Shirley Pacelli
Que tal trocar uma mesinha de mogno por uma sacola de limão? Ou quem sabe livros por jabuticaba? Quando o assunto é escambo, a fotógrafa e ecóloga Verônica Martins, de 26 anos, não tem receio. Troca mesmo. Há cerca de oito anos, quando virou adepta do veganismo (filosofia de vida que boicota a exploração animal), ela teve o primeiro contato com a comunidade de Reciclistas em Belo Horizonte por meio de encontros dos grupos Gato Negro e Domingo Nove e Meia. De uma lista de e-mail, os Reciclistas passaram a trocar informações em um grupo no Facebook (https://on.fb.me/12y1bet), hoje com 1.139 membros. Surgia uma rede de pessoas com vontade de evitar o desperdício, consumir menos e oferecer apoio mútuo para isso. Foi criado um fórum para reciclar itens que não são mais utilizados – de uma cama a restos de material de construção, por exemplo.
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Consumo colaborativo pode se transformar numa forma criativa de negócioGrupo no Facebook discute o consumismo e incentiva a doaçãoGrupos, sites e até aplicativo reforçam a cultura do escamboO escambo é sempre feito pensando na utilidade do produto e não no valor. Volta e meia, Verônica oferece móveis e outros utensílios da casa e pede comida orgânica na negociação. Dia desses trocou um som, já mais velhinho, por espinafre e uma sessão de reiki, terapia oriental. A cadeira abandonada do escritório, permutada por alargadores, ganhou novo lar.
Geladeira, armário, fogão, sapatos, roupas: as pessoas doam de tudo. Mas também querem tudo! Verônica conta que quando se trata de vestuário, às vezes os membros do grupo não precisam, mas já que é bonito e de graça, por que não? “Falta bom senso. Você oferece uma chupeta e eles querem”, brinca. Para pegar o escambo, ela tem a prudência de olhar se o usuário tem amigos em comum antes de passar o endereço de sua casa, caso o colega tenha disponibilidade para ir até lá. Normalmente, encontra com as pessoas no Centro da cidade.
DOAÇÕES
Quem também é adepto de grupos on-line de trocas e doações é o estudante de arquitetura Paulo Henrique Pereira de Melo, de 21 anos, morador de Pará de Minas. Há um ano e meio ele participa da comunidade Desmaterialize-se, com cerca de 9 mil membros, no Facebook. Ele integrava outros grupos de compra e venda e achava absurdos os preços cobrados por alguns artigos usados. Descobriu no Desmaterialize-se a fonte das doações.
No começo, doava livros e material para vestibular, mas resolveu oferecer aulas de violão gratuitamente. Apesar dos insistentes pedidos de aulas particulares de outros usuários, a ideia, segundo ele, é fazer oficinas em organizações não governamentais. Pela internet, ele já negocia com uma instituição que cuida de dependentes químicos na cidade de Conceição do Pará. “Lá tem muito instrumento doado e alguns parados porque os internos não sabem tocar”, explica. Um abrigo próximo à sua casa também se interessou pela oficina.
Até hoje, ele só pegou para si um vídeo cassete para assistir a seus filmes antigos que ainda não ganharam versão em DVD. Livros e brinquedos para instituições de caridade também costumam ser recolhidos por ele no grupo. Para Melo, o único problema na comunidade on-line é que há mais pessoas pedindo do que doando. O que ele doa é buscado pelo interessado em sua casa, mas não sem antes ele averiguar as amizades em comum e conversar por inbox.
#Fikdica
Regras e práticas de boa convivência:
» Ao anunciar um produto, seja honesto e informe o seu estado: funcional, com defeito, desgastado...
» Crie um álbum de fotos dos artigos a serem doados/trocados no grupo com o seu nome para facilitar a identificação.
» Siga as instruções. Se é um grupo só para doação, não insista em comercializar ou trocar produtos.
» A forma de entrega é negociada entre os interessados.
» Não saia pegando tudo o que é oferecido. Reflita se é realmente útil para você.
» Ao finalizar a troca, notifique e retire as fotos da oferta.