Enquanto adultos, em 1996, tinham em mãos celulares de toques monofônicos e computadores com internet discada, grande parte das crianças só queria um pequeno brinquedo com um monstrinho dentro. O Tamagotchi, lançado naquele ano, virou febre ao permitir que o público infantil tivesse um bichinho de estimação virtual portátil. Hoje, mais de 16 anos depois, a criatura retorna, desta vez na forma de um aplicativo para Android, e se une a outros jogos clássicos que aportam na nova geração de aparelhos.
A proposta de relançar o Tamagotchi para plataformas móveis chamou a atenção, mas essa não é uma prática nova. Segundo levantamento do Informátic@, pelo menos 50 jogos de sucesso, entre pagos e gratuitos, foram lançados nas últimas décadas. Desde a popularização dos smartphones e dos tablets, as empresas perceberam a oportunidade de trazer de volta às mãos das pessoas games que fizeram muito sucesso.
“Assim como ocorreu com muita gente, Snake foi meu primeiro contato com jogos de celular”, conta Thiago Bessa, desenvolvedor do INDT, que teve a ideia de repaginar o game clássico. Segundo ele, a oportunidade surgiu depois de ver pessoas em fóruns na internet questionando por que ainda não existia uma versão nova do game para smartphones e tablets. “Depois de pensar um pouco, vi que muitos tentaram, mas ninguém levava adiante. Como eu tinha condições de realizar esse projeto, fiz uma primeira versão e ela foi aprovada pelo INDT”, explica Bessa.
Para o desenvolvedor, a principal adaptação foi a jogabilidade. “Antes, controlava-se a cobrinha pelas teclas do celular, mas agora os smartphones não têm mais isso”, aponta Bessa. “Por isso, fizemos uma mudança para a tela sensível ao toque, que funcionou muito bem.”
Não foram apenas jogos de gráficos monocromáticos como Snake e o Tamagotchi que aproveitaram os aparelhos de última geração para retornar. Games clássicos como Final fantasy, Chrono trigger e Sonic também ganharam versões adaptadas para as plataformas iOS e Android – animando os saudosistas.
“Os jovens das décadas de 1980 e de 1990 que jogavam esses clássicos cresceram e hoje têm poder de compra e isso é um grande incentivo para as produtoras realizarem os relançamentos”, explica Saulo Camarotti, professor do curso de jogos digitais do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) e sócio da desenvolvedora de games Behold Studios.
ALTERAÇÕES Segundo ele, relançar esses jogos não chega a ser um movimento arriscado para as empresas, por serem games de sucesso comprovado. “Alguns desses jogos sofrem alterações para se adaptar ao modelo de negócios dos smartphones e tablets”, ressalta Camarotti. É o caso da Capcom, que lançou aplicativo com grandes sucessos como Street fighter e Ghouls n’ghosts. Ele oferece apenas 10 partidas grátis e, depois, passa a pedir que o usuário compre fichas virtuais, se quiser jogar mais.
Mas Camarotti acredita que, apesar de eventuais mudanças, esses aplicativos têm capacidade de conquistar não apenas fãs de longa data, mas também a nova geração de jogadores. “Não importa se os gráficos são mais simples, eles funcionam porque têm boa mecânica e divertem.”
O NOVO TERROR DAS PROFESSORAS
Batizado de Tamagotchi L.i.f.e, o aplicativo reproduz a experiência que se tinha anteriormente. Na tela, é mostrado o bicho com os mesmos gráficos da primeira versão do brinquedo e com os mesmos três botões utilizados para cuidar das necessidades básicas dele: alimentação, banho e diversão. A nova versão do Tamagotchi, porém, não está disponível ainda na loja virtual do Google no Brasil. A Bandai, empresa responsável pelo jogo, já afirmou que uma versão do aplicativo para o sistema iOS está em desenvolvimento.
Tabuleiro migrou
Outro tipo de jogo muito popular também chega aos aplicativos de celulares e tablets: os de tabuleiro. As fabricantes Estrela e Grow, duas das grandes empresas do ramo no Brasil, já lançaram versões móveis de grandes clássicos. A Estrela chegou primeiro ao mercado virtual, em dezembro do ano passado, ao lançar quatro jogos: Banco imobiliário, Autorama, Cilada e Pula Macaco estão disponíveis não apenas nos sistemas Android e iOS, mas também no Facebook. Os dois primeiros são gratuitos, enquanto os outros são adquiridos por 2,5 mil estrelinhas, moeda virtual que a Estrela desenvolveu exclusivamente para suas plataformas digitais.
Já a Grow acaba de lançar o aplicativo Imagem & Ação Friends, que procura inserir o clássico jogo de tabuleiro no mundo dos games sociais. O game lembra bastante o bem-sucedido Draw something. Nele, os jogadores disputam partidas entre amigos e enviam ilustrações para que eles adivinhem o que foi desenhado. Esse foi o primeiro de quatro lançamentos que a Grow pretende fazer em 2013. O aplicativo, que também está disponível para iOS, Android e Facebook, ganhará ainda uma versão para aparelhos móveis equipados com o sistema Windows Phone.