Jornal Estado de Minas

Casa saudável requer harmonia de corpo, vestuário, morada, cidade e planeta

Déa Januzzi
Pense nas cinco casas que devem estar limpas, harmônicas, saudáveis física e espiritualmente: corpo, vestuário, morada, cidade e planeta Terra. Não basta cuidar apenas de uma, pois todas se interrelacionam. O arquiteto Carlos Solano, por exemplo, ensina os cuidados com as cinco casas. Nos cursos sobre a casa natural, ele aborda três vertentes. Uma delas é a sabedoria popular das benzedeiras, dos erveiros e raizeiros. Colunista da revista Bons Fluidos durante oito anos, ele aprendeu receitas de como purificar e abençoar o ambiente. “O receituário das benzedeiras não é muito considerado nem tão conhecido dos brasileiros, mas está diante dos olhos para quem quiser aprender”, explica o arquiteto.
Uma outra abordagem do curso são as terapias da casa, que também vem investigando há tempos e que incluem as técnicas do feng shui. A terceira é a ecologia e bem-estar (veja quadro). “Cada uma delas é um universo, mas todos sabem hoje que não é mais possível ter bem-estar sem uma postura minimamente ecológica. A gente começa a perceber que os hábitos coletivos estão causando um grande estrago à nossa casa maior, que é o planeta.”

De todas as casas, Solano aponta o planeta Terra como a mais significativa, mas, para a maioria das pessoas, é a mais distante. “Você pode mudar de residência, de endereço se não estiver satisfeito, mas não pode mudar de planeta. Para alcançar bem-estar no mundo, é preciso seguir a filosofia do cuidado com as cinco casas. Cuidar delas é uma postura que deve ser incluída no processo da vida diária”, diz.

Um hábito dentro de sua residência, por exemplo, reflete na cidade e no mundo. “É preciso pensar que a casa está enraizada na cidade, por meio das tubulações, da fiação e do lixo. Esses são caminhos que relacionam a casa com a cidade”, explica Solano. Ele pede que cada um pense: “O que você joga para a cidade, a partir dos ralos de sua casa? Uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que às vezes, os ares da casa estão mais poluídos do que o das ruas, por causa dos produtos de limpeza usados continuamente e que descem pelo esgoto”.

Sabe aquele cheirinho de limpeza que as pessoas tanto apreciam? Vem dos produtos usados em casa para a faxina pesada. “Muitas vezes são produtos à base de cloro, cuja exalação é tóxica, e descem pelos ralos, afetando o meio ambiente. As pessoas vão respirando esses produtos tóxicos, principalmente no inverno, quando as janelas ficam mais tempo fechadas. Sem contar que no ar da casa ficam também a poeira, o mofo, o ar-condicionado etc.”

Limpa tudo Substituir alguns produtos de limpeza por outros preparados em casa é uma das soluções apresentadas pelo arquiteto. O limpa tudo caseiro é fácil de fazer: meio litro de água, quatro colheres de vinagre branco comum, duas colheres de chá de bicarbonato de sódio e gotinhas de limão. “É um supercuringa da limpeza caseira, uma forma simples e econômica, pois ajuda na remoção das gorduras e desinfeta. O vinagre é um ácido. Se não tiver limão, use erva cidreira ou eucalipto. Para dar espuma, é só acrescentar um pouquinho de detergente biodegradável. É só ler no rótulo. O vinagre pode ser usado para eliminar odores da casa, manchas. Se a geladeira está com mau cheiro, ponha um copinho com vinagre.”

Ecologia e bem-estar

É importante que as pessoas se conscientizem que não é mais possível sentir bem-estar no mundo sem uma postura mais cuidadosa com o outro e com o meio no qual vivemos. "Precisamos olhar o caos mundial e decidir não ser parte dele, mas ser parte da resposta", disse Eilleen Caddy, cofundadora de Findhorn, ecovila escocesa. Casa saudável ou ecológica tem de ser a casa de todo dia e não uma casa ideal. Veja algumas outras dicas importantes para construir uma casa ponte para um mundo melhor:

Reduzir ou substituir o consumo de carne (a criação de gado é hoje a maior causa do desmatamento). A implicação da devastação sobre o clima do planeta trará repercussões inimagináveis sobre a vida do ser humano: desertificação de grandes áreas (o que vai atingir o Sudeste do Brasil), mudança drástica de clima, escassez de água e alimentos. Quando ingerimos carne, comemos também um pedaço da floresta.

Consumir menos (em geral) e reciclar mais. Um dos grandes desafios atuais do planeta é o nosso consumo excessivo (as reservas estão se esgotando) e o desperdício (o planeta também não consegue mais digerir o lixo que geramos)

Reciclar o lixo (o interessado pode pedir à prefeitura de BH para instalar um posto de coleta de lixo reciclado no seu bairro).

Economizar água. A água potável é 1% de toda a água da superfície da Terra e boa parte já está poluída. É importante evitar varrer a calçada com mangueira.
Outro grande desafio que o planeta enfrenta é a superpopulação, em uma época em que os recursos naturais estão ameaçados. Segundo uma estatística, 25 mil crianças morrem de fome no mundo por dia. É preciso pensar bem antes de por uma criança no mundo. Uma solução urgente é o cuidado/a adoção das crianças carentes e sem pais.

Estimular uma cultura de paz na própria vida, na família, na sociedade em geral. A Universidade Holística da Paz (Unipaz) e o Centro de Ecologia Integral (CEI) promovem bons cursos e têm publicações on-line sobre o assunto.