por exemplo, não entendia nada daquela maneira como as pessoas se comunicavam ali”, admite a professora Ana Elisa Ribeiro, do mestrado em estudos de linguagens do Cefet. Ana não concorda com
(foto: Reprodução do Youtube - 10/05/2010)
(foto: Reprodução do Youtube - 10/05/2010)
“a turma que horroriza com isso” e entende que os usos dos memes, mesmo quando massacram a língua portuguesa, são muito fortes.

“A maioria das pessoas que escreve ‘todos chora’, ‘todos ri’ sabe que aquilo está errado, a brincadeira dispensa a concordância ali, naquele contexto”, diz a professora. Seria, nas palavras dela, “uma espécie de permissão, de licença poética, justamente porque entendemos o uso correto daquilo”. Ana conclui: “Ao contrário do que muita gente diz, esses usos são metalinguagem, o que demonstra consciência e não ignorância”.

 


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