Jornal Estado de Minas

Mesmo com tecnologia, alguns jovens preferem o bom e velho disco de vinil

Os downloads de música não estão sendo substituídos apenas pelo YouTube, mas também por serviços de streaming (sites de distribuição multimídia). Muitos delas, oferecem também as próprias versões para smartphones, diminuindo ainda mais a necessidade de baixá-las.

Para o tecnólogo em web, áudio e vídeo Ângelo Roosevelt, isso acontece porque a internet está em quase todos os lugares, oferecida por Wi-fi sem custo em shoppings, bares e lojas. “Isso favorece que o jovem crie sua playlist na nuvem e ouça músicas, inclusive com clipes, em seus celulares”, detalha. Para Ângelo, esse comportamento ainda deve crescer com a vinda da internet 4G para o Brasil.

A estudante de publicidade Ana Paula Campos, de 23 anos, por exemplo, é adepta do GrooveShark. “Posso deixar listas de músicas prontas e ouvi-las a hora que quiser, com qualidade de download”, afirma. Já o estudante de engenharia civil Igor Felipe Silva, de 22, prefere o SoundCloud, no qual escuta, compartilha e comenta as músicas. “Gosto muito do acervo de eletrônicas e ouço também algumas independentes, como as de bandas de amigos meus que usam o site para mostrar seu trabalho”, aponta.

E não são apenas os músicos que utilizam a rede para difundir os sons que produzem. Nick Ellis, de 42, é relações públicas do site TechTudo, executivo e sócio da Digital Drops (digitaldrops.com.br) e tem em seu perfil do Twitter a seguinte descrição: “Um homem com uma missão: tocar e postar 366 músicas, uma por dia do ano” – lembrando que estamos em ano bissexto.

“Comecei como uma brincadeira, uma terapia, fazendo cover de músicas de outras pessoas, muitas vezes com a ajuda de amigos em outros instrumentos”, conta.

Nick prefere usar um canal no YouTube para postar as músicas, e usa o Tumblr e outras mídias sociais para fazer divulgação. Os vídeos já têm mais de 350 mil acessos. “Acho muito legal as possibilidades que a internet oferece para divulgar e procurar novas músicas, mas confesso que na hora de escutar sou mais old school e prefiro meus CDs ou pelo menos fazer download e ouvir no iPod.”

Mesmo com a facilidade de ouvir músicas pela internet, ainda tem gente que não abre mão de maneiras mais clássicas de escutar um som, como o disco de vinil. É o caso de Júlia Hammes, de 23, diretora de marketing da empresa pinguimap.com. “Tenho esse hábito desde pequena, pois minha irmã mais velha escutava vinis da Turma do Balão Mágico, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Trem da Alegria e outros”, conta. Hoje, Júlia e a família têm cerca de 150 discos, sendo 50 só dela, mais a vitrola que ganhou aos 17 anos.

Para a diretora de marketing, a maior vantagem do vinil é a definição do som, mais natural, e o fato de poder aproveitar a experiência com os amigos. “Levamos os discos pra casa um do outro e vamos às compras juntos”, diz.
A paixão, entretanto, não faz com que Júlia abandone a internet. Ela explica que não se encontra tudo em vinil – mesmo quando encontra, às vezes o preço não cabe no orçamento – e que gosta da facilidade de poder levar as músicas do computador para outros dispositivos. “A internet fez o que seria impossível com o vinil: expandiu os espaços para a música dentro do nosso cotidiano, mas nunca conseguiu reproduzir a mesma qualidade e não tem a carga histórica que alguns discos têm.”

NO AR
Confira opções para ouvir músicas sem baixar arquivos:
» www.spotify.com
Serve para ouvir e compartilhar músicas pelo Facebook, montar playlists e ter acesso às já existentes. Está disponível também para smartphones. Os clientes premium (serviço pago) têm acesso a um acervo maior e podem também ouvir as listas favoritas no modo off-line. Ainda não está disponível no Brasil.

Grooveshark
» grooveshark.com
Disponível em português, tem menos funções que o Spotifym nas conta com rádios, inclusive off-line, versão para smartphone e o mecanismo de criar listas.

Soundcloud
» soundcloud.com
Muito utilizado por músicos e bandas independentes para divulgar seu trabalho (esse, aliás, foi o motivo de criação do site). É possível criar e compartilhar os sons nas redes sociais. Existem os pacotes pagos, que permitem mais minutos de uploads.

Oi FM
» oifm.com.br
Notícias sobre música, rádio on-line, sugestões e alguns downloads grátis estão entre as funções.
Disponível também para smartphones.

APPLE DE OLHO
Outra empresa que estuda entrar no mercado de música por streaming é a Apple. Segundo o Wall Street Journal, a empresa de Tim Cook entrou em contato com gravadoras, visando licenciar conteúdo para um serviço que pudesse competir com o Pandora, forte nos Estados Unidos. O serviço estaria disponível em computadores e celulares. A fabricante do iPhone e do iPad já vende músicas pela loja iTunes, e em 2010 tentou expandir os negócios na área com a malsucedida rede social Ping.

Fim das mídias físicas

Claro que o tradicional CD e o clássico vinil contam ainda com seus fãs-clubes e vão permanecer nas prateleiras de muitas casas ainda por algum tempo. Mas a tendência é de que se tornem apenas lembranças ou objetos de coleção ou de hobbie dos amantes dos sons mais puros. E quem acha isso são os próprios artistas, que sem dúvida deveriam ser os maiores interessados na manutenção desse tipo de mercado.

“Essas mídias físicas estão com os dias contados. O artista hoje tem de se preparar para saber explorar da melhor maneira possível as mídias digitais”, afirma o compositor e tecladista do Skank, Henrique Portugal. “Além de shows ao vivo, o faturamento do músico terá de vir dos acordos que fizer com sites e provedores, como o YouTube, e da sua capacidade de criar alternativas tecnológicas”, completa.

O Skank já conta com a sua web rádio, que pode ser acessada diretamente no site da banda (www.skank.com.br). Lá, além dos sucessos do grupo acumulados em seus 21 anos de vida, o internauta ouve ainda hits de outros grandes artistas mundiais, que estão entre os preferidos de Samuel Rosa, Lelo Zaneti e Haroldo Ferreti, além de Henrique Portugal. “A rádio fica no ar 24 horas por dia e a banda recebe alguma coisa por intermédio do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), que é o órgão responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais das músicas aos seus autores.
Toda web rádio funciona em parceria com sites, gravadoras etc., que faturam em cima de publicidades. É daí que sai o dinheiro para pagamento de direitos autorais”, explica.

IMAGENS Para Henrique Portugal, os DVDs ainda têm um tempo de vida maior, uma vez que fazer streaming de vídeo é mais complicado devido ao tamanho dos arquivos. “Uma música não ocupa nem 4MB de dados, enquanto um vídeo necessita de pelo menos 10 vezes mais espaço. Imagine, então, baixar um show inteiro? Mas, com certeza, num futuro breve também os DVDs deverão ser substituídos por outras tecnologias”, considera.

Enquanto isso não acontece, o YouTube continua sendo a melhor opção. Acordos têm sido fechados com vários artistas por meio de suas gravadoras para que clipes sejam exibidos pelo site, que fatura com publicidade e repassa parte da arrecadação ao Ecad. “No caso do Skank, nossa gravadora, Sony, assinou contrato com o YouTube e alguns de nossos clipes já podem ser vistos lá. “O faturamento com isso ainda é pequeno, mas já ocorre”, diz.

Ainda com relação a outras formas de exploração mercadológica, Henrique Portugal lembra que o iTunes é também um canal. O álbum Skank 91, lançado este ano pela banda, foi primeiro lançado no reprodutor de conteúdo digital da Apple, onde ficou alguns meses, para depois chegar às mídias físicas. “O trabalho reúne as primeiras gravações da banda e trechos da nossa primeira apresentação ao vivo, na Disco Reggae Night, em São Paulo, no dia 5 de junho de 1991. Todo o material, inédito, ficou guardado durante 20 anos.
O disco, masterizado em Nova York por Chris Gehringer, ficou bastante conhecido do público antes de virar CD, graças ao iTunes.”.