Embora seja parecida com a teoria da evolução, proposta por Charles Darwin, em que a seleção natural e a constante adaptação têm papel central, a tese da Rainha Vermelha enfatiza a coevolução simultânea das espécies. Ao apostar nessa hipótese, Quental e Marshall se colocam contrários a outro modelo, chamado Fracasso do Apostador (ou Gambler’s Ruin, em inglês). “Essas dinâmicas não são como um jogador que perde tudo de uma vez em uma maré de azar. As espécies enfrentam constante mudança dos ambientes e, por isso, precisam se adaptar e evoluir continuamente”, defende Quental. Embora essa lógica pareça simples, “nenhum biólogo pensa em como a falha em originar novas espécies pode ser uma das causas de extinção de outras a logo prazo”, pontua o biólogo da USP.
Previsões Durante pouco mais de um ano, ele e Marshall analisaram 19 famílias de mamíferos que andaram sobre a Terra nos últimos 65 milhões de anos. Os resultados revelam que o tempo médio da fase de ascensão de uma espécie é estatisticamente igual ao de declínio, o que faz as trajetórias temporariamente simétricas. “A taxa de extinção aumenta quando outras espécies deixam de surgir. Além disso, a maioria das trajetórias de diversificação das espécies parece ser mais influenciada pelas taxas de origem do que pelas de extinção”, completa Quental.
Esses padrões podem alertar para um novo tipo de observação, que poderá ajudar os ecologistas a compreenderem que tipo de biodiversidade existirá nos próximos anos. “Não sabemos se o surgimento de espécies diminuiu, porque ninguém observa essas taxas. Não há registros atuais disso. Por isso, esse modelo chama nossa atenção para as taxas atuais de origem, que, se forem baixas demais, podem gerar consequências ambientais maiores do que as que prevemos para o meio ambiente”, analisa Rafael Loyola, biólogo da Universidade Federal de Goiás (UFG), que não participou do estudo. (IO)