O complexo movimento do animal utilizava técnicas diferentes, de acordo com o sentido da movimentação. Para ir para frente, ele utilizava as patas dianteiras em um movimento semelhante a um par de muletas. Os membros não tinham capacidade suficiente para sustentar o corpo do Ichthyostega e lhe prover todos os movimentos em ambiente seco, e as patas traseiras não tinham qualquer serventia fora da água. Já no movimento de recuo, havia uma coordenação entre patas e a cauda, permitindo que o animal “escorregasse” para trás.
O Ichthyostega é um dos primeiros tetrápodes — vertebrados com os membros das mãos e dos pés — verdadeiros que se tem registro. A escolha da espécie pelos cientistas se deu por se tratar de uma das que possuem os membros mais bem descritos. Há pegadas fossilizadas conhecidas ainda mais antigas que as do Ichthyostega, datadas de 395 milhões de anos, no Devoniano Médio, mas os pesquisadores não sabem determinar exatamente qual ser vivo as produziu.
Transitando entre a terra e a água, o animal conseguiu se adaptar para se movimentar nas duas regiões. “Músculos e articulações do Ichthyostega também tiveram um papel importante para a conquista da terra. Eles permitiram que o animal ficasse parado no ambiente aquático, conseguindo colocar a cabeça para fora da água a fim de respirar e processar a comida. Ele também conseguia assim andar em regiões rasas”, conta Clack.
Diferentemente da espécie pré-histórica, a grande maioria dos animais aquáticos não consegue permanecer na água sem se movimentar. Nadar constantemente é condição básica de sobrevivência tanto de peixes quanto de mamíferos aquáticos. “Estamos apenas começando a nos familiarizar com nossas descobertas, mas nos parece que os membros do Ichthyostega foram desenvolvidos para uso em água antes do uso em terra”, explica John Hutchinson, do The Royal Veterinary College, no Reino Unido, que também participou da pesquisa.
Os pesquisadores devem agora utilizar técnicas semelhantes para desvendar como se movimentam outras espécies que participaram dos primeiros passos dos animais sobre a terra. “Há novos tetrápodes sendo descobertos pelos meus colegas”, afirma John Hutchinson. “Queremos saber o que vem depois. Esperamos começar a trabalhar em algumas espécies que sucederam o Ichthyostega e que poderão nos explicar o que aconteceu nesse período e logo depois dele, na extinção em massa que se seguiu ao período Devoniano”, completa o especialista britânico.