“Não devemos subestimar a importância da atividade física para a saúde. Mesmo em quantidades muito modestas, ela pode adicionar anos à nossa vida”, afirma I-Min Lee, professora da Escola de Medicina de Harvard e principal autora do levantamento, publicado na revista PLoS Medicine. Setenta e cinco minutos de atividade moderada (aquela em que é possível falar, mas não cantar, enquanto é realizada) por semana representam apenas metade da dedicação recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Se a pessoa dividi-los em cinco dias, malhará por apenas 15 minutos de cada vez, intervalo usualmente visto como um simples aquecimento.
Evidentemente, os resultados da pesquisa não indicam que uma caminhada semanal é suficiente para deixar alguém em ótima forma. Contudo, algum movimento é, sim, muito melhor que nada e pode levar a uma mudança gradual de hábito, com a incorporação de atividades físicas no cotidiano. Nesse sentido, a dica de Pedro Hallal, presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde e membro da Academia Brasileira de Ciências, é que o tempo dedicado a suar o corpo não seja concentrado em um só dia. “Sabemos que se uma pessoa começa a fazer 75 minutos de atividade uma vez só na semana, ela tem um abandono mais rápido. Quando incorpora a atividade em três dias, que seja por apenas 25 minutos, tem tendência a praticá-la por mais tempo”, afirma.
Intervalo
Hallal explica que o exercício físico não promove um benefício imediato, mas, a partir de adaptações fisiólogicas que aos poucos acontecem no organismo, pode gerar um novo ciclo metabólico. Daí a extrema importância do período de repouso, quando ocorrem essas transformações, que vão desde a mudança do perfil de composição corporal à redução de massa gorda e ao aumento da massa magra, passando pela queda nos níveis de pressão arterial e de glicose no sangue.
Segundo ele, o intervalo precisa ser um pouco menor que seis dias, período longo o suficiente para que tudo volte ao estágio inicial. Seria como encher um colchão de ar. Se entre a primeira e a segunda bombada há um intervalo muito grande, o colchão acaba esvaziando. “Ainda assim, é preciso considerar que os chamados atletas de fim de semana costumam ser mais saudáveis do que aqueles que não fazem qualquer exercício físico”, ressalta Hallal. Nesses casos, porém, vale o alerta de que as atividades esporádicas não podem ser muito intensas, para que o coração e outros órgãos do corpo não sejam sobrecarregados.
Na opinião de Hallal, a maior vantagem do estudo norte-americano é servir de estímulo para que as pessoas com pouco tempo ou sem motivação para fazer a quantidade recomendada de exercícios iniciem alguma atividade. Esse é o caso do servidor público Gabriel Marçal Ferreira, de 32 anos. Atualmente, ele consegue se dedicar apenas a algumas caminhadas esporádicas perto de onde mora. Sua rotina, que antes era completamente inativa, precisou mudar depois que ele passou a sofrer de uma hérnia de disco que quase o levou para uma mesa de cirurgia. “Foram três meses para poder voltar a trabalhar desde essa crise, sendo 48 horas sem conseguir levantar da cama, com muita dor”, lembra.
Além de evitar que a dor na coluna volte, as caminhadas que Gabriel passou a fazer recentemente podem garantir a ele alguns anos a mais de vida, segundo o estudo americano. Ainda mais agora que o servidor abandonou o hábito de fumar. Com sobrepeso, ele diz que o pouco exercício não levou à perda de peso, mas trouxe outros ganhos: “Sei que o ideal de atividade passa muito longe do que eu faço atualmente, mas o exercício é um antidepressivo natural, fico mais disposto e durmo melhor”.
Compensação
De acordo com Dartagnan Pinto Guedes, professor do Centro de Educação Física e Esporte da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parar de fumar e iniciar atividades físicas pode dar anos a mais de vida às pessoas. Segundo o especialista, quando um ex-fumante inicia uma atividade física, ele começa a minimizar o impacto dos anos de agressão ao organismo e, elevando a intensidade dos exercícios, pode até mesmo alcançar a expectativa de vida de uma pessoa que nunca fumou. “Chega um momento que o sujeito saudável que nunca fumou atinge uma expectativa de vida limite e não tem mais como ganhar anos de vida. No entanto, o ex-fumante ainda precisa compensar todos os anos perdidos, assim como as pessoas com obesidade”, detalha Guedes.
No seu estudo, I-Min Lee examinou também o impacto dos exercícios em obesos e fumantes, concluindo que a atividade ajuda a reduzir alguns impactos dessas duas condições. As pessoas que eram obesas e inativas, por exemplo, tinham a expectativa de vida reduzida entre cinco e sete anos. Com o mínimo de atividade física, até mesmo pessoas com obesidade mórbida (IMC maior que 35) conseguiam diminuir substancialmente o risco de uma morte prematura.
Estudos populacionais
Para chegar aos resultados, I-Min Lee examinou dados de mais de 650 mil adultos, a maioria com 40 anos ou mais, que participaram de seis estudos de base populacional projetados para avaliar vários aspectos do risco de câncer, sendo um na Suécia e os outros cinco nos Estados Unidos. Após levar em conta diversos fatores que poderiam afetar os cálculos de expectativa de vida, ela e sua equipe puderam desenhar uma curva em que o aumento da atividade se mostra diretamente proporcional ao aumento de anos de vida. A atividade física nos níveis recomendados (150 minutos semanais) acrescenta 3,4 anos à expectativa de vida. Se o tempo de dedicação for de 300 minutos a cada sete dias, o ganho chega a 4,2 anos.