A história do rádio é quase tão polêmica quanto a do avião. Da mesma forma que os norte-americanos defendem que os irmãos Wright inventaram o veículo aéreo, em detrimento do 14 Bis, do brasileiro Santos Dummont, há também dúvidas sobre o verdadeiro “pai” do aparelho criado para fazer a difusão de informações sonoras por meio de ondas eletromagnéticas em diversas frequências. Enquanto os países do Primeiro Mundo reconhecem como inventor do rádio o cientista Guglielmo Marconi, que fez testes com a tecnologia em 1895 e adquiriu a patente em 1896, aqui no Brasil muitos acreditam que o verdadeiro criador foi o padre, cientista e engenheiro gaúcho Roberto Landell, que fez os primeiros testes dois anos antes (1893), mas que só obteve a patente em 1900.
Polêmicas à parte, o fato é que o rádio, mais de um século depois, ainda é um dos meios de comunicação mais populares do mundo. Seja em casa, no escritório, no carro, na cidade ou no campo, sempre há um aparelho pronto para captar emissoras AM ou FM. No Brasil, por exemplo, segundo o Ministério das Comunicações, são mais de 3 mil emissoras de rádio, distribuídas aproximadamente em 50% para AM e 50% para FM.
E foi ainda criança, no começo da década de 70, em Pirapozinho (interior de São Paulo), que nasceu no empresário Marcos Silva, de 46 anos, a paixão pelo rádio. “Quando estávamos na fazenda, eu ficava com meu pai ouvindo música e as radionovelas em um Philco Transglobe de seis faixas, e isso sempre me trouxe boas lembranças. Tinha admiração pelo ritual e o aparelho que propiciava aqueles momentos. Com o tempo, tive curiosidade de aprender e comecei a receber doações e a comprar rádios antigos que as pessoas não queriam mais”, conta.
O interesse em colecionar rádios antigos começou há mais de 20 anos. Atualmente, o acervo de Marcos Silva conta com 48 aparelhos e só não é maior porque ele parou por um tempo. Entre itens históricos estão o rádio Semp Toshiba modelo AC 431, fabricado a partir de 1951; o Hoffman americano, de 1946; o Philco Transglobe, de 1960 e um Frahm Diplomata, de 1955. O preferido dele é o General Electric modelo J-100, considerado o top de linha entre os rádios da década de 1930 devido à sua eficiência e ao bonito visual. Seu formato garantiu o apelido de “capelinha” ou “igrejinha”.
ZELO ESPECIAL E as raridades não param por aí. O maior de todos, que chama bastante a atenção, é um Philips 1956, olho mágico de seis faixas. Nele, Marcos ouve rádios de várias partes do mundo. Outro modelo, feito todo de ferro, é o Hallicrafters S-38B, de 1947, que fez sucesso no pós-guerra. Uma curiosidade é que, além de ser um receptor de rádio AM, ele também servia como transmissor. Ao lado dele nas prateleiras fica um Eronson TR-607, de 1961.
Marcos mostra com entusiasmo sua coleção e, para cada um dos itens, ele tem descrita a história do aparelho e como o conseguiu. Ele conta que, há uns cinco anos, uma senhora, com mais de 80 anos, viu sua coleção na entrada de sua loja e fez uma série de perguntas para ter certeza de que ele realmente gostava de rádios e tinha zelo por eles. No dia seguinte, voltou trazendo um rádio Johnson americano, de 1953, que teria feito parte de sua adolescência, e disse que era para ficar com ele. “Ela foi clara que não se tratava de uma doação. Era para eu cuidar dele, pois ela queria ter certeza de que o aparelho estaria em boas mãos antes de morrer. Poucos meses depois, essa senhora faleceu e a filha dela confirmou que eu deveria continuar cuidando do rádio.”
Segundo Marcos, como boa parte dos rádios é bem antiga e alguns utilizam válvulas, é normal que eles precisem ser consertados por causa da ação do tempo. Embora ganhe a vida consertando computadores e notebooks modernos, é reparando os rádios antigos que ele se diverte.