As possibilidades são fabulosas para os avanços nos conhecimentos sobre o comportamento de partículas de carbono em escala molecular. Para quem duvida, o professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ado Jório de Vasconcelos cita até o advento do teletransporte; de um elevador que possa levar objetos para o espaço sideral; tratamentos de câncer pouquíssimo agressivos; precisão na transposição de genes; e fertilizantes de altíssima eficiência para o cultivo de faixas tropicais do mundo, que são geralmente economicamente subdesenvolvidas. Mas ele alerta: “Para se pensar em possibilidades futuras é preciso ser um pouco irresponsável”.
Premiado recentemente pelo renomado Centro Internacional Abdus Salam de Física Teórica (na sigla em inglês, ICTP), em Trieste, na Itália, Ado Jório se dedica ao estudo de nanotubos de carbono desde 1999 quando começou um curso de pós-doutorado no Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Com recém completados 40 anos, idade limite para que ganhasse a honraria internacional do ICTP, instituto governado pela Unesco e pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), ele receberá em outubro o troféu por ter se distinguido com contribuições originais para a ciência, inclusive a aplicação de um método denominado espectroscopia Raman para identificar as propriedades de nanotubos de carbono.
O carbono tem propriedades mecânicas, térmicas e eletrônicas muito interessantes, por isso, explica o físico, ele pode ser usado como um material leve, forte e que aguenta altas temperaturas. Está presente em freios de carros de alta performance, em turbinas de foguetes espaciais e em toners de impressoras.
O professor mineiro é reconhecido internacionalmente por ser autoridade na área que estuda e já foi citado em algumas centenas de artigos e trabalhos acadêmicos pelo mundo. Ele também é diretor da Coordenadoria de Transferência de Informação (CTIT) da UFMG, que atua na gestão do conhecimento científico e tecnológico gerado na universidade. “Sou o representante da UFMG em seu contato com o setor produtivo”, afirma. Ele salienta a importância da estruturação da cadeia de transferência de conhecimento para que o investimento em produção científica retorne para a sociedade como desenvolvimento socioeconômico.
Sentado em seu escritório no prédio de Ciências Exatas da universidade, coalhado de papeis por todos os lados, nota-se nas estantes do acadêmico não só livros de física, mas também de filosofia, que vão de Rousseau a São Tomás de Aquino. “Gosto muito de filosofia”, explica. No entanto, para quem pensa que o professor de física de nome italiano – que coincidentemente estudou na Escola Albert Einstein, em Belo Horizonte, na sua infância – era um típico aluno caxias, ele garante que não. Ado Jório lembra que sempre gostou de jogar futebol e de ouvir e tocar música – principalmente rock progressivo –, e confessa também que não dispensa uma boa conversa em um boteco.
Aplicações futuras
“Representaria uma mudança de paradigma, mudaria a sociedade”, avalia o professor Ado Jório de Vasconcelos. “Com a tecnologia que temos hoje o teletransporte é inimaginável, porque a transferência de energia e de informação que ele envolve é brutal”, afirma. Contudo, ele especula, esse avanço poderia torná-lo possível. Os nanotubos também poderiam ser usados para criar um elevador para transportar corpos para o espaço. “Não existe nenhum material que aguentaria o próprio peso, mas o nanotubo aguenta”, afirma. “Isso poderia economizar o esforço enorme que é empregado para enviar objetos para o espaço”, completa.
As nanopartículas de carbono poderiam também ser usadas em tratamentos de câncer que atacassem somente as células cancerígenas, ou mudar genes dentro de uma estrutura de DNA. Poderiam também, de acordo com estudos do professor Ado, ser usadas na criação um adubo superpoderoso. Ele conta que há solos raros na Amazônia que, diferentemente dos terrenos comuns da região, são muito férteis devido à presença de nanopartículas de carbono. Esses avanços poderiam representar a diferença entre usar velas e começar a usar lâmpadas, exemplifica.
O professor Ado ainda desenvolve estudos na Amazônia, juntamente com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), sobre a terra preta de índio (resultado do uso do solo de maneira sustentável pelos índios da região há milhares de anos). A terra preta é fértil, mas os pesquisadores querem saber o motivo e como os índios faziam o manejo. E quem pode dar essas respostas é a nanotecnologia, que permitirá entender os processos físicos e químicos do material.