Uma alimentação sem glúten, obrigatória para o portador de doença celíaca, está, cada vez mais, fazendo a cabeça de pessoas que querem apenas ganhar disposição e qualidade de vida. Entre as vantagens de eliminar essa proteína da dieta, os especialistas citam diminuição do desconforto provocado por inchaço abdominal , melhora do humor, aumento dos níveis de energia e vitalidade, redução de enxaquecas e dores de cabeça, além de perda de peso e o fim de problemas relacionados ao trato digestivo.
Benefícios que a design Paula Câmara, de 43 anos, conhece bem. Há sete meses sem consumir produtos com glúten, ela perdeu oito quilos, se livrou das alergias de pele e afirma que está muito mais animada e de bem com a vida. “Inicialmente, meu foco foi o emagrecimento. No entanto, percebi que uma alimentação sem glúten gera mais conforto e bem-estar. Foi difícil me adaptar nos três primeiros meses. Mas, agora, já me acostumei e nem penso em voltar a comer as versões tradicionais dos alimentos”, antecipa.
No quesito perda de peso, a alimentação sem glúten está sendo objeto de estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Recentemente, a nutricionista Fabíola Pires, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), decidiu buscar respostas científicas para a questão. Em sua dissertação sobre os efeitos da exclusão dietética do glúten de trigo em modelo experimental de obesidade, constatou que os animais tratados com glúten ganharam 25% de peso corporal se comparados aos que fizeram dieta sem a proteína. “Os dois grupos eram tratados de forma idêntica, com comida rica em gorduras, como ocorre com a alimentação de obesos humanos, só que uma delas tinha glúten de trigo e a outra não", explica.
O grupo que não ingeriu glúten apresentou menor ganho de adiposidade – gordura – na região abdominal, além de melhor sensibilidade à ação da insulina, hormônio importante na manutenção de índices glicêmicos estáveis. Mas o melhor resultado foi em relação ao ganho de gordura abdominal: 33% maior nos animais que consumiram o glúten.
Depois dessa constatação, Fabíola avançou nos estudos e descobriu os mecanismos que contribuem para que o ganho de peso seja menor nos que não consumiam o glúten. “Sem a proteína, os animais investigados oxidaram mais ácidos graxos para formar energia, ou seja, gastaram mais calorias. Outro ponto importante foi a atenuação de processos inflamatórios, comuns na obesidade. Inflamando menos, a sensibilidade à ação da insulina aumenta”, diz.
Depois do estudo feito em camundongos, Fabíola tem boas expectativas para reproduzir a mesma experiência em humanos. Contudo, ela adverte que embora possa trazer benefícios no que tange à perda de peso, uma dieta sem glúten, por si só, não leva ao emagrecimento. “Esse benefício deve vir junto com a mudança de estilo de vida", afirma.
MAIS DISPOSIÇÃO
Embora os estudos sobra a abstinência ao glúten ainda sejam novos, muitos adeptos da dieta associam a ausência da proteína ao ganho de disposição, como é o caso do tenista sérvio Novak Djokovic. No ano passado, ele descobriu que tinha alergia ao glúten e passou a fazer dieta específica. Ele afirma que se sente muito melhor com o novo regime alimentar. Coincidência ou não, o fato é que na temporada de 2011 sua resistência e condicionamento físico melhoraram bastante, acumulando a marca de nove títulos e mais de 50 vitórias.
Mas fazer dieta sem glúten requer empenho, como afirma a empresária Daniela Lara, de 34, portadora de intolerância ao glúten. Muitos alimentos podem apresentar esse nutriente que, além da farinha de trigo, cevada, aveia e centeio, é encontrado em queijos fundidos, achocolatados, congelados como almôndegas, sorvetes, molhos, entre outros. Contudo, as opções sem a proteína estão crescendo e hoje é mais comum encontrar produtos feitos à base de farinha de arroz, mandioca, milho e fécula de batata. Entre as opções mais interessantes estão a quinoa, um cereal rico em aminoácidos, fibras e vitaminas, e o amaranto, um grão nutricionalmente poderoso e que também não contém glúten.
“Tive síndrome do intestino irritável e, de uma hora para outra, precisei deixar de consumir a proteína. Era muito difícil encontrar produtos. Além da pouca variedade, eles eram pouco saborosos”, afirma. Segundo ela, que acabou assumindo uma loja especializada em produtos sem glúten, esse segmento vem crescendo e hoje é mais comum encontrar opções saborosas e com bom padrão de qualidade. “Se compararmos com o mercado de alimentação sem restrições, a procura por produtos sem glúten ainda é pequena. Mas percebemos no dia a dia da loja que, cada vez mais, pessoas viram adeptas da alimentação livre da proteína. E não são apenas os celíacos. É comum clientes que procuram a Empório Nutri em busca de opções para uma refeição saudável sem abrir mão do sabor”, ressalta.
SAIBA MAIS
Doença celíaca
De difícil diagnóstico e ainda pouco conhecida pela população, a doença celíaca é um problema autoimune e determinado geneticamente. Está presente em uma a cada 214 pessoas. A substância tóxica está presente no trigo, na aveia, no centeio e na cevada (malte). O mecanismo de ação capaz de desencadear a intolerância ao glúten ainda não está claro para a ciência. Contudo, o efeito que provoca no organismo dos celíacos é bem conhecido. Ao ser ingerido, o glúten é quebrado e a gliadina, principal causadora da doença, desencadeia todo o processo de lesão das vilosidades do intestino delgado, revestimento responsável por ampliar a área de absorção de nutrientes. Depois de ultrapassar a parede do intestino ela desencadeia um processo inflamatório com liberação de substâncias que causam a lesão intestinal. Os sintomas são diversos e vão desde os clássicos, como diarreia e vômitos na infância, até osteoporose