Desde seu início, há 200 anos, a paleontologia tem o objetivo de remontar o passado. Graças aos estudos dos fósseis, hoje é possível recriar animais inteiros – extintos há mais de 150 milhões de anos –, seu hábitat, suas linhagens e até mesmo seu comportamento. Mesmo com todo esse avanço, uma lacuna ainda se encontra aberta: ninguém consegue dizer com precisão que cores tinham esses animais. Essa certeza, no entanto, pode estar prestes a surgir. A partir de uma técnica que envolve alta tecnologia de raios vai ser possível determinar a cor das penas e da pele de animais pré-históricos e, assim, criar um cenário mais fiel dos seres na época em que os dinossauros dominavam a Terra.
O mapeamento, porém, revelou uma grande quantidade de cobre espalhado nas regiões do fóssil correspondentes às pernas e peito da ave, que eram do tamanho de um corvo e se parecia muito com o mergulhão, que tem penas pretas e bico longo para pescar peixes. A reconstrução feita pelos cientistas indica uma gradação delicada de claroeescuro, com o peito mais preto e as pontas das asas esbranquiçadas.
“Na verdade, o exame não mostra cor, ele diz onde o animal teve a eumelanina (responsável pelas coresmarromepreta), expondo onde estão os tons de claro e escuro”, explica o geoquímico. Para se certificar que o cobre no fóssil significava a cor que a ave tinha, os pesquisadores compararam a distribuição do metal nos pássaros modernos. O resultado foi semelhante.
DESAFIO
O uso da luz síncroton foi de extrema importância para a descoberta da distribuição do cobre no fóssil porque fornece um tipo de radiação ideal para fazer simulações como essa. Com a sua aplicação, os cientistas conseguem identificar se o átomo era de cobre ou de zinco. “Dessa forma, os pesquisadores conseguiram identificar que o cobre fazia de fato parte da eumelanina desses animais”, explica Antônio José Roque da Silva, diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), em Campinas.
Antes da pesquisa, o estudo que havia chegado mais próximo de revelar a cor dos fósseis em vida tinha encontrado meanossomas (uma espécie de bolsa que fabricava e armazenava os pigmentos de melanina) já vazias. “De vez em quando temos a sorte de descobrir algo novo. Para mim, o aprendizado de que o cobre pode ser mapeado para revelar detalhes sobre a cor em animais de 100 milhões de anos atrás é simplesmente incrível. Mais surpreendente ainda é perceber que esses pigmentos agora podem ser estudado sem registro fóssil”, disse o autor da pesquisa.