Poucos devem notar, mas amanhã um brilho discreto e incomum vai passar rapidamente pelos céus. O borrão luminoso será o sinal do maior asteroide a se aproximar do planeta desde que esses corpos se tornaram objeto de constante estudo e monitoramento, há 15 anos. Em termos espaciais, a rocha vai passar ‘de raspão’ na Terra, a 27 mil quilômetros. Para se ter uma ideia, o corpo transitará numa linha entre os satélites de comunicação e os de GPS, 10 vezes mais perto do planeta que a Lua. Mas astrônomos asseguram que ele só está de passagem e que não há riscos de choque.
Estima-se que existam meio milhão de objetos espaciais do tamanho do DA14 nas proximidades da Terra, mas uma aproximação desse tipo só ocorre a cada 40 anos. E somente um deles chega a atravessar a atmosfera a cada 1.200 anos.
O vulto brilhante deixado pela rocha espacial será visível na Europa Oriental, na Ásia e na Austrália, onde a noite vai facilitar o registro da visita. O momento de maior aproximação deve ser às 17h24 (horário de Brasília), quando ele vai atravessar o céu da Indonésia. O DA14 vai levar 33 horas para transitar pelo espaço entre a Terra e a Lua. Mesmo com a proximidade notável, o objeto não deve ter qualquer influência sobre a gravidade terrestre, nem atingir os satélites que orbitam o planeta. “Mesmo assim, estamos trabalhando com os gestores dos satélites para que estejam conscientes da passagem do asteroide. Eles podem usar essas informações para compará-las com as próprias previsões, e ver onde os satélites estarão naquele momento”, ressaltou Donald Yeomans, gerente do Programa de Observação de Objetos Próximos à Terra (NEO, na sigla em inglês), da Nasa (agência espacial norte-americana). “Ninguém levantou um alerta, eu certamente não antecipo nenhum problema.”
Embora o asteroide tenha uma órbita que coincide com a terrestre, os pesquisadores da agência espacial norte-americana, que estimaram o caminho da rocha pelo próximo século, asseguram que ela não deve se chocar contra o planeta no futuro. O retorno do asteroide está marcado para 2046, quando ele vai cruzar a órbita do planeta a uma distância de 1 milhão de quilômetros.
A TV da Nasa vai mostrar e comentar a aproximação do asteroide nesta sexta. Para acompanhar, clique aqui. Outra opção é baixar o aplicativo da TV no seu tablet ou smartphone.
Descoberta
O 2012 DA14 foi descoberto em fevereiro do ano passado por pesquisadores de um pequeno observatório em Mallorca, na Espanha. A equipe do grupo de pesquisa espacial La Sagra só viu o objeto depois de ele ter passado pela Terra, quando os astrônomos estudaram os registros de áreas pouco exploradas e notaram uma deformação que indicava a passagem de alguma coisa a 4,3 milhões de quilômetros. “Tivemos sorte em encontrá-lo. Passamos horas vendo as imagens, pois é difícil encontrar novos objetos próximos à Terra fora dos pontos pesquisados pelos EUA, que fazem isso muito bem”, comentou Jaime Nomen, astrônomo que encontrou o objeto.
O DA14 está entre os 5% de asteroides de grande proporção que passaram despercebidos pelo programa de observação da Nasa. “Quando um objeto como esse faz uma aparição muito rápida, ele poderia ser encontrado por qualquer um que estivesse buscando o céu”, justifica Timoty Spahn, diretor do Centro Harvard Smithsonian de Astrofísica. A suspeita é que ele tenha transitado rapidamente por uma janela da varredura feita pela agência, num ponto próximo ao polo da Terra.
A Nasa chegou a receber críticas por ter ignorado um objeto com quase 50m de diâmetro, registrado por um pequeno grupo de astrônomos com um equipamento de nível amador. Mas para Spahn, o desencontro não é motivo para colocar em xeque o trabalho da agência americana. “O La Sagra usa a palavra ‘amador’ de uma forma vaga. Esse é um bando de pessoas com habilidades profissionais, que estavam pagando para manter a pesquisa. Eles estão perfeitamente preparados para fazer esse tipo de trabalho. É absolutamente impressionante o que os chamados ‘amadores’ fazem”, argumenta.
A Nasa agora não pretende mais perder o notável asteroide de vista, e vai monitorar a passagem histórica pelo radar Goldstone do Sistema Solar, na Califórnia. A agência espera definir com mais precisão a trajetória do corpo celeste e simular as aproximações seguintes. A equipe também deve definir com mais precisão as características do DA14, como o seu tamanho e material. “As imagens que vamos conseguir não serão tão detalhadas, pois o 2012 DA14 é um objeto muito pequeno. Não conseguiremos imagens lindas, mas o radar vai fazer um ótimo trabalho para nos ajudar a entender a trajetória dele”, adianta Amy Mainzer, pesquisadora do Centro de Observação em Infravermelho Neowise, também da Nasa.
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