Jornal Estado de Minas

Verão pode trazer problemas de saúde que não podem ser ignorados

O verão é tempo de sol, calor, pouca roupa e muito suor. Mesmo com todas as promessas de prazer, é uma época também propícia a inconvenientes. No clima descontraído das férias, fica fácil esquecer pequenos cuidados de saúde. Além do repetidamente recomendado uso obrigatório do filtro solar, especialistas falam ao Estado de Minas sobre outras providências igualmente importantes para garantir que a viagem não tenha turbulências. O culto à pele bronzeada, símbolo da estação mais quente do ano, por exemplo, é um convite ao exagero. “No verão, a Pitiríase alba é muito comum, principalmente em crianças e adolescentes”, comenta o dermatologista Erasmo Tokarski, referindo-se às manchas brancas que surgem no rosto por falta de filtro solar.

Além de manchas, micoses costumam atazanar banhistas distraídos. Tokarski explica que o uso prolongado de roupas de banho molhadas é o principal responsável pelo inconveniente. “O fungo gosta de locais úmidos e quentes, por isso a micose costuma aparecer na virilha”, completa o médico.

Segundo ele, os homens são os que mais passam pelo problema. “Pode dar em todo mundo, mas acho que os homens são mais desleixados com isso”, arrisca. Desfilar com chinelos molhados também não é uma boa ideia: frieiras, pano branco (manchas brancas no tronco) e bicho geográfico podem aparecer. Se não tratadas, as micoses aumentam, se espalham e podem até tornar-se contagiosas. “Se for entre os dedos, pode evoluir para erisipela (infecção bacteriana que atinge a derme profunda e o tecido gorduroso), infecção na perna e fungos nas unhas.”

A boa notícia é que tanto as frieiras quanto a micose têm fácil tratamento. Arriscar soluções caseiras para amenizar a coceira, contudo, não é indicado, uma vez que pode aumentar a proliferação dos fungos. “Se a pessoa estiver com o bicho geográfico, pode colocar gelo e esperar a área congelar por alguns minutos, para o micróbio morrer”, ensina o dermatologista.
“Para todos os outros casos, é importante ir ao médico para que o profissional indique o melhor antifúngico.” Bebidas com frutas cítricas, como a caipirinha ou o suco de laranja, também podem ocasionar manchas na pele.


Quando em contato com o sol, explica Erasmo Tokarski, os resíduos que podem ter ficado na boca ou em algum outro local da pele após a ingestão desses ingredientes reagem com a luz solar – e resultam em manchas escuras, tratáveis com pomadas à base de hidrocortizona (anti-inflamatório derivado do hormônio cortisol, usado no tratamento de alergias).

Culto ao corpo

Além do bronzeado, uma grande preocupação de quem vai para a praia ou piscina é poder passear sem se preocupar em esconder os quilos a mais. O problema é que muitos deixam para se ocupar dos exercícios físicos somente no verão – e acabam trocando qualquer possibilidade de ter um corpo mais sarado por lesões e machucados. De acordo com uma compilação de 14 estudos publicados em agosto no Journal of American Medical Association, quem pratica atividade física esporadicamente tem 2,7 vezes mais chances de ter problemas cardíacos. “Indivíduos com mais de 40 anos e com colesterol alto ou diabetes correm mais riscos”, completa o educador físico Pedro Aguiar.

O afã de exibir um corpo em forma pode, também, ter consequências sérias. Pedro diz que o uso de esteroides e anabolizantes cresce bastante durante o fim de ano, uma vez que as substâncias permitem que os usuários tenham resultados muito mais rápidos do que se estivessem apenas treinando na academia.

“A pessoa pode perder de dois a três quilos de massa magra em dois meses. Na academia, demoraria pelo menos um ano”, compara. O educador físico explica que, como grande parte dos anabolizantes têm cafeína e outros elementos estimulantes na composição, as drogas agem diretamente no sistema nervoso central – o que eleva a estimulação do sistema cardíaco e do metabolismo, aumenta o músculo cardíaco e pode levar ao infarto até mesmo o mais jovem dos “atletas”.

Lesões e machucados também entram na lista de desvantagens dos atletas de fim de semana. “A falta de aquecimento pode fazer com que a pessoa torça ou rompa ligamentos”, exemplifica Pedro.

Foi o que aconteceu com Fábio Hissao Harala, 23 anos. Na agenda semanal do estudante, os sábados eram reservados para as partidas de futebol com os amigos, sem grandes preocupações. “Eu só ia, jogava e voltava para casa, nem me aquecia”, conta. Um passe de bola mal calculado, contudo, rendeu a ele o rompimento dos ligamentos cruzados da parte posterior do joelho esquerdo. Algumas ressonâncias e exames de raios X depois, Fábio foi informado pelos médicos de que não pode mais jogar bola. “Precisarei fazer uma cirurgia e ficar de repouso seis meses”, detalha. “Jogo bola de teimoso, mas pretendo entrar na academia no ano que vem.”

Cuidado com danos aos olhos

Diferentemente do que muita gente imagina, os óculos de sol não são apenas acessórios de moda. Eles são essenciais para quem vai curtir o verão no clube, na praia ou em cachoeiras. Segundo o oftalmologista Sérgio Eduardo Marciano de Souza, da Clínica de Olhos Dr. Ricardo Guimarães, em Belo Horizonte, usar um bom par de óculos é a proteção inicial para os olhos.
“Para isso, a pessoa deve escolher aqueles que têm lentes com fatores UVA e UVB, que protegem contra os raios solares. A alta incidência de raios tem efeitos nocivos sobre a córnea, a retina e o cristalino”, diz.

Nos locais com grande aglomeração de pessoas, há risco de conjuntivites, alerta o especialista. Então, para evitar um incômodo desses, faça uma limpeza mais cuidadosa das mãos. “Geralmente, a gente passa muito a mão nos olhos, para coçar ou tirar um corpo estranho. Se alguém no clube, por exemplo, estiver com uma inflamação, tocar os olhos e encostar em uma cadeira, a chance de passar para outra pessoa é grande. Evite também ficar em locais fechados, com pouca circulação de ar, onde a propagação de vírus e bactérias é maior”, ensina.

Se você for mergulhar, a dica de Sérgio Eduardo é levar seus óculos próprios. “No mar e no clube há as substâncias irritativas da água – no primeiro é o sal; na piscina, os produtos de conservação da água, que podem causar irritação.” Na praia, ainda tem o vento para literalmente jogar areia nos olhos. Nesse caso, não os esfregue. “Quando entra alguma coisa no nosso olho e a gente esfrega, arranha a córnea, abrindo espaço para infecções. Lave com soro fisiológico.
Se não houver o produto à mão, use água filtrada ou mineral”, acrescenta. Para os usuários de lentes de contato, o cuidado deve ser redobrado: na piscina, o risco de contaminação é alto; há várias infecções transmitidas pela água; no mar, o sal também pode causar irritação. A maior preocupação dos médicos é com a úlcera de córnea, causada por contaminação da lente ou corpo estranho nos olhos. Os sintomas de que algo não vai bem começam com irritação, embaçamento e dor nos olhos. Se isso ocorrer, procure um especialista.

Outra dica para quem quer curtir o verão com tranquilidade é usar a lágrima artificial, uma espécie de colírio encontrada nas farmácias. “Ela não tem contraindicação, pois não tem antibióticos e anti-inflamatórios. O bom é que ela mantém os olhos bem hidratados e funciona como uma primeira barreira contra problemas”, acrescenta Sérgio Eduardo.

Ceratite

Karina Afonseca, 24 anos, sofreu com as lentes de contato quando foi à praia, há dois anos. Mesmo com a limpeza das lentes corretivas em dia, a enfermeira conta que a areia da praia e o sal da água do mar fizeram com que seus olhos ficassem irritados. “Usei a lente para nadar e fiquei com ceratite (inflamação da córnea)”, relembra. “Foi a primeira vez que fui com elas para a praia. Lá você fica com muita sujeira na mão e acaba se distraindo e passando no olho”, justifica. Karina teve que ir ao oftalmologista, que receitou um colírio específico para o problema. O inconveniente custou uma semana das férias dela, mas, para este ano, os planos são bem diferentes. “Agora, lavo as mãos constantemente e uso um colírio quando o olho fica ressacado”, completa.

(Colaborou Cristiana Andrade)

 

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