Para investigar o comportamento cerebral durante as três fases, a equipe de Anand realizou exames de ressonância magnética funcional em pessoas bipolares que estavam maníacas, depressivas ou normais. Como o uso de medicamentos mascara a atividade dos circuitos neurais, apenas pacientes diagnosticados mas não tratados entraram na pesquisa. Pessoas mentalmente saudáveis também participaram, como grupo de controle. Enquanto a máquina registrava o que ocorria em seus cérebros, os voluntários foram submetidos a uma série de testes comportamentais usados frequentemente em estudos psicológicos. Essas avaliações, chamadas de go/no go, têm como objetivo investigar a inibição da resposta, termo usado para definir a capacidade de uma pessoa de controlar e de suprimir ações impróprias a um contexto.
Reações distintas
No estudo, faces com expressões tristes e alegres foram usadas como estímulo. Durante a sequência de imagens, ora os participantes tinham de apertar um botão apenas quando viam rostos felizes, ora eram instruídos a fazer o mesmo somente quando a expressão era de tristeza. Também havia fotos de letras aleatórias, incluídas como estímulo neutro, não emotivo. Os pesquisadores observaram que nos grupos de maníacos ou deprimidos houve mais dificuldade e falhas quando os pacientes viam faces alegres ou tristes e não podiam apertar o botão, sinal de que a inibição da resposta estava deficiente.
No dia a dia, isso significa, por exemplo, que o indivíduo maníaco dificilmente resiste à tentação de fazer uma aposta alta quando está em um cassino. Da mesma forma, o bipolar na fase deprimida pode atentar contra a vida por um motivo que, em outros momentos, não o deixaria abalado, devido ao déficit no sistema de resposta a estímulos.
A ressonância magnética realizada durante os testes mostrou que quando os deprimidos não podiam apertar o botão ao ver um rosto triste, ocorria uma atividade cerebral anormal, comparando ao grupo de indivíduos mentalmente saudáveis. Já os maníacos apresentaram padrões de estímulo cerebral deficientes tanto quando tinham de controlar a resposta diante de faces tristes quanto na hora em que precisavam fazer o mesmo em relação aos rostos felizes ou às letras neutras. As anomalias na ativação do cérebro foram verificadas mesmo nos pacientes que são bipolares mas, no momento do teste, estavam na fase de humor equilibrado.
“Com isso, constatamos que o transtorno bipolar é mais complexo ainda, do ponto de vista das interações neurais. O comportamento anormal do cérebro difere, dependendo da fase em que o paciente se encontra”, diz Anand. O fato de alterações terem sido identificadas mesmo nas pessoas que não estavam passando por flutuações de humor na época da pesquisa indica que a atividade cerebral desregulada não é apenas um efeito secundário das fases de mania e depressão, mas uma característica da própria doença. Amit Anand reconhece que o estudo ainda é embrionário e precisa ser replicado, mas acha que as descobertas poderão ajudar no desenvolvimento de medicamentos mais precisos. “Para que um tratamento seja eficaz, é importante compreender os mecanismos neurais que estão por trás das anomalias na regulação das emoções. Foi isso que conseguimos fazer no nosso trabalho”, afirma o especialista.
Saiba mais os sintomas
Também conhecido como doença maníaco-depressiva, o transtorno bipolar é um problema mental que causa mudanças anormais no humor e na energia, interferindo na forma de lidar com tarefas do dia a dia. Os sintomas são severos, com diferentes formas de altos e baixos, dependendo do paciente.
Fase maníaca
» Euforia, com sensação de felicidade extrema
» Irritação e agitação
» Ficar facilmente distraído
» Pouca necessidade de sono
» Comportamentos de alto risco, como sexo impulsivo e investimentos financeiros súbitos
Fase depressiva
» Sentir-se preocupado ou vazio
» Perder o interesse em atividades antes prazerosas, incluindo o sexo
» Sentir-se sempre cansado, com dificuldades para se concentrar, lembrar e tomar decisões
» Mudança nos hábitos alimentares e padrões de sono
» Pensar muito em morte