Jornal Estado de Minas

Nasa encontra o primeiro planeta habitável

Nasa anuncia primeiro astro que pode ser habitável fora do Sistema Solar, o Kepler-22b: é maior que a Terra, está distante 600 anos-luz e tem órbita de 290 dias ao redor de sua estrela

Max Miliano Melo

 

Brasília – Existiria outro lugar semelhante à Terra? A resposta para esse questionamento que intriga cientistas, filósofos e pensadores ao longo de milênios pode estar mais próxima do que nunca. Cientistas da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, anunciaram ontem a localização de uma verdadeira joia do céu: o Kepler 22-b. Trata-se de um planeta como nenhum outro, ou melhor, comparável apenas à Terra. O novo corpo celeste tem dimensões medianas e está localizado na chamada zona habitável de uma estrela, ou seja, a uma distância nem muito pequena (a ponto de ser extremamente quente) nem muito grande (o que o tornaria frio demais).

Esta é a primeira vez que um planeta preenche tantos requisitos necessários para abrigar vida. Além de sua posição, o Kepler-22b tem um tamanho relativamente parecido com o da Terra, com raio apenas 2,5 vezes maior. Isso significa que há possibilidade de sua gravidade ser suficiente para a sobrevivência de seres vivos. "A sorte sorriu para nós e detectamos esse planeta", afirmou, em um comunicado, entusiasmado William Borucki, principal pesquisador do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa.

O corpo celeste está entre as constelações de Cisne e Lira, orbitando uma estrela tipo G, semelhante ao Sol, o que aumenta as chances de existência de vida. Outra semelhança com a Terra é o tempo que o Kepler 22-b demora para completar uma volta ao redor da estrela. O novo planeta gasta 290 dias para percorrer o caminho, apenas 75 dias a menos que o ano terrestre. Essas e outras questões só foram possíveis de ser observadas com a ajuda de um dos mais poderosos olhos humanos no espaço, o telescópio Kepler, observatório norte-americano de cerca de 1t que envia imagens do espaço profundo para a Terra desde 2009.

Os cientistas, no entanto, ainda não sabem alguns detalhes importantes sobre a composição de Kepler-22b. Antes de sonhar em encontrar água, fator essencial para a existência de vida, será preciso descobrir se ele é rochoso, como a Terra e Marte, ou gasoso, como Júpiter e Saturno. De 54 planetas candidatos a serem uma "segunda Terra", esse é o primeiro a ser confirmado. "O primeiro trânsito (do planeta) foi observado apenas três dias depois de termos declarado o início das observações nessa área do espaço", disse Borucki. Para confirmar a existência, são necessárias no mínimo três observações. A visualização decisiva aconteceu no fim do ano passado.
O novo corpo celeste tem dimensões medianas e está localizado na chamada zona habitável de uma estrela, ou seja, a uma distância nem muito pequena (a ponto de ser extremamente quente) nem muito grande (o que o tornaria frio demais) - Foto: HO / NASA / AFP
Marco

Para descobrir mais detalhes sobre o fascinante planeta, os cientistas têm, literalmente, um longo caminho pela frente. Isso porque a novidade espacial está a aproximadamente 5,68 quatrilhões de quilômetros da Terra. Essa é a distância equivalente a cerca de 140 bilhões de voltas sobre a Linha do Equador ou 380 mil viagens entre a Terra e o Sol. "Este é um marco importante no caminho para encontrar um planeta gêmeo terrestre", declarou em comunicado à imprensa Douglas Hudgins, cientista da missão. "Os resultados do telescópio Kepler continuam a mostrar a importância das missões científicas da Nasa, que visam a responder algumas das maiores questões sobre nosso lugar no Universo", completou.

Além do planeta anunciado hoje, o telescópio ainda tem uma árdua missão até ser desativado, em 2013: fornecer imagens de 2.326 possíveis planetas. Desses, 207 são aproximadamente do tamanho da Terra, 680 são "superTerras", ou seja, têm dimensões ligeiramente maiores que nosso planeta, 1.181 são do tamanho de Netuno, 203 são semelhantes à Júpiter e 55, gigantescos.

Desde o início de 2011, quando a última versão do catálogo do gênero foi lançado, o número de candidatos a planetas cresceu 89%. "O enorme crescimento no número de planetas candidatos nos diz que estamos aprimorando a maneira como o telescópio foi desenhado para detectar planetas, não apenas os do tamanho da Terra, mas também aqueles que não são potencialmente habitáveis", afirmou Natalie Batalha, vice-líder do projeto e pesquisadora da Universidade Estadual San Jose, na Califórnia "Quanto mais dados coletarmos, mais aguçado se torna o nosso olhar."

Confirmação
Para encontrar novos planetas, o telescópio Kepler monitora o brilho de cerca de 150 mil estrelas. Quando um corpo passa entre a estrela e a Terra, surge uma minúsculo sombra, que indica aos cientistas que ali pode existir um possível planeta (candidato). Somente quando esses microeclipses são detectados pela terceira vez é que a presença do corpo celeste é confirmada.