Jornal Estado de Minas

Galeria de Cientistas Notáveis

Jorge Macedo - especial para o EM

 

- Foto: O Cruzeiro/EMCÉSAR LATTES - Curitiba (PR)
11/7/1924 - 8/3/2005

Não há cientista que não o cite, afinal, ele dá nome à plataforma de cadastro de pequisadores no Brasil. Mas são os físicos que o conhecem mais: César Lattes comprovou a existência do méson pi, partícula subatômica que garante a coesão do átomo. Em 1935, o cientista japonês Hideki Yukawa já defendia a existência da partícula. No entanto, foram as experiências realizadas por Lattes nos anos 1940 que comprovaram a teoria, que marca o início da chamada física de partículas elementares, ou física de altas energias. Apesar de convites de universidades estrangeiras, ele fez carreira universitária no Brasil. Além de professor da Universidade de São Paulo, da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da Universidade Estadual de Campinas, é um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Lattes também integrou diversas academias e sociedades científicas brasileiras e internacionais. Em seu próprio currículo estão prêmios reconhecidos, como o Einstein; o Fonseca Costa; o Bernardo Houssay, da Organização dos Estados Americanos; e o Prêmio de Física da Academia de Ciências do Terceiro Mundo. Mas foram Hideki Yukawa e Cecil Powell, companheiro de Lattes em suas experiências, que receberam o Prêmio Nobel pela descoberta do méson pi.

 

 

OSWALDO CRUZ - São Luís do Paraitinga (SP)

5/8/1872 - 11/2/1917

 

Seu nome é adotado pela mais destacada instituição de ciência e tecnologia em saúde da América Latina: a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Pudera: o médico e sanitarista fundou a medicina experimental no Brasil. Entre seus principais feitos estão o combate ao surto de peste bubônica no litoral paulista e a erradicação de doenças endêmicas no Rio de Janeiro. Com suas pesquisas, desenvolveu as vacinas que controlaram as doenças que mais matavam na época: a febre amarela e a varíola. Oswaldo Cruz era um notável. Ainda com 14 anos, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se doutorou em 1892, defendendo a tese da veiculação microbiana pelas águas. Na França, estagiou no Instituto Pasteur e, na Alemanha, aplicou os conhecimentos adquiridos na direção do Instituto Soroterápico, antigo nome da Fiocruz, quando elevou o nível do centro de fabricação de vacinas e de medicina experimental. Foi diretor-geral da Saúde Pública do Rio de Janeiro, onde iniciou as famosas brigadas mata-mosquitos, quando guardas sanitários percorriam as residências eliminando focos do mosquito transmissor da febre amarela, algo como o combate atual ao transmissor da dengue. Foi ainda membro da Academia Brasileira de Letras e assumiu o cargo de prefeito de Petrópolis, morrendo uma semana depois.

 

- Foto: Arquivo EMMILTON SANTOS - Brotas de Macaúbas (BA)
3/5/1926 - 24/6/01

Não é um Nobel, mas simplesmente porque não existe no prêmio mais famoso do planeta uma categoria para sua área de pesquisa. Milton Santos, entretanto, foi o único pesquisador fora do mundo anglo-saxão a receber, pelo conjunto de sua obra, o Vautrin Lud, que pode ser considerado o "Nobel da Geografia". Seus esforços foram dedicados a dissecar a globalização da economia, enfatizando seu efeito devastador no Brasil, e propor saídas para que a população pobre não fosse mais parte desse jogo apenas como vítima. Bacharel em direito pela Universidade Federal da Bahia, não chegou a exercer a profissão. Preferiu um concurso público para professor secundário e foi lecionar geografia em Ilhéus. Por causa de sua posição política, foi perseguido e preso, passando dois meses num quartel de Salvador (BA). Libertado, partiu para a França e graças ao exílio forçado se projetou internacionalmente. Doutor em geografia pela Universidade de Estrasburgo e professor visitante em Stanford, estudou e ministrou aulas na Europa, Américas e África, nas universidades de Paris, Columbia, Toronto e Dar Assalaam (Tanzânia). Também atuou como consultor da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Unesco. Publicou mais de 40 livros e 300 artigos.

 

GILBERTO FREYRE
Sir. Gilberto Freyre não foi o título mais importante recebido pelo pesquisador que introduziu a antropologia moderna no Brasil. Quando a rainha da Inglaterra contemplou Gilberto Freyre com o mais alto título da monarquia britânica ele já era o quarto brasileiro a receber o Prêmio Aspen, do americano Instituto Aspen. Tinha, inclusive, sido indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, em 1947. Freyre se destacou logo em seu primeiro livro, Casa-grande e senzala, em que descreve a vida nos engenhos e a formação da economia nacional sob o regime da escravidão. Seu método de pesquisa via no cotidiano um elemento importante para o estudo das ciências sociais e foi adotado nos estudos antropológicos e sociológicos posteriores. Primeiro livro da trilogia Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil, que explica a formação social e antropológica brasileira, recuperando suas diversas fases, Casa-grande e senzala foi seguido por Sobrados e mucambos e Ordem e progresso. Freyre publicou também obras autobiográficas e sobre a história de Recife. Em 1935, participou da criação da Universidade do Distrito Federal, que tinha como filosofia a formação dos quadros intelectuais do país e acabou incorporada, pela política do Estado Novo, à Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

CARLOS CHAGAS
Oliveira (MG)

- Foto: Pela primeira vez na história da medicina, um pesquisador conseguiu descrever, por completo, o ciclo de uma doença. No caso, o mineiro Carlos Chagas e a tripanossomíase americana, conhecida como doença de Chagas. O médico e sanitarista foi responsável por importantes descobertas no ramo da parasitologia e da saúde pública: seus estudos possibilitaram o avanço das práticas de prevenção e combate a doenças como a malária e a gripe espanhola. Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, especializou-se no estudo experimental das doenças tropicais. Contratado por Oswaldo Cruz com a missão de controlar a epidemia de malária que assolava o município de Itatinga (SP) e o Norte de Minas Gerais, Chagas acabou descobrindo algo maior. Suas pesquisas em Minas o levaram a um protozoário até então desconhecido, que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz. Ficou mundialmente famoso. Em 1921, em viagem pelos Estados Unidos para uma série de conferências, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Harvard, tornando-se o primeiro brasileiro a obter a condecoração. Chagas foi ainda membro honorário da Société de Pathologie Exotique da França, da Royal Society of Tropical Medicine da Inglaterra e das Academias de Medicina de Paris, Bruxelas, Roma e Nova York.