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Estado de Minas

Austrália tem o maior número de espécies exclusivas de animais no mundo

Mapa do século 19 feito pelo biólogo Alfred Wallace, com distribuição de vertebrados pelo planeta, é atualizado


postado em 23/12/2012 10:34

Cangurus na Austrália: isolamento geográfico favoreceu a fauna única no país(foto: Stringer/Australia )
Cangurus na Austrália: isolamento geográfico favoreceu a fauna única no país (foto: Stringer/Australia )
Brasília – Após mais de 20 anos de estudos, um grupo de 15 pesquisadores internacionais liderado pela Universidade de Copenhague, na Dinamarca, finalizou a atualização do mapa da vida animal, elaborado pela primeira vez em 1876, pelo cientista britânico Alfred Russel Wallace. Desde então, algumas pequenas revisões foram feitas no material, que registra a distribuição das espécies de vertebrados pelo globo. Agora, as informações puderam ser aprimoradas com o uso de técnicas genéticas e estatísticas, inimagináveis para Wallace.

Os cientistas reuniram dados sobre a localização e as relações evolutivas de 21.037 espécies de vertebrados, como mamíferos, anfíbios e aves, para caracterizar seus padrões biogeográficos naturais. O que o documento mostra é que as diferentes áreas do mundo costumam abrigar tipos específicos de espécies, que tornam cada região diferente da outra nesse aspecto. Foram identificadas ao todo 20 regiões, que abrigam 11 grandes reinos (veja acima). O novo mapa, apresentado na edição de sexta-feira da revista Science, também busca descrever o relacionamento histórico e evolutivo entre essas macrorregiões.

“Nosso estudo é uma longa atualização de um dos mapas mais fundamentais em ciências naturais. Pela primeira vez, desde a tentativa de Wallace, estamos finalmente em condições de fornecer uma descrição ampla do mundo natural com base em informações incrivelmente detalhadas para milhares de espécies de vertebrados”, diz Ben Holt, coautor do trabalho.

Outra preocupação do grupo foi criar um coeficiente, de 0 a 1, que mostra o quanto um reino é único em relação aos demais. Ou seja, quanto mais próximo de 1, maior o número de espécies que só existem naquela parte. Nesse quesito, chamado diversidade beta, os reinos Australiano e Madagascar lideram, com índices 0,68 e 0,63, respectivamente.

Segundo a professora doutora em geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Angela Beltrame, o resultado mostra como a Austrália tem, hoje, fauna muito distinta do restante do mundo, bastante exótica e com espécies encontradas somente naquela parte do mundo. “Não é muito difícil entender por que isso ocorre, pois a Austrália e Madagascar são duas ilhas que ficaram isoladas e se mantêm isoladas geneticamente. Essa situação faz com que novas espécies surjam”, explica. O reino Neotropical, que inclui as espécies que vivem no Brasil e no restante da América do Sul, aparece em seguida nesse ranking de diversidade beta, com coeficiente 0,61.

Para a coordenadora de Apoio à Pesquisa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Kátia Ribeiro, o estudo reforça exatamente o entendimento de que o Brasil abriga uma imensa diversidade beta. “Grande conjunto de espécies é exclusivo desta região. A proteção de nossas espécies é fundamental para conservação da biodiversidade global e exige uma boa distribuição espacial das áreas protegidas, abrigando os mais diferentes ecossistemas, regiões e suas conexões”, diz.

Kátia acrescenta que, embora o conhecimento existente da biodiversidade no território nacional ainda seja muito pequeno, todas as informações que chegam reforçam esse padrão de elevada diversidade beta. A opinião é compartilhada pela secretária-geral do WWF Brasil, Maria Cecília Wey de Brito, que ainda ressalta a importância de mapas biogeográficos detalhados para identificar a distribuição de espécies ameaçadas. Com dados cada vez mais atualizados, será possível otimizar a gestão ambiental e a ação da sociedade, de instituições e de organizações.

Longe do isolamento geográfico que Madagascar e Austrália vivenciam, a América Latina tem a seu favor a estabilidade climática e o difícil tráfego de espécies terrestres para outros continentes. “Temos uma certa estabilidade climática, já que a região está em um pedaço do planeta em que o resfriamento e o aquecimento globais tiveram menos impacto que outras. Uma complicada ligação terrestre com a América do Norte fez com que a fauna e a flora tivessem características únicas e uma diversidade muito grande”, detalha Maria Cecília.


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