PARIS - O físico britânico Peter Higgs teve uma epifania genial, em 1964, ao postular a existência de uma partícula subatômica, que os físicos do CERN afirmam ter, talvez, encontrado depois de uma longa busca.
Este homem modesto, agora aos 83 anos, exclamou: "Ah. que merda, eu sei como fazer!" quando teve a intuição de um "campo" que se assemelha a uma espécie de cola onde as partículas ficariam mais ou menos presas, contou ao seu antigo colega Alan Walker.
Higgs publicou um artigo sobre sua teoria, que acabou por se tornar o carro-chefe de uma escola científica para qual vários físicos têm contribuído ao longo dos anos.
Tímido e sossegado, Higgs leva uma vida pacata em Edimburgo, Escócia, onde ensinou por muitos anos.
Ele estava presente nesta quarta-feira em Genebra, quando a Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN) anunciou ter encontrado uma partícula "compatível" com o bóson que leva seu nome e que foi objeto de intensas pesquisas por décadas.
Terno cinza e camisa branca com colarinho aberto, Higgs foi saudado por uma "ovação de pé", quando entrou no auditório aonde os físicos do CERN viriam a anunciar que tinham, provavelmente, encontrado este elo perdido da física de partículas.
"Eu nunca imaginei que isso aconteceria comigo em vida", declarou, em um vídeo divulgado após o anúncio, esse homem de bochechas vermelhas, sobrancelhas brancas e careca.
Considerado uma pessoa muito inteligente por pessoas que trabalharam com ele, Higgs teve seu primeiro artigo sobre o bóson rejeitado pela revista Physics Letters, editada na época pelo CERN, a mesma organização que gastou muita energia e tempo para descobri-lo tempos depois.
Uma segunda versão mais elaborada do documento foi finalmente publicada posteriormente, nos Estados Unidos.
"Ele é um homem com modos muito suaves e educados, mas que se torna difícil se você disser algo errado no campo da física", explicou à AFP Alan Walker, que se aposentou após trabalhar com Higgs.
Nascido no dia 29 de maio de 1929 em Newcastle, norte da Inglaterra, Higgs tem um doutorado pelo King's College de Londres e detém vários títulos honorários e prêmios (Royal Society, Institute of Physics, etc). Foi citado como um possível candidato ao Prêmio Nobel.
Modesto, Higgs por muito tempo se encolheu com a menção do termo "bóson de Higgs", contam. Ateu, Higgs também não gosta da outra alcunha para este bóson, a "partícula de Deus".
Higgs compartilhou algumas de suas recompensas com outros físicos que contribuíram para a teoria do bóson, incluindo o belga François Englert, 79 anos.
Nesta quarta-feira, François Englert estava sentado ao lado de Higgs durante a apresentação do CERN, e tinha lágrimas nos olhos no momento do anúncio, contrastando com a calma do britânico.
"Esta descoberta é extremamente importante", porque mostra que a teoria está viva", disse Englert em um vídeo transmitido pelo CERN.