No futuro, disfarçar os cabelos brancos não será um problema resolvido nos salões de beleza, mas no consultório médico. Um estudo recente abre caminho para tratamentos que esconderão um dos sinais mais clássicos do envelhecimento de dentro para fora, dispensando o uso de pigmentos químicos. Após anos de pesquisa, cientistas europeus decifraram a raiz do mecanismo molecular que causa o esbranquiçar dos fios e desenvolveram uma forma de revertê-lo. Além dos benefícios estéticos, o estudo, publicado on-line pela revista científica The Faseb Journal, promete ajudar também pessoas com vitiligo, doença que causa a despigmentação da pele e, em muitos casos, dos pelos do corpo — a reversão dos fios brancos foi comprovada em 10 pacientes com a enfermidade.
Para chegar ao resultado, a equipe de estudiosos — liderada por Karin Schallreuter, do Departamento de Ciências Biomédicas e Dermatologia Clínica e Experimental da Universidade de Bradford, no Reino Unido — partiu de uma pesquisa realizada em 2009, quando foi possível confirmar uma antiga suspeita: a de que o envelhecimento capilar está ligado ao estresse oxidativo do organismo.
O estresse oxidativo se relaciona com a teoria do envelhecimento por meio dos radicais livres, moléculas altamente reativas que provocam a oxidação celular, um processo natural que ocorre desde o nascimento e é balanceado com a ação dos antioxidantes. Quando o organismo é jovem, existe um equilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs, um tipo de radical livre), e a desintoxicação do organismo, por meio de sistemas biológicos que as removem ou reparam os danos causados por elas. Ao envelhecer, a produção desses radicais livres tende a superar a capacidade protetora do corpo, levando ao estresse oxidativo.
Em humanos, esse desequilíbrio está ligado a uma série de problemas, alguns graves, como os males de Parkinson e de Alzheimer. E, segundo os pesquisadores europeus, ele leva também à mudança na cor dos fios. Nesse caso, devido a um estresse oxidativo massivo e pontual, por meio do acúmulo de peróxido de hidrogênio na raiz mais profunda dos fios, o folículo piloso. Esse dano faz com que o fio que cresce naquele local sofra uma alteração em sua pigmentação e cresça cada vez mais grisalho, até tornar-se branco.
O primeiro grande feito da equipe de Schallreuter foi entender o que provoca esse acúmulo de peróxido de hidrogênio (H2O2) na raiz dos fios. Após examinar em laboratório culturas de células de folículos capilares humanos, o grupo descobriu que ele se deve à redução de uma enzima chamada catalase, capaz de quebrar o H2O2. Além disso, o dano causado pelo excesso do composto não é reparado por causa dos baixos níveis de enzimas denominadas MSR A e B. Essas duas condições afetam a formação da tirosinase, outra enzima que conduz à produção de melanina nos folículos pilosos. A melanina é o pigmento natural do organismo responsável pela cor do cabelo, cor da pele e cor dos olhos.
Resultados animadores Depois de decifrarem a combinação de mudanças que leva aos fios brancos, os cientistas partiram para uma forma de reverter o processo, ou seja, fazer com que o corpo volte a produzir fios escuros. No estudo divulgado há poucos dias, foram feitos testes em 10 pacientes com vitiligo — nessa doença, não só a pele mas também cabelos, sobrancelhas, cílios, barba e pelos do corpo podem sofrer despigmentação.
Os participantes receberam um tratamento especialmente desenvolvido pelos pesquisadores e descrito como um composto tópico ativado com raios UVB, chamado pseudocatalase modificada (PC-Kus). O método mostrou-se eficaz para reduzir o acúmulo maciço de peróxido de hidrogênio. Como consequência, o aspecto da pele de pacientes teve melhoras e pelos do corpo que estavam despigmentados voltaram à cor original.
O resultado é considerado muito animador pelo pesquisador da Universidade de Nova York e editor-chefe no Faseb Journal, Gerald Weissmann. “Por gerações, inúmeros remédios foram desenvolvidos para esconder os cabelos grisalhos, mas pela primeira vez um tratamento de verdade, que chega à raiz do problema, foi desenvolvido”, afirma em um comunicado à imprensa. “Essa notícia é empolgante, mas ainda mais animador é que ela também funciona para vitiligo. Essa condição, embora tecnicamente cosmética, pode ter sérios efeitos sociais e emocionais nas pessoas. Desenvolver um tratamento efetivo para essa condição pode melhorar radicalmente a vida de muitas pessoas”, completa.
Os cientistas responsáveis pelo estudo lembram que outras pesquisas serão necessárias, tanto para aprimorar a técnica quanto para torná-la realmente eficaz. A líder da investigação, no entanto, não esconde seu entusiasmo, especialmente a respeito do impacto que pode haver na vida de pacientes com vitiligo. “Não há dúvidas de que a perda localizada e repentina da cor hereditária da pele e dos cabelos pode afetar as pessoas de muitas formas. A melhoria da qualidade de vida após a repigmentação total ou mesmo parcial está muito bem documentada”, diz Schallreuter, em um comunicado. “(A pesquisa) abre novas janelas para a prevenção e possível reversão desse processo.”
Para a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Denise Steiner, a ideia de usar a pseudocatalase não é exatamente uma novidade. “Essa hipótese já foi aventada numa certa ocasião, há algum tempo atrás, e houve trabalhos realizados por grupos alemães. Inclusive, havia a tentativa de produzir uma medicação, mas depois, não sei qual foi o impedimento, o trabalho parou”, recorda. Para ela, a proposta ainda precisa de maiores comprovações científicas, mas é baseada em uma hipótese que faz bastante sentido. “Acreditamos que, com o passar do tempo, você aumenta a oxidação das células do organismo e tem a degradação de várias condições, sendo que uma delas facilmente pode estar relacionada à pigmentação”, diz.
Para chegar ao resultado, a equipe de estudiosos — liderada por Karin Schallreuter, do Departamento de Ciências Biomédicas e Dermatologia Clínica e Experimental da Universidade de Bradford, no Reino Unido — partiu de uma pesquisa realizada em 2009, quando foi possível confirmar uma antiga suspeita: a de que o envelhecimento capilar está ligado ao estresse oxidativo do organismo.
O estresse oxidativo se relaciona com a teoria do envelhecimento por meio dos radicais livres, moléculas altamente reativas que provocam a oxidação celular, um processo natural que ocorre desde o nascimento e é balanceado com a ação dos antioxidantes. Quando o organismo é jovem, existe um equilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs, um tipo de radical livre), e a desintoxicação do organismo, por meio de sistemas biológicos que as removem ou reparam os danos causados por elas. Ao envelhecer, a produção desses radicais livres tende a superar a capacidade protetora do corpo, levando ao estresse oxidativo.
Em humanos, esse desequilíbrio está ligado a uma série de problemas, alguns graves, como os males de Parkinson e de Alzheimer. E, segundo os pesquisadores europeus, ele leva também à mudança na cor dos fios. Nesse caso, devido a um estresse oxidativo massivo e pontual, por meio do acúmulo de peróxido de hidrogênio na raiz mais profunda dos fios, o folículo piloso. Esse dano faz com que o fio que cresce naquele local sofra uma alteração em sua pigmentação e cresça cada vez mais grisalho, até tornar-se branco.
O primeiro grande feito da equipe de Schallreuter foi entender o que provoca esse acúmulo de peróxido de hidrogênio (H2O2) na raiz dos fios. Após examinar em laboratório culturas de células de folículos capilares humanos, o grupo descobriu que ele se deve à redução de uma enzima chamada catalase, capaz de quebrar o H2O2. Além disso, o dano causado pelo excesso do composto não é reparado por causa dos baixos níveis de enzimas denominadas MSR A e B. Essas duas condições afetam a formação da tirosinase, outra enzima que conduz à produção de melanina nos folículos pilosos. A melanina é o pigmento natural do organismo responsável pela cor do cabelo, cor da pele e cor dos olhos.
Resultados animadores Depois de decifrarem a combinação de mudanças que leva aos fios brancos, os cientistas partiram para uma forma de reverter o processo, ou seja, fazer com que o corpo volte a produzir fios escuros. No estudo divulgado há poucos dias, foram feitos testes em 10 pacientes com vitiligo — nessa doença, não só a pele mas também cabelos, sobrancelhas, cílios, barba e pelos do corpo podem sofrer despigmentação.
Os participantes receberam um tratamento especialmente desenvolvido pelos pesquisadores e descrito como um composto tópico ativado com raios UVB, chamado pseudocatalase modificada (PC-Kus). O método mostrou-se eficaz para reduzir o acúmulo maciço de peróxido de hidrogênio. Como consequência, o aspecto da pele de pacientes teve melhoras e pelos do corpo que estavam despigmentados voltaram à cor original.
O resultado é considerado muito animador pelo pesquisador da Universidade de Nova York e editor-chefe no Faseb Journal, Gerald Weissmann. “Por gerações, inúmeros remédios foram desenvolvidos para esconder os cabelos grisalhos, mas pela primeira vez um tratamento de verdade, que chega à raiz do problema, foi desenvolvido”, afirma em um comunicado à imprensa. “Essa notícia é empolgante, mas ainda mais animador é que ela também funciona para vitiligo. Essa condição, embora tecnicamente cosmética, pode ter sérios efeitos sociais e emocionais nas pessoas. Desenvolver um tratamento efetivo para essa condição pode melhorar radicalmente a vida de muitas pessoas”, completa.
Os cientistas responsáveis pelo estudo lembram que outras pesquisas serão necessárias, tanto para aprimorar a técnica quanto para torná-la realmente eficaz. A líder da investigação, no entanto, não esconde seu entusiasmo, especialmente a respeito do impacto que pode haver na vida de pacientes com vitiligo. “Não há dúvidas de que a perda localizada e repentina da cor hereditária da pele e dos cabelos pode afetar as pessoas de muitas formas. A melhoria da qualidade de vida após a repigmentação total ou mesmo parcial está muito bem documentada”, diz Schallreuter, em um comunicado. “(A pesquisa) abre novas janelas para a prevenção e possível reversão desse processo.”
Para a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Denise Steiner, a ideia de usar a pseudocatalase não é exatamente uma novidade. “Essa hipótese já foi aventada numa certa ocasião, há algum tempo atrás, e houve trabalhos realizados por grupos alemães. Inclusive, havia a tentativa de produzir uma medicação, mas depois, não sei qual foi o impedimento, o trabalho parou”, recorda. Para ela, a proposta ainda precisa de maiores comprovações científicas, mas é baseada em uma hipótese que faz bastante sentido. “Acreditamos que, com o passar do tempo, você aumenta a oxidação das células do organismo e tem a degradação de várias condições, sendo que uma delas facilmente pode estar relacionada à pigmentação”, diz.