A pesquisa comandada por Reid teve início em 1994 e avaliou um grupo de cerca de 24 mil pessoas durante 11 anos. No fim, foram registrados 354 ataques cardíacos, 260 derrames e 267 mortes de problemas cardiovasculares. As pessoas que tomavam cálcio moderadamente, ingerindo alimentos com a substância, tinham o risco mais baixo de ter ataque cardíaco se comparadas àquelas que ingeriam menos. Entretanto, aqueles que tomavam mais de 1,1mg (quantidade considerada acima do padrão do país) tinham o risco aumentado. Quando o grupo de pesquisadores observou os suplementos de cálcio, descobriu que havia um aumento de 86% de ataque cardíaco entre as pessoas que tomavam os comprimidos regularmente.
A vitamina D, que trabalha com o cálcio para auxiliar no desenvolvimentos dos ossos e dos dentes, também entrou na lista das substâncias que podem fazer mal se consumidas em excesso. A pesquisa, publicada em abril no periódico The American Journal of Cardiology, foi preconizada por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore, nos Estados Unidos. A conclusão é parecida com o estudo de Zurique: a vitamina D em excesso pode parar de conferir benefícios cardiovasculares e causar problemas nos níveis de sangue, deixando-os abaixo do que é considerado normal para o organismo.
No caso da vitamina E, quando ingerida em excesso, pode aumentar o risco de câncer de próstata. Um estudo feito em 2011 pela clínica Cleveland, em Ohio, detectou que a possibilidade de desenvolver a doença aumenta em 17% entre os homens que ingerem 400 unidades de pílula de suplementos dessa substância – o equivalente ao consumo de uma cápsula por dia durante pouco mais de um ano. A dose estudada foi aproximadamente 20 vezes maior do que a recomendada (veja arte acima).
Foram avaliados 35 mil homens com idade média de 50 anos. Os cientistas descobriram que, entre eles, em cada mil que tomavam o suplemento de vitamina E, houve 76 casos de câncer de próstata, enquanto entre os que ingeriam placebo houve 65 ocorrências. “No caso do câncer de próstata, novas pesquisas devem ser feitas para mostrar maneiras efetivas de prevenir, detectar e curar a doença, e os bilhões gastos em suplementos devem ser redirecionados para isso”, considera o pesquisador David Samadi, da Escola de Medicina de Mount Sinai, em Nova York. Samadi ressalta ainda a importância de consultar um médico antes de dar início a uma dieta baseada em suplementos vitamínicos.
O geriatra Clóvis Cechinel faz o mesmo alerta. “Na geriatria, recomendamos a reposição do que é básico. A reposição indiscriminada de minerais acarreta riscos para a saúde. Já sabemos, por exemplo, que a vitamina C pode resultar em problemas”, considera. As doses superiores a mil miligramas por dia da substância causam, de acordo com o médico, diarreia, pedra nos rins e alterações do ciclo menstrual. Cechinel, no entanto, ressalta que, no caso da osteoporose, não é preciso sacrificar o consumo de cálcio temendo resultados de estudos científicos. “Os suplementos da substância só são um problema quando a pessoa tem um osso forte e saudável, mas os ingere sem indicação médica”, afirma.
A cardiologista Marly Uellemdahl também se preocupa com reações alarmistas. Mas reforça a importância de adotar alguns cuidados antes de iniciar uma suplementação de vitaminas. “A pesquisa publicada é bem fundamentada, mas a reposição de cálcio não melhorou ou diminuiu a capacidade cardiovascular dos participantes. Apenas quando consumida em excesso, a substância se acumulou nas paredes dos vasos e causou o problema”, explica.
A nutricionista Elisa Gourlat comenta que, se uma pessoa segue uma dieta rica em vitaminas, não precisa recorrer a suplementação.
“O organismo demanda quantidades baixas da vitamina. Devido a isso, caso um indivíduo tome suplementos quando não é necessário, pode comprometer as funções renais, gástricas e até mesmo hepáticas do corpo.”
Na menopausa
Em outro estudo feito pela mesma equipe de cientistas norte-americanos em 2008, foi analisado um grupo de aproximadamente 1.500 mulheres saudáveis que estavam vivendo a pós-menopausa. Elas receberam 1g de cálcio por dia ou 1g de placebo, durante cinco anos. Ao fim da investigação, os pesquisadores verificaram que houve um aumento de 40% nos problemas cardiovasculares no grupo que ingeria os suplementos.