Jornal Estado de Minas

Grupos, sites e até aplicativo reforçam a cultura do escambo

Pela internet, consumo colaborativo possibilita acesso a bens e serviços sem transações monetárias.

Jorge Macedo - especial para o EM
Shirley Pacelli
- Foto: Cristina Horta/EM/D.A PressQuando você faz o “para casa” do seu amigo para ganhar um salgadinho na hora do recreio ou dá carona só para ouvir um conselho, acredite: está praticando o escambo. A palavra significa troca e faz parte da história da humanidade. Os portugueses, por exemplo, davam espelhos para os índios cortarem árvores de pau-brasil. Na internet, o costume só se potencializou. Além do intercâmbio de conhecimento, a rede se mostrou uma excelente ferramenta para descobrir pessoas que querem aquilo que já não lhe é útil e frear a máquina consumista.

Há um ano, a estudante de ciências sociais Fernanda Rodrigues, a Ferê, de 26 anos, criou o grupo Escambo BH (https://on.fb.me/19sUKeP) no Facebook. Ela participava de uma comunidade de troca que se reunia sob o Viaduto Santa Tereza e quando os encontros acabaram sentiu falta da prática. Como os grupos que achou no site eram todos de outra cidade, resolveu criar um para Belo Horizonte.

“Quase nada meu fica parado. Quero dar valor àquilo que tenho”, ressalta a universitária. As primeiras pessoas adicionadas foram amigos, mas depois foi chegando gente e mais gente, até alcançar a marca de 1.288 membros. Todos os dias, de cinco a seis pessoas pedem para entrar na comunidade. Diante de um grupo tão grande ficou difícil fazer a gestão do conteúdo postado, por isso Ferê adicionou outras pessoas como moderadoras.

Além do apelo anticonsumista, ela explica que o grupo lhe foi muito útil porque ele adquiriu vários artigos de que precisava e não tinha condições de comprar. Na última troca, conseguiu enfim o berimbau para suas aulas de música ao oferecer um par de óculos. Discos, livros e instrumentos são os campeões de permutas, inclusive dela. “Muitas pessoas oferecem notebooks, por exemplo, mas não aceitam a troca que não seja no valor equivalente”, ressalva. Os escambos mais inusitados, normalmente, são os de serviço. Fotógrafos oferecem books e ganham eletrônicos. Há até pessoas oferecendo aulas de ioga.

O consumo colaborativo no Brasil ganha força na internet desde criações como o site DescolaAí (descolaai.com), em 2011. Em maio, o brasileiro Diego Zambrano criou o aplicativo Bondsy (bondsy.com), a rede social de coisas. Nela, os usuários (só para dispositivos iOS) trocam e vendem produtos e serviços. Basta tirar uma foto, escrever a história do produto e compartilhar. Só se recebem ofertas de pessoas conectadas a você. O aplicativo tem proposta semelhante ao Bizuh (https://bizuh.com), que se diz a rede social de classificados.

Trocar, compartilhar, emprestar e alugar vem substituindo o verbo comprar nessa prática comercial. Conheça nesta edição quem são os outros mineiros que fazem escambos na rede, além de conferir a entrevista com os criadores do Enjoei, site fofo e popular entre mulheres, destinado à venda de produtos usados, mas com “pedigree”.