Carolina Cotta
Caso de Alysson Muotri. Seu laboratório treinou praticamente toda a primeira geração de pesquisadores em células-tronco pluripotentes humanas no Brasil. “Formamos mais de 30 pessoas que estão espalhadas pelo país, tentando fazer pesquisa de ponta. Só conseguimos isso porque meu laboratório tem um vínculo positivo e parceria com o Brasil”, explica.
Meritocracia
Lucas Pinto, de 29, engrossa o time de cientistas que por enquanto vão se manter nos Estados Unidos. Ele nasceu lá, durante o doutorado do pai, mas foi na Universidade Federal de Minas Gerais que iniciou sua formação. A escolha por um doutorado fora teve vários motivos, entre eles o fato de acreditar que na sua área, a neurociência, teria uma formação mais sólida e mais oportunidades.
Terminando o quarto ano de doutorado na Universidade da Califórnia, em Berkeley, considera o mecanismo de fomento norte-americano mais meritocrático. “O sistema brasileiro desfavorece os pesquisadores no começo de carreira. A distribuição de verbas para pesquisa precisa ser reformulada para ser mais baseada nos méritos científicos das propostas de financiamento e menos no nome dos pesquisadores”, sugere.
A mesma crítica vai para os indicadores de produtividade. Lucas vê com preocupação o fato de no Brasil o número de artigos publicados ter mais peso que a qualidade e impacto das publicações. “Para financiamento, os pesquisadores aqui são forçados a publicar artigos em grande quantidade, o que inevitavelmente dilui a contribuição de cada trabalho para a ciência. Outra diferença é a massa crítica de cientistas, muito maior nos EUA. Isso gera maior colaboração, ventilação de ideias e inserção na comunidade científica, o que é essencial, dado que a ciência é um esforço comunitário.”Valores de bolsas são criticados
O doutorado sanduíche é a segunda modalidade mais atendida pelo Ciência sem Fronteiras e levou Matheus Pereira Porto, de 30 anos, a uma das instituições de ensino mais consagradas do mundo: a Universidade da Califórnia, onde está desde outubro e se dedica a estudar refrigeração e armazenamento de energia renovável. Doutorando em engenharia mecânica pela UFMG, se impressiona com o empreendedorismo. “Aqui se tem toda uma estrutura para fazer pesquisa ganhando dinheiro. Infelizmente, o Brasil ainda não está preparado para isso.” Ele e colegas veem falhas no programa, como a falta de plano de saúde para os intercambistas.
Em pós-doutoramento no Salk Institute for Biological Studies, na Califórnia, Maximiller Dal-Bianco Costa, de 31, reclama dos valores das bolsas. “Recebemos abaixo do mínimo exigido por lei para trabalhar aqui. Somos contratados com funções diferentes da que desempenhamos e aceitamos por ser uma oportunidade única. Está na hora de parar de justificar o ‘investimento na carreira’ como forma de pagar pouco. Como é que um profissional desenvolve experimentos caríssimos e recebe uma porção ínfima para seu sustento? Está errado”, desabafa Maximiller, doutor em ciências biológicas pela Universidade de São Paulo.
Pessoalmente, ele quer voltar para o Brasil – exigência do Ciência sem Fronteiras –, profissionalmente, não. “A perspectiva aqui é muito melhor. É difícil pensar em voltar para um lugar com estrutura inferior. No entanto, tem o investimento colocado em nossas carreiras pelo governo e o retorno que podemos levar para o nosso país. O modelo do Ciência sem Fronteiras é perfeito e está funcionando bem. No entanto, é só um pontapé inicial. O país terá que abrir mercado para abrigar esta nova geração de cientistas”, diz.
Em 2012, a aluna de farmácia Marina Santos, de 24 anos, estudou na University of Missouri, nos EUA, e fez um estágio na Amgen, uma das maiores empresas de biotecnologia do mundo. Constatou que as pesquisas nos Estados Unidos ocorrem de forma mais rápida e contam com muito mais recursos. “No Brasil o processo de pesquisa ainda é burocrático e demorado. Se por um lado isso dificulta o desenvolvimento dos trabalhos, por outro os brasileiros desenvolvem a ‘técnica do improviso’: saber se virar frente às dificuldades é essencial em um contexto de inovação. Percebi que os brasileiros têm maior experiência com relação à pesquisa do que um americano com o mesmo nível de escolaridade. A questão aqui é onde e como esse trabalho está sendo empregado”, acredita a bolsista de iniciação científica.