O estresse oxidativo se relaciona com a teoria do envelhecimento por meio dos radicais livres, moléculas altamente reativas que provocam a oxidação celular, um processo natural que ocorre desde o nascimento e é balanceado com a ação dos antioxidantes. Quando o organismo é jovem, existe um equilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs, um tipo de radical livre), e a desintoxicação do organismo, por meio de sistemas biológicos que as removem ou reparam os danos causados por elas. Ao envelhecer, a produção desses radicais livres tende a superar a capacidade protetora do corpo, levando ao estresse oxidativo.
Em humanos, esse desequilíbrio está ligado a uma série de problemas, alguns graves, como os males de Parkinson e de Alzheimer. E, segundo os pesquisadores europeus, ele leva também à mudança na cor dos fios. Nesse caso, devido a um estresse oxidativo massivo e pontual, por meio do acúmulo de peróxido de hidrogênio na raiz mais profunda dos fios, o folículo piloso. Esse dano faz com que o fio que cresce naquele local sofra uma alteração em sua pigmentação e cresça cada vez mais grisalho, até tornar-se branco.
O primeiro grande feito da equipe de Schallreuter foi entender o que provoca esse acúmulo de peróxido de hidrogênio (H2O2) na raiz dos fios. Após examinar em laboratório culturas de células de folículos capilares humanos, o grupo descobriu que ele se deve à redução de uma enzima chamada catalase, capaz de quebrar o H2O2. Além disso, o dano causado pelo excesso do composto não é reparado por causa dos baixos níveis de enzimas denominadas MSR A e B. Essas duas condições afetam a formação da tirosinase, outra enzima que conduz à produção de melanina nos folículos pilosos. A melanina é o pigmento natural do organismo responsável pela cor do cabelo, cor da pele e cor dos olhos.
Resultados animadores Depois de decifrarem a combinação de mudanças que leva aos fios brancos, os cientistas partiram para uma forma de reverter o processo, ou seja, fazer com que o corpo volte a produzir fios escuros. No estudo divulgado há poucos dias, foram feitos testes em 10 pacientes com vitiligo — nessa doença, não só a pele mas também cabelos, sobrancelhas, cílios, barba e pelos do corpo podem sofrer despigmentação.
Os participantes receberam um tratamento especialmente desenvolvido pelos pesquisadores e descrito como um composto tópico ativado com raios UVB, chamado pseudocatalase modificada (PC-Kus). O método mostrou-se eficaz para reduzir o acúmulo maciço de peróxido de hidrogênio. Como consequência, o aspecto da pele de pacientes teve melhoras e pelos do corpo que estavam despigmentados voltaram à cor original.
O resultado é considerado muito animador pelo pesquisador da Universidade de Nova York e editor-chefe no Faseb Journal, Gerald Weissmann. “Por gerações, inúmeros remédios foram desenvolvidos para esconder os cabelos grisalhos, mas pela primeira vez um tratamento de verdade, que chega à raiz do problema, foi desenvolvido”, afirma em um comunicado à imprensa. “Essa notícia é empolgante, mas ainda mais animador é que ela também funciona para vitiligo. Essa condição, embora tecnicamente cosmética, pode ter sérios efeitos sociais e emocionais nas pessoas. Desenvolver um tratamento efetivo para essa condição pode melhorar radicalmente a vida de muitas pessoas”, completa.
Os cientistas responsáveis pelo estudo lembram que outras pesquisas serão necessárias, tanto para aprimorar a técnica quanto para torná-la realmente eficaz. A líder da investigação, no entanto, não esconde seu entusiasmo, especialmente a respeito do impacto que pode haver na vida de pacientes com vitiligo. “Não há dúvidas de que a perda localizada e repentina da cor hereditária da pele e dos cabelos pode afetar as pessoas de muitas formas. A melhoria da qualidade de vida após a repigmentação total ou mesmo parcial está muito bem documentada”, diz Schallreuter, em um comunicado. “(A pesquisa) abre novas janelas para a prevenção e possível reversão desse processo.”
Para a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Denise Steiner, a ideia de usar a pseudocatalase não é exatamente uma novidade. “Essa hipótese já foi aventada numa certa ocasião, há algum tempo atrás, e houve trabalhos realizados por grupos alemães. Inclusive, havia a tentativa de produzir uma medicação, mas depois, não sei qual foi o impedimento, o trabalho parou”, recorda. Para ela, a proposta ainda precisa de maiores comprovações científicas, mas é baseada em uma hipótese que faz bastante sentido. “Acreditamos que, com o passar do tempo, você aumenta a oxidação das células do organismo e tem a degradação de várias condições, sendo que uma delas facilmente pode estar relacionada à pigmentação”, diz.