Nestes dias em que as manifestações se multiplicam nas ruas, somado ao anúncio oficial da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre monitoramento na internet e às quedas de serviço do Facebook, não tardou a surgir a cultura da conspiração. Os temores têm até razão de ser, alimentados inclusive por recentes polêmicas envolvendo o governo norte-americano, acusado de espionar dados de milhões de usuários de redes como o Google e o Facebook, em um projeto chamado Prism.
“Existe a suspeita de que esse aviso tem o objetivo de monitorar grupos de conversa, mas não tenho certeza. Recebi também opiniões contrárias falando que era antispam e que o Facebook estaria suando a camisa para dar conta do conteúdo que os brasileiros estão gerando nos últimos dias”, diz. Além do comunicado, ele recebeu um e-mail bastante técnico sobre o qual, confessa, não entendeu muita coisa. O texto dizia que, devido a um bug, outros usuários, ao recorrer a uma ferramenta específica, receberam informações extras e podem ter tido acesso a dados sigilosos dele.
Na verdade, o e-mail tem a ver com uma falha de segurança do site, que expôs números de telefone e endereços de e-mail de aproximadamente 6 milhões de usuários. A rede enviou comunicado para todos os afetados. O White Hat, programa que oferece recompensa a pesquisadores que encontrarem problemas no Facebook, foi responsável por encontrar a falha. A empresa garantiu ter corrigido o problema em menos de 24 horas após tomar conhecimento do fato e não haver evidência de que o bug tenha sido explorado maliciosamente.
Luiz Gabriel se diz preocupado pois é sabido que as redes têm compromisso principal com o lucro e que as políticas de privacidade são bastantes controversas. “Os dados são usados para publicidade e isso já é terrível. Mas a situação se torna inadmissível quando há invasão de privacidade por parte de órgãos governamentais, criando um ambiente de paranoia”, ressalta. Ele acredita que o país está vivendo um momento em que é preciso resguardar a privacidade da troca de informações, uma vez que as redes sociais se transformaram em ferramentas de grande potencial de exercício democrático.
TROLLS? Enquanto usuários curtem e compartilham notícias, fotos e vídeos sem verificar a fonte da informação, Juarez Fernandes Barbosa Júnior, social media de 28 anos, se diverte. “Gente, me contaram aqui que tem 32 naves espaciais em cima da minha casa e 12 ônibus espaciais da Nasa. Estão planejando um golpe, saiu até na imprensa”, brincou em um post no seu perfil. O social media acredita que há muita especulação sobre o monitoramento nas redes, mas há também muito absurdo. Ele conta que, quando amigos próximos divulgam inverdades, faz questão de corrigi-los.
Para Juarez, na maior parte dos casos, como o assunto (manifestações) é muito relevante e todo mundo está falando sobre isso, o site entende como spam e deleta posts por considerá-los como suspeitos. “Foi a mesma coisa na época do Orkut, sobre aquela história de poder mudar a cor de fundo. Tenho certeza que tem um troll por trás dessas coisas”, afirma.
Anti-spam no Face
O Facebook define como spam “o contato repetitivo com as pessoas oferecendo conteúdo ou solicitações indesejadas. Isso inclui o envio de mensagens em massa, publicações excessivas de links ou imagens nas linhas do tempo das pessoas e envio de solicitações de amizade a pessoas não conhecidas pessoalmente”. O envio de spam é uma violação dos padrões da comunidade do Facebook.
Segundo Assolini, essa ação de segurança visa barrar a ação de worms que poderiam enviar milhares de mensagens automaticamente para os contatos, em curto espaço de tempo, e para coibir a ação de spammers. Somente um ser humano pode reconhecer e digitar o CAPTCHA – mecanismos automatizados não podem fazê-lo facilmente.
Para o sumiço de posts, há mais de uma explicação. A mais óbvia é a de que o dono a apagou. A segunda possibilidade é que muitos usuários tenham denunciado o conteúdo e, como o sistema é automatizado, o Facebook o retira do ar e só depois analisa a situação. Os protestos envolvem muitas questões políticas e instigam a troca de denúncias em massa entre grupos contrários.
Assolini afirma que o sistema de retirada automática de posts suspeitos funciona bem contra malwares, mas acaba afetando conteúdo legítimo. “Com qual critério eles analisam, eu não sei dizer”, pondera. A terceira opção é que o conteúdo tenha código malicioso. A própria Kaspersky tem cooperação com o site e reporta warms. O bloqueio temporário e a lentidão nos acessos tem a ver com o volume compartilhado na rede, afinal todas as mobilizações estão sendo combinada via rede social.
PRISM
Em resposta oficial à polêmica internacional do escândalo do Prism, o diretor de Segurança do Facebook, Joe Sullivan, afirmou que proteger a privacidade dos usuários é prioridade para a empresa. “Nós não disponibilizamos a qualquer organização governamental o acesso direto aos servidores do Facebook. Quando são solicitados dados ou informações sobre indivíduos específicos, examinamos cuidadosamente qualquer pedido e fornecemos informações apenas na medida exigida pela lei.” O posicionamento oficial foi confirmado por Mark Zuckerberg em seu perfil no site (https://on.fb.me/11KD84E).