Para a neurocientista, o riso saudável e verdadeiro está ligado a atitudes e sentimentos positivos. Ela pondera que os mais sérios não são, necessariamente, infelizes e depressivos. Quem nutre pensamentos negativos, no entanto, costuma ser mais vulnerável a doenças físicas e emocionais. “O riso, de certa forma, tem poder preventivo. É essencial para transformarmos tristeza em alegria. Rir é contagioso, está cientificamente comprovado”.
De acordo com o clínico geral Eduardo Lambert, homeopata e autor do livro A terapia do riso: a cura pela alegria (Pensamento), o sorriso e a risada são tão importantes ao ser humano que a terapia do riso vem sendo administrada em hospitais como um tratamento complementar, possibilitando uma redução de cerca de 30% no tempo de internação de pacientes. “O riso estimula a contração de 28 músculos faciais, ativa no cérebro a produção de endorfina e serotonina (substâncias antidepressivas que dão a sensação de relaxamento e bem-estar). São os hormônios da felicidade”, assegura.
Uma boa risada promove uma espécie de tremor que se propaga para o abdome. Tal vibração atinge o corpo como uma onda de alívio. “O bem-estar físico é evidente. Todos os órgãos são beneficiados com a química do sorriso. Isso nos protege de males físicos e psicológicos”, afirma. Quanto aos tipos de riso, Lambert sustenta que existem tantos quanto são as variações de personalidade.
Eles vão desde o sorriso ao riso aberto, do riso quebra-gelo ao riso amarelo, até a gargalhada. “A diferença principal está na intensidade. Quanto mais intenso, maior a síntese de endorfina, maior o relaxamento dos músculos e vasos e melhor será a proteção contra infartos e derrames cerebrais”, avalia.
Mas, afinal, o que é contagioso, a risada ou a felicidade implícita nela? O psicólogo Esdras Guerreiro Vasconcellos, professor de pós-graduação em psicologia clínica da Universidade de São Paulo (USP), esclarece. “O riso verdadeiro sempre tem uma centelha de felicidade, ainda que seja uma manifestação curta e que as pessoas não estejam conscientes dessa alegria. A gargalhada é o riso maximizado e produz ainda mais benefícios. Ela mexe com corpo e alma”, resume.
Ranking do humor O psicólogo defende que o riso tem efeito imunológico e lembra um registro da literatura médica. Um paciente norte-americano diagnosticado com câncer avançado e sem perspectivas de vida resolveu gastar seus últimos meses de vida assistindo a filmes cômicos. “Ao final desse período, os médicos verificaram que a doença tinha recuado. Não nos restam dúvidas: riso e a terapia do riso complementam tratamentos alopáticos”, garante.
Vasconcellos acrescenta que alguns povos são mais predispostos ao sorriso. O brasileiro está bem colocado no ranking sorridente. “Estudos sugerem que a população dos países de clima tropical ri mais. Somos um povo bem servido nesse aspecto. A interação dos benefícios psíquicos e biológicos de risadas e gargalhadas vem sendo cada dia mais pesquisada pela ciência”, salienta. Mas é o calor humano que muda a realidade de quem está convalescendo em um hospital.
Os momentos tristes da pequena Daniele Lima Fonseca, de 5 anos, receberam alta assim que uma equipe de médicas integrantes do grupo Doutoras Música e Riso, criado em Brasília (DF), entraram no quarto em que ela está internada há 60 dias. “O sorriso da minha neta faz a gente esquecer a tristeza de ver uma criança tão cheia de vida doente. Ele traz a esperança de que tudo vai ficar bem, de que a doença será superada”, diz Eva Ventura Fonseca, de 54, que também não escondeu as risadas diante das palhaçadas direcionadas a Daniele.
Para a vice-presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, Raquel Pitchon, que também é coordenadora científica do setor de pediatria do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, o riso é considerado pela área médica infantil parte do tratamento de um paciente. "A hospitalização de crianças e adolescentes tem impactos negativos, como o estresse, a depressão e outras questões emocionais. Tudo aquilo que é lazer e mexe com o lado lúdico desses enfermos é benéfico para eles", diz, lembrando que em Minas, as brinquedotecas são obrigatórias na rede hospitalar pública como forma de ajudar a melhorar o quadro dos pacientes. "Já foi comprovado o bem que essa humanização faz ao tratamento. O riso favorece a recuperação e, quanto mais houver ações desse tipo, mais conseguiremos diminuir a ansiedade, o estresse e outros sentimentos gerados pelas doenças e pela hospitalização", aposta.
A trupe Doutoras Música e Riso, a exemplo do grupo Doutores da Alegria, que deu início a esse tipo de projeto no país, na década de 1990, só consegue levar alegria aos hospitais porque tem patrocínio da Petrobras. “Subvertemos a ordem e a realidade de um ambiente que geralmente é sério, frio e triste. Nem sempre podemos ganhar uma gargalhada esfuziante do paciente, mas um olhar mais alegre já demonstra que nosso objetivo foi alcançado”, relata a atriz e palhaça Antônia Vilarinho, de 49 anos, coordenadora do grupo. O projeto mantém parceria com Le rire médecin, grupo francês que reúne palhaços profissionais que atuam em 14 hospitais da França e cuja missão é devolver às crianças doentes a capacidade de sorrir e brincar. (Colaborou Luciane Evans)