Jornal Estado de Minas

Colecionadores reúnem computadores dos tempos do K7

Amantes de PCS e de televisores antigos confessam ser a paixão o motor pela busca de aparelhos antigos e raros. Movimento na internet reúne colecionadores e promove troca de informações

Shirley Pacelli
Computadores da linha Sinclair da década de 1980 do acervo de Emerson Maurilio Santos e Alexandre Neves: próximo desafio é completar a coleção - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
Em 1984, aos 12 anos, o empresário Alexandre Neves ganhou o seu primeiro computador: um TK82, produzido pela Microdigital. Desde então, sua paixão por esses equipamentos só cresceu. Com o amigo de infância Emmerson Maurílio Santos Pereira, jornalista de 40 anos, ele tem uma coleção de micros 8-bit, da década de 1980 da linha Sinclair, empresa inglesa. Ao todo, são cerca de 150 máquinas, de 50 modelos do período de 1979 a 1992. Por enquanto, a dupla está focada em conseguir completar a coleção com todos os equipamentos da Sinclair fabricadas na época.


O TK82 tinha somente 2KB de memória. Para se ter uma ideia, seria preciso 5 mil computadores desses para caber uma imagem de 10MB, comum nos dias de hoje. Cada modelo de computador pode custar R$ 10 ou até 600 libras, em sites de leilão. Tudo depende da raridade da máquina, do estado de conservação e da boa vontade do vendedor ou doador. Os três mais caros da coleção da dupla são o Sam Coupé (cerca de R$ 2 mil), o MSX Turbo-R (R$ 1,3 mil) e o NEZ8000 (R$ 1 mil). “O trio é como se fosse a moeda número 1 do Tio Patinhas”, brinca Alexandre.
DOAÇÕES

No início do ano passado, eles gastaram R$ 500 em novos modelos. Mas normalmente os computadores são obtidos por doações. Emerson Santos conta que alguns aparelhos foram trazidos da Inglaterra pela irmã. Outra fonte é o movimento chamado Retro Computing, que reúne pessoas que têm museus pessoais de PCs. Essa comunidade promove trocas de equipamentos e informações entre si. “Há quem faça ainda novos programas para esses antigos computadores. A comunidade é bem ativa na rede”, conta, ressaltando que há colecionadores que seguem a linha da Apple, enquanto outros a 586 (com processadores Pentium).
1981 - TK82 C - Produzido pela empresa brasileira Microdigital Eletrônica. Era um clone do ZX81, da Sinclair - Foto: Old Computers/Reproducao Internet
A dupla busca sempre por equipamentos que estejam funcionando e tenham os cabos e caixas originais. Toda a coleção fica resguardada de poeira e umidade em três cômodos de um sítio. Afinal, a esposa de Emmerson Maurílio reclamaria de tanta caixa em casa. Pelo menos uma vez a cada dois anos, eles ligam todas as máquinas. Ato preventivo, já que a mão de obra de computadores tão antigos é muito difícil de ser encontrada. “Às vezes, ligamos as máquinas para mostrar para a nova geração. O Alex tem um filho de seis anos e é interessante mostrar para ele os jogos primitivos, ouvir a trilha dos games”, explica o jornalista. Alexandre, por sua vez, informa que só no fim dos anos 1980 teve seu primeiro walkman e que a relação da música com o computador é especial: representava uma evolução.
1985 - TK-90X - Também produzido pela Microdigital Eletrônica. Era baseado no computador doméstico ZX Spectrum, da Sinclair - Foto: Taringa/Reproducao Internet
PURO HOBBY

Questionado sobre qual o seu computador preferido, Alexandre, primeiramente, diz ser o TK82-C que usou em sua adolescência. Ele tinha uma memória maior (128KB) e vinha com um gravador de K7 embutido. Pouco depois, muda de ideia e cita como o melhor o 1ChipMSX, projeto mais recente (2006) de um computador antigo da linha MSX. O micro aceita teclado de PC e pen drive.

No acervo da dupla estão também revistas históricas que anunciavam os lançamentos dos computadores da década de 1980, como a Micro Sistemas, primeira publicação brasileira especializada. Alexandre e Emmerson ainda fazem a recuperação digital dos softwares que, em tempos remotos, eram gravados em fita cassete. E você pensando que os disquetes eram os acessórios mais arcaicos da história do computador...

A dupla de aficionados ressalta que coleciona máquinas por hobby, sem retorno financeiro. “Fazemos isso também para preservar a história dos computadores no Brasil”, afirma Emmerson Maurílio. A ideia, segundo ele, é montar um museu aberto ao público, e para que isso ocorra, estão organizando com mais critérios a coleção. Uma exposição está sendo planejada ainda para este ano. Enquanto isso, vários encontros informais promovidos por eles vão fazendo a alegria dos amigos.