Jornal Estado de Minas

Movimento é contra a exploração de animais usados como cobaias

Janine Guido, de 51 anos, considera que grande parte dos cientistas brasileiros ainda vive na Idade Média. “As universidades mais modernas do mundo investem em métodos substitutivos para poupar os animais. Já o Brasil está na contramão da ciência, com a inauguração de biotérios, produzindo ratos geneticamente modificados, com certificados de qualidade”, critica.
A ativista é contra o uso de qualquer espécie para experimentos em laboratório. Está segura de que as pesquisas que envolvem cobaias estão muito mais vinculadas aos interesses comerciais dos grandes laboratórios do que à saúde do homem. “Não vivemos mais por causa de remédio algum testado em animais. Vivemos mais por causa de saneamento, higiene e alimentação. Porque aprendemos a lavar as mãos para comer. Por isso. Todo o resto é conversa para boi dormir. Estão tentando adoecer os macacos com o vírus da Aids, por exemplo, para buscar a cura. Isso é muito doído”, revolta-se.

Quando pequena, em Caratinga, no Vale do Rio Doce, Janine conta que presenciou cena definitiva na sua relação com os bichos. “Foi terrível ver um boi morto a facadas por dois homens. Ele gritava e sofria, foi um trauma.” Adepta ao veganismo – modo de vida que busca eliminar toda e qualquer forma de exploração animal, não apenas na alimentação, mas também no vestuário, no trabalho, no entretenimento e no comércio –, Janine desenvolve projeto para obrigar, por lei, a informação se houve ou não o uso de experimentação animal no rótulo do que for comercializado.

“Fazemos de tudo para evitar o consumo dos produtos que exploram animais, mas a indústria é esperta e esconde essa informação. Exigimos o direito de saber.” Recentemente, Janine esteve à frente, em Belo Horizonte, de manifestação que mobilizou ativistas em 47 cidades brasileiras e garante que a luta continua e pretende se espalhar por todo o país.

Ponto crítico

Você é a favor do uso de animais para experimentos científicos?

SIM


Carlos Augusto Gontijo Pellegrino
Médico-veterinário, doutorando em reprodução animal

- Foto: Arquivo pessoal Tenho conhecimento da polêmica que envolve o assunto. No entanto, como pesquisador ainda em formação, acredito na importância desse tipo de atividade para o desenvolvimento de métodos de cura e melhoria de vida, tanto para o homem quanto para animais de companhia e de produção, além de inúmeros outros usos – avaliação e controle de produtos biológicos, desenvolvimento de vacinas e fármacos, transplantes, estudos de farmacologia, microbiologia e reprodução animal. Camundongos, ratos, coelhos, porquinhos-da-índia, cães e gatos, além de ovelhas, cabras e vacas, são bastante utilizados, tanto em pesquisas científicas e no ensino de universidades, quanto em testes de produtos. Atualmente, existem comissões de ética bastante atuantes de universidades e instituições de pesquisa com a função de estabelecer parâmetros para a prática do uso de cobaias, visando garantir o bem-estar e diminuir o sofrimento desses animais. Na medicina e na veterinária, algumas instituições de ensino já estão reduzindo o número de cobaias utilizadas, substituídas por manequins e programas de computador para a simulação de processos e intervenções cirúrgicas. Cabe ponderar e questionar se os futuros doutores formados por essas escolas terão capacidade e conhecimento in loco para exercer a profissão de maneira eficaz e segura, reduzindo, e até mesmo evitando, o tão temido erro médico.

NÃO


Franklin Oliveira
Ambientalista, correspondenteda Word Society for the Protection of animals (WSPA)

- Foto: Jackson Romanelli/EM/D.A PressA ciência vem evoluindo a cada dia, sendo que já está comprovado que a maioria dos testes que se realizam em modelos animais não tem as mesmas respostas em modelos humanos. Vários cientistas chegaram a esta conclusão e estão abolindo essa prática. Outras técnicas, como modelos matemáticos, simulações computadorizadas, sistemas biológicos in vitro, e até mesmo busca de bancos de dados de pesquisas já realizadas, podem dispensar a utilização de cobaias. A legislação brasileira vem avançando justamente para diminuir e até abolir esta prática. "O artigo 32 da Lei 9.605/98, parágrafo 1º, dispõe: "Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos". A realização de experimentação científica no Brasil está regulada na Lei 11.794/08, conhecida como Lei Arouca, que estabelece a criação das Comissões de Ética no Uso de Animais (Ceua). Toda e qualquer pesquisa com utilização de animais deverá ser monitorada e avaliada por MS, MCT, Ibama, CRM e CRMV. Sendo que as Ceuas devem manter um representante de organização não governamental (ONG) de defesa animal em sua composição..


“Cuidar do meio ambiente e estar mais perto dos animais.
É essa a parte da veterinária de que mais gosto”

>> Maria Carolina Paiva,
médica-veterinária


Vivemos mais por causa de saneamento, higiene e alimentação. Porque aprendemos a lavar as mãos para comer

>> Janine Guido,
ativista ambiental