Essas amostras foram processadas – sendo extraídos o DNA e o RNA – e passaram por uma série de exames, que identificaram moléculas que estavam mais ou menos expressas nas pacientes com câncer de ovário. É como uma impressão digital genética levando a possibilidade de marcadores sobre o comportamento da doença, identificando a fase (se inicial, mais avançada) e se se trata de tumor mais agressivo. As pesquisadoras estudaram proteínas que atuam protegendo a célula doente e tornam ineficaz o tratamento, não respondendo às drogas chamadas de recombinantes e anticorpos monoclonais que têm a função de matar a célula doente.
O resultado da pesquisa identificou que essas drogas usadas para tratar as pacientes com câncer de ovário não trazem benefício algum nos casos de tumores metastáticos e serve de alerta para uso generalizado desse tipo de combate. “O uso das drogas à base de proteína trail recombinante e anticorpos monoclonais antitrail pode não ter eficácia no combate à doença em determinados tipos de tumores. Com a pesquisa, identificamos um grupo cujo tratamento poderia ser eficaz, conta Letícia da Conceição Braga, autora da pesquisa que se transformou em tese de doutorado da pesquisadora.
Esses novos tratamentos baseados na proteína trail perdem sua eficácia em mulheres já em fase de metástase. “Esse tratamento deve ser aplicado em pacientes que expressam menos o gene. Nesse caso, os tumores primários, passíveis de cura e recuperação. Pacientes com metástase se tornam refratárias a essa terapêutica”, afirma a pesquisadora.
De acordo com ela, o que ocorre atualmente é que o tratamento quimioterápico é aplicado de maneira indiscriminada, sem determinar se as pacientes respondem a uma determinada droga. “Daí a relevância do nosso trabalho: evitar que uma promissora estratégica terapêutica se torne ineficaz por puro desconhecimento da biologia do tumor”, explica a doutora.
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O grande problema, segundo o ginecologista, é que efetivamente não há hoje método de diagnóstico para rastrear o câncer de ovário, diferentemente do câncer de colo do útero, como o exame de papanicolau, ou o de mama, que pode ser detectado pela mamografia e o utrassom. Não há ainda nenhum teste que possa ser aplicado com o objetivo de um diagnóstico precoce. A paciente assintomática com exame clínico normal tem muito pouco a oferecer nessa identificação. Daí a importância de pesquisa de biomarcadores, tanto para o diagnóstico quanto para o rastreamento, de resposta ao tratamento e segmento pós tratamento. Isso requer grande investimento financeiro, pois são pesquisas sofisticadas e de longa duração.
Esse tumor costuma ser assintomático, por isso é recomendado que os médicos valorizem as queixas dos pacientes. “São sintomas genéricos que vão desde a distensão ao desconforto abdominais, que podem ter várias causas. Mas esses sintomas, especialmente com duração inferior a seis meses, chamam a atenção e merecem investigação, seja por meio de exames, como o de sangue, e testes diagnósticos, como o de ultrassom transvaginal, que é um instrumento de diagnóstico mas não serve para rastreamento”, acrescenta Agnaldo.
Os resultados até agora apontam uma perspectiva positiva, segundo o professor da UFMG, indicando algumas moléculas candidatas ao tratamento. Ele espera que nos próximos cinco anos seja possível oferecer um tratamento clínico como alternativa: “Hoje não há método eficaz para diagnóstico. A paciente que tem sintomas como sangramento uterino anormal, distensão abdominal sem definição clara, ou fez alguns exames que mostrem a possibilidade de algum cisto deve ser avaliada pelo ginecologista e em casos mais críticos, por um profissional experiente em oncologia ginecológica”, diz. Outra coisa que chama a atenção, segundo o médico, é a genética familiar: 5% dos cânceres de ovário apontam evidências familiares, e uma grande relação com o câncer de mama.
Estágio avançado
Para a médica ginecologista e obstetra dos hospitais Mater Dei e Instituto Mineiro de Câncer Mário Pena Sálua Oliveira Calil de Paula, ainda não se conseguiu chegar a marcadores específicos para o câncer de ovário. No Brasil, além da parceira entre Funed e UFMG, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem desenvolvendo pesquisas nesse sentido. Segundo Sálua, entre 60% e 70% dos casos desse tipo de tumor somente são descobertos quando se encontram no estágio 3 (eles vão de 1 a 4), o que já é uma situação gravíssima, quando as mulheres começam a apresentar sintomas. Segundo estudos publicados nos Estados Unidos, uma entre cada 68 a 70 mulheres terão câncer no ovário e 20% serão submetidas a algum tipo de intervenção cirúrgica na massa pélvica (quando há suspeita de alguma lesão no ovário).