Apesar de a observação trazer fortes indícios sobre a origem da inflamação, Lynch ressalta que muito trabalho ainda precisa ser feito. “Não sabemos se a C. tuberculostearicum é comum, porque nunca foi considerada como um patógeno antes disso. Ninguém olhou para ela em conjunto com a sinusite. Nós não temos nenhuma ideia de como ela provoca a doença, não há genoma sequenciado para essa espécie”, diz.
Tratamento
Além da promissora descoberta, o grupo de Susan Lynch provou, em um outro estudo, feito com camundongos, que o microbioma nasal se protege naturalmente contra a bactéria C. tuberculostearicum, sendo a L. sakei uma espécie característica dos indivíduos protegidos contra uma possível infecção. O lactobacilo consegue repovoar o ambiente microbiótico nasal, matando bactérias inimigas e formando um escudo microbiano que impede o contato de agentes infecciosos com seus hospedeiros.
A estratégia tem potencial para ser aplicada em qualquer tipo de sinusite, embora ainda sejam necessários estudos clínicos para determinar suas indicações de tratamento e sua adaptação como terapia clínica. Atualmente, a estratégia padrão é completamente inversa. Para o tratamento das infecções nos seios faciais, normalmente são receitados antibióticos que agem na esterilização do local, aniquilando todos os micro-organismos presentes. A possibilidade de um tratamento com o repovoamento de bactérias não só torna a ação menos prejudicial ao organismo como também é mais barato.
“Acredito que estamos tratando várias condições inadequadamente. Normalmente, em nosso tratamento de infecções, o objetivo é esterilizar o sítio. Esse estudo sugere que essa abordagem pode ser uma oportunidade para certos patógenos também se proliferarem, o que pode até explicar a baixa taxa de sucesso, por volta de 15%, no tratamento com antibióticos de pacientes portadores de sinusite crônica”, avalia Lynch.
O otorrinolaringologista Carlos Adriano Faria de Araújo explica que o tratamento da sinusite crôncia é caro, envolve antibióticos, anti-inflamatórios e, às vezes, até uma internação. “Por isso, o sonho de consumo de toda a comunidade médica é descobrir um outro tratamento. É uma busca, e existem dezenas de tentativas nesse sentido. Há estudos com outras abordagens rumo à constituição desse biofilme para tentar melhorar o ambiente microbiótico”, afirma. O conceito de biofilme é similar à ação do lactobacilo identificado pelos pesquisadores, uma camada de muco e secreção que reveste e protege o interior do seio da face.
A sinusite é um problema generalizado que compromete diretamente a qualidade de vida do portador. Estima-se que a inflamação dos seios faciais afete cerca em 10% da população brasileira em seu tipo agudo e 5% de forma crônica. O mal é ainda mais recorrente nesta época do ano. Grandes hospitais de várias regiões do país chegam a registrar até 30% dos atendimentos em pronto-socorro diretamente ligados à doença. Segundo Diderot Parreira, otorrinolaringologista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), a população precisa entender que nem todas as dores de cabeça são sinusite, a doença tem sintomas bastante definidos. “É comum pacientes chegarem ao consultório queixando-se de sinusite quando, na verdade, estão com uma gripe ou um resfriado.”
Tipos
Também chamada de rinossinusite, a doença pode ser de dois tipos: aguda, quando ocorrem dores de cabeça na área do seio da face e com duração de até quatro semanas, e crônica, que varia principalmente quanto ao tempo de permanência do mal. A duração, nesse caso, é de três meses ou mais. Os sintomas são os mesmos, porém variam muito de intensidade. A dor nos seios da face e a febre podem estar ausentes e a tosse costuma ser o sintoma preponderante. A sinusite crônica que foi tratada no estudo é uma doença que pode estar associada a uma alteração anatômica da região dos seios paranasais. “É como se fosse um corredor cheio de quartos. O corredor é o nariz e os quartos são os seios. Se a passagem para a drenagem e limpeza do nariz for bloqueada, pode acontecer o processo infeccioso”, detalha o médico Diderot Parreira.