Oráculo do novo ano
O Gartner, instituto de consultoria web, lançou previsões para 2012 relativas ao uso da internet. De acordo com a empresa, há uma bolha de investimentos prestes a explodir na área das redes sociais. As tendências apontam também o crescimento da computação em nuvem. Até 2016, cerca de 50% das maiores companhias mundiais vão armazenar seus dados na nuvem. “Os usuários vão usar seus próprios aparelhos no ambiente de trabalho”, explica Daryl Plummer, vice-presidente-executivo do Gartner. Os projetos para desenvolvimento de aplicativos em dispositivos móveis serão quatro vezes maiores que os destinados aos PCs. Com esse turbilhão de dados sendo armazenados virtualmente, será preciso investir em segurança. Mesmo porque, ainda segundo o órgão, vulnerabilidades dos sistemas serão descobertas por cibercriminosos e isso trará um impacto financeiro de até 10% ao ano. Além disso, a empresa acredita que por causa desse grande volume de informações as companhias terão um grande desafio para compreendê-las. O sistema big data (grande dado) é o caminho apontado para lidar com a nova realidade. Até 2015, uma sobretaxa global de energia será cobrada para armazenar arquivos na nuvem.
Tempo de reivindicar
Da Praia da Estação ao Ocupe a Câmara. Chegando ao fim de 2011, os manifestantes mineiros descem a Avenida dos Andradas, desde a Praça Rui Barbosa, em direção à Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). A nova mobilização se organizou em poucos dias inteiramente via web. Indignada com a, até então somente, proposta dos vereadores de aumentar os próprios salários em 61,8%, Débora Vieira, 29 anos, educadora e atriz, organizou uma mobilização por meio de uma página de evento do Facebook. “Faço parte de um fórum na internet que discute a sociedade em Belo Horizonte. Divulguei matérias sobre o projeto nesse grupo e entrei em contato com o @criticarbh, perfil no Twitter que reúne demandas da população. Perguntei se animavam acompanhar a votação mais de perto, saber os políticos envolvidos, os que votariam contra ou a favor”, detalha Débora.
Débora não é iniciante quando o assunto é mobilização de público pela web. Em junho, ela organizou a Marcha das Vadias junto com Hortência Ribeiro. Detalhe: as duas só se conheceram pessoalmente dias antes do evento. A manifestação, que ocorreu em conjunto com a Marcha da Liberdade, reuniu cerca de 300 pessoas. “Acho que a internet foi responsável por 80% da divulgação. O movimento teve dupla via de propagação, tanto pela questão gráfica dos cartazes criados, que eram irreverentes e de bom humor, quanto pela causa em si”, estima a atriz.
A manifestante, se a brincadeira permite, fez escola com a turma da Praia da Estação. O movimento, que teve seu estopim por meio do blog Vá de branco (https://vadebranco.blogspot.com/), assim como a praça, não tem dono, não tem autoria definida, como é informado na página virtual. Apesar disso, Rafael Barros Gomes, antropólogo e produtor cultural, de 28 anos, encaixa-se perfeitamente na figura de representante da mobilização que surgiu para protestar contra um decreto da Prefeitura de Belo Horizonte, de dezembro de 2009, proibindo a realização de eventos na Praça da Estação. Em setembro, nova lei garantiu o uso do local. As diversas edições da “praia” divulgadas pelo Facebook e Twitter, com seus criativos banhistas em protesto pacífico, foram essenciais para a reconquista do espaço público.
Forma de agregar
Rafael Barros diz ser receoso com o discurso de romantismo que coloca os sites de relacionamento como responsáveis pelas revoluções de 2011. “A ação parte dos agentes. O princípio básico é a indignação, as manifestações estão intimamente relacionadas à vontade de ruptura. As redes sociais serviram enquanto meio, trouxeram a possibilidade de comunicação mais livre”, enfatiza o antropólogo.
Segundo ele, as pessoas teriam só tomado consciência que é possível utilizar essas ferramentas como forma de agregar mais apoiadores às mobilizações que já existiam. “Mesmo assim é preciso pensar nos limites desses recursos. Tem gerações que não se adaptaram bem à tecnologia e também há classes sociais que não tem acesso a isso. A própria dinâmica de trabalho também é relevante: quem chega em casa, cansado do serviço, quer comer e dormir”, argumenta o produtor.
Bom exemplo dessa ressalva é o carnaval de rua da capital mineira, que ganhou notoriedade em 2011, apesar de já existir há três anos. “Foi muito no calor da Praia da Estação e no fôlego do Facebook”, explica o produtor sobre o sucesso dos blocos de nomes peculiares, que convidavam os moradores belo-horizontinos a permanecer na cidade em um período conhecido como desértico na capital.
O movimento Fora Lacerda, por sua vez, não nasceu na rede, mas se espalhou por ela e ganhou mais força. Na primeira marcha de protesto contra o governo atual, em setembro, mais de 2 mil pessoas participaram. “Houve um número muito maior do que as pessoas que confirmaram no evento do Facebook”, destaca Barros, que também apoia essa causa.
Para ele, a internet propicia a difusão de informações obscuras e denúncias, há uma maior liberdade nessa mídia. “Existem pessoas que são pró-ativas, que se deslocam, acionam o movimento, e tem as passivas”, acrescenta Rafael, esclarecendo que mesmo quem se manifesta somente virtualmente já contribui na divulgação da notícia e no incentivo àquelas que sairão de casa para fazer engrossar o coro da massa sedenta por mudanças.