Jornal Estado de Minas

Usuários de computador são presas fáceis no vasto reino da internet

Escândalo ligando o governo norte-americano à espionagem digital ao redor do mundo mostra como os usuários de computador são vulneráveis

Jorge Macedo - especial para o EM
Shirley Pacelli e Silas Scalioni

  A jornalista Bárbara Caldeira deixou o Facebook depois que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) começou a monitorar as redes sociais para prever potenciais protestos - Foto: Cristina Horta/EM/D.A PRESS

“Minha mãe me disse que grampearam o nosso telefone.” “Ela não é a sua mãe.” A tirinha que circula no Facebook é a representação bem-humorada do monitoramento na internet realizado pelos Estados Unidos sobre cidadãos brasileiros. Há duas semanas, antes mesmo de o Brasil ganhar relevância na polêmica história de espionagem do programa Prism, a jornalista Bárbara Caldeira, de 23 anos, resolveu deixar o Facebook. O estopim para a decisão foi o anúncio oficial de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está monitorando as redes sociais, até mesmo o Whatsapp, para prever potenciais protestos. “Sempre soube que o site é um ambiente virtual vigiado, mas com a declaração da Abin a espionagem foi legitimada. É uma sensação muito incômoda”, afirma.

Caldeira não tinha conta em Twitter nem Instagram e sempre foi meio avessa à exposição excessiva na rede. Mas, no dia a dia, confessa que assuntos pessoais acabam escapando por e-mails ao namorado, que mora em outra cidade. A funcionalidade da ferramenta a faz esquecer a vigilância. A jovem brinca que não tem nada a esconder e que o problema, para ela, é a insegurança: a falta de privacidade. Ela lembra que o presidente norte-americano, Barack Obama, chegou a dizer que a população terá que escolher entre privacidade e segurança.

Segundo ela, o Facebook é uma forma de monitoramento não só pela empresa, como também pelos outros contatos. “Você coloca uma foto, aonde você vai, com quem está... As pessoas o vigiam o tempo todo.” A jornalista acredita que cancelar a conta no site de Zuckerberg é um ato de resistência, já que o perfil no Face se tornou a identidade virtual das pessoas. Para ela, hoje é quase impossível estar fora do ambiente on-line. “As empresas avisam as condições de privacidade nos textos gigantescos dos termos de compromisso, mas acaba passando batido.”

Saber conviver com a realidade e não deixar que isso se transforme numa neurose. A orientação é de Eduardo D’Antona, diretor da Bitdefender no Brasil – empresa especializada em segurança computacional –, ao se referir à possibilidade de usuários de computador estarem sendo vigiados e espionados. “Se for para viver em pânico com medo do que pode ocorrer ao acessar a internet, é preferível esquecer que ela existe e não ligar mais o computador, pois é certo que a todo momento estamos sendo observados”, afirma ele, ressaltando que o escândalo da espionagem digital do governo norte-americano, que estourou nos últimos dias, não é um fato isolado. “Apesar de ilegal, isso sempre existiu. A questão é que agora o fato está sendo provado.”

POLÊMICO PROJETO
Vigilância eletrônica é a palavra de ordem no programa altamente secreto mantido pela agência de segurança nacional (NSA) dos Estados Unidos. Desde 2007, o Prism monitora mídias virtuais recuperando informações armazenadas e também em tempo real. O projeto permite a coleta de dados de clientes das empresas participantes. Google, Facebook, Apple, Yahoo!, Dropbox e Microsoft foram acusadas de estarem nessa lista.