Meia hora antes, o nome do norte-americano Saul Perlmutter tinha sido pronunciado em Estocolmo por Staffan Normark, secretário permanente da Academia Real das Ciências da Suécia. Às 7h15 (hora de Brasília), o Estado de Minas telefonou para o novo Nobel de Física. A mulher de Perlmutter atendeu à ligação e explicou que o marido falava naquele exato momento com o Comitê Nobel e recebia a confirmação do prêmio. Depois de cerca de 10 minutos de espera na linha, uma sonora gargalhada do cientista do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia, marcou o início da entrevista. “Eu estou surpreendentemente bem”, saudou, enquanto ria.
O senhor esperava receber o Nobel de Física? Qual foi sua reação ao receber o telefonema do Comitê Nobel?
(Risos) Ninguém espera ganhar o Nobel. Foi um ótimo momento! Nosso estudo foi um experimento divertido, um projeto divertido. E eu imaginava que, em breve, o mundo inteiro gostaria de ouvir sobre ele. Nesse sentido, acho que a escolha do Comitê Nobel foi boa. Muitas culturas diferentes têm trabalhado juntas para tentar entender como a cosmologia funciona. Nesse sentido, (o prêmio) é muito agradável.
Quando o senhor começou seus estudos nessa área e em que momento surgiram os primeiros resultados?
O Projeto de Cosmologia Supernova surgiu de um projeto menor, que fiz com meu assessor de pesquisa, Richard Muller, em 1987.
Como foi possível perceber que o universo está em expansão acelerada, por meio da observação das supernovas?
As supernovas são ferramentas incrivelmente úteis para realizar medições. Isso porque elas são tão brilhantes que você consegue vê-las a uma distância muito grande. Há um tipo de supernova que pode ser reconhecida justamente pelo fato de ela ser muito brilhante, com base em seus padrões espectrais. Ela é chamada supernova Ia. Se você sabe o quanto brilhante ela é, então sabe a distância a que ela se encontra. É uma ferramenta de medição, porque a supernova pode nos informar a distância. Até o momento, nossa equipe descobriu 42 supernovas.
O que mudou no conceito do universo após a descoberta dessas supernovas?
Nós imaginávamos que o universo estivesse se desacelerando, porque toda a gravidade tende a isso. Em vez disso, percebemos que ele estava aumentando sua velocidade de expansão. E isso foi uma surpresa imensa, que ainda estamos tentando compreender. Desde então, temos utilizado diferentes técnicas para entender a razão dessa aceleração.
O universo está em constante expansão?
Sim. Soubemos por meio do astrônomo Edwin Hubble (1880-1953) que o universo está em constante expansão. Mas imaginávamos que ele estivesse em desaceleração, e não aumentando sua velocidade. O supertelescópio espacial Hubble também foi um dos muitos instrumentos que utilizamos em nossas pesquisas. Também usamos os telescópios no Chile, nas Ilhas Canárias, no Havaí e em dois pontos nos Estados Unidos. Usamos telescópios de todo o mundo.
Qual é o fator responsável por essa expansão acelerada?
Nós ainda estamos tentando descobrir isso. Mas pode ser uma nova forma de energia que se espalha por todo o universo. As pessoas a chamam de energia escura.
No entanto, ainda não sabemos do que se trata.
Sua pesquisa pode indicar novas descobertas para a humanidade?
Nosso estudo abre espaço para questionarmos o cerne da física do universo. Agora entendemos uma nova parte da física que não tínhamos a chance de explorar antes. Esta geração tem a chance de descobrir por inteiro um novo mistério.
Como sua vida deve mudar após o anúncio do Nobel de Física?
Oh… (risos) Difícil saber… Espero que eu tenha mais chance de falar com mais pessoas sobre ciência.
O que o senhor diria aos jovens cientistas que um dia sonham com o mesmo prêmio?
Acho que a mensagem desse trabalho em particular é que o mundo é repleto de surpresas maravilhosas. Você tem que ir lá fora, aprender a ciência e tentar ser o próximo a fazer uma descoberta.