Assim, a ideia da pesquisadora foi elaborar um cálculo universal que se ajustasse mais à realidade atual, em que há cada vez mais pessoas obesas, “possibilitando uma detecção mais precoce da obesidade e, consequentemente, uma intervenção clínica mais rápida, que vai evitar ou minimizar o risco de desenvolvimento de doenças associadas à obesidade, como a hipertensão e o diabetes”, aponta a pesquisadora paulista. Por isso, na nova formulação foi incluído o percentual de massa gorda, que é a quantidade de gordura que o indivíduo tem no organismo. “Além disso, (com o novo índice) pode-se gerar uma redução importante nos custos para os serviços de saúde”, completa Grecco.
O modelo proposto tem, obviamente, diferente contagem: o peso multiplicado por três é somado a quatro vezes a massa gorda e o resultado dessa adição é dividido pela altura do indivíduo. No caso de Alexandre, o Índice Ajustado à Massa Gorda – como foi batizada a criação de Mirele Grecco – ficaria em 1,74, considerado normal pela tabela. “O IMC tradicional é suficiente para classificar apenas os indivíduos que se encontram nos extremos”, justifica a cientista. “Esse é o caso dos subnutridos, que têm baixos percentuais de gordura corporal, e dos obesos, que têm elevadas porcentagens de massa gorda”, explica a nutricionista. Ela testou o cálculo em 500 pacientes para criar uma fórmula simples que se ajustasse também às pessoas com outros biótipos, como alta massa e pouca gordura e baixa massa e muita gordura.
Precisão
O avaliador físico Flávio Bonora concorda com a eficácia do Índice Ajustado à Massa Gorda. “Realmente, ele corrige as distorções do IMC e ajuda o avaliador a fazer uma análise mais precisa da situação física dos pacientes”, opina. Acostumado a lidar com pessoas que estão iniciando atividade física ou buscando mais condicionamento, ele conta que é bastante comum clientes que usam o IMC se frustrar na hora de fazer uma análise mais detalhada.
“É muito comum com mulheres estar dentro do peso ideal e, portanto, com um bom IMC, mas, na hora em que é medido o percentual de gordura do corpo, elas descobrem que têm um perfil de sobrepeso ou mesmo de obesidade”, explica. Problemas como esse ocorrem em casos, inclusive, de pessoas que apresentam fisionomia de peso normal. “Como o percentual de gordura está alto, mesmo não aparentando estar gorda a pessoa corre os mesmos riscos relacionados à obesidade, como hipertensão e diabetes”, explica o avaliador físico Flávio Bonora.
“Para essas pessoas, o novo índice servirá como um referencial claro de que é preciso perder peso e melhorar o condicionamento físico. O mesmo vale para atletas que têm grande massa corporal e pouca gordura, mas, nesse caso, em geral a própria pessoa já conta com a orientação de um profissional”, completa. Segundo Bonora, contudo, a ampla implementação do Índice Ajustado à Massa Gorda esbarra em um problema. “O IMC só leva em consideração peso e altura. Se por um lado em alguns casos isso pode levar à distorção dos resultados, por outro é uma medida fácil de calcular, já que em geral todo mundo sabe o próprio peso e altura”, afirma.
Para calcular o novo índice, seria necessária a ajuda de um adipômetro, um pequeno aparelho semelhante a um alicate. Com ele, o educador físico mede a espessura da camada de pele e de gordura sob o músculo em sete partes do corpo. O resultado é comparado a uma tabela de referência que dá o percentual de gordura do paciente. “Não é uma medida tão simples de se obter. Talvez em um contexto médico seja possível de se obtê-la e aplicá-la, mas em casa, de maneira simples como é com o IMC, não é possível”, completa.
Mais estudos testam o índice
Duas pesquisas publicadas em setembro no European Heart Journal também colocaram em xeque a eficiência do Índice de Massa Corporal (IMC). Durante três anos, cientistas analisaram a mortalidade de 64 mil suecos com problemas cardíacos. Os voluntários foram divididos em grupos de acordo com o IMC. Após a análise, o gráfico da mortalidade ficou em forma de U, indicando que as pessoas enquadradas nos extremos – as muito magras e muito gordas – tinham o mais alto risco de morrer do que as na condição intermediária, como sobrepeso e obesidade mórbida. Realizada na Universidade de Granada, em Espanha, a segunda pesquisa analisou a saúde de 43 mil americanos, divididos de acordo com o nível de obesidade. Após 14 anos de avaliações, os cientistas chegaram à conclusão de que obesos saudáveis tiveram um risco 38% menor do que os não saudáveis de morrer por qualquer causa. A redução de morte por problema cardíaco ou câncer foi de 30% a 50%.