Jornal Estado de Minas

Grupo no Facebook discute o consumismo e incentiva a doação

Jorge Macedo - especial para o EM

Shirley Pacelli

Resíduo é aquilo que não tem mais utilidade. Muitas vezes, várias coisas acabam virando lixo, mas podem ser úteis para outra pessoa - Henrique Ferreira Ribeiro, engenheiro ambiental - Foto: João Miranda/Esp. EM/D.A PressUm ano com 100 objetos pessoais. Esse foi o desafio enfrentado pelo norte-americano Dave Bruno em 2008 (leia o registro no blog guynameddave.com). A experiência virou livro e serviu de inspiração para o grupo Desmaterialize-se (https://on.fb.me/15ZKCFn) no Facebook, que discute o consumismo, o uso desenfreado dos recursos e a lógica da obsolescência programada.

Por trás do Desmaterialize-se está o engenheiro ambiental Henrique Ferreira Ribeiro. O grupo foi criado com o objetivo de se tornar uma ferramenta de encontro entre pessoas que quisessem doar artigos que não tivessem mais utilidade e aquelas que precisassem deles. O crescimento foi muito rápido – em apenas nove meses já agrega cerca de 9 mil pessoas, inclusive de outros estados.

As regras do grupo são claras: tudo vai para doação. “Há cinco anos sou sócio de uma empresa de gestão de resíduos da construção civil. Resíduo é aquilo que não tem mais utilidade. Muitas vezes, várias coisas acabam virando lixo, mas podem ser utéis para outra pessoa”, explica Henrique Ribeiro. Ele conta que sua primeira doação foi um livro acadêmico de um autor famoso sobre o uso racional da água. “Comprei no início da faculdade e nunca li por completo. Falava que ia ler depois, mas me formei antes disso. Fiz uma limpa no meu guarda-roupa, na minha estante... Passei muita coisa para frente”, lembra.

Televisão, computador, roupa, objetos pessoais, como brinco e mochilas, estão na lista de objetos oferecidos. Há ainda muitos animais, como gatos e cachorros. Pedir nos posts, para ele, não é problema. “É uma coisa que nunca quis proibir, porque às vezes quem pede lembra outra pessoa que ela tem aquilo disponível”. Muitas pessoas pedem, por exemplo, fones de ouvido e carregadores de celulares antigos e são rapidamente atendidas. Enxoval de bebês também é pedido recorrente.

Ribeiro conta que a interatividade no grupo é muito boa e a própria comunidade costuma gerir os posts. Ele já excluiu alguns membros, porque eles queriam absolutamente tudo o que era anunciado e isso gerava a suspeita de revenda. Hoje, a comunidade é fechada e é preciso que o moderador aprove sua entrada e a publicação inicial. “Tem muito post que não tem nada a ver, como ‘Ganhe dinheiro com internet, telexfree”, esclarece.

 

Somos todos gratos

Doe e leve o que quiser, ou nada. Essa é a lógica da Feira da Gratidão (https://on.fb.me/16fhxaO), evento organizado e divulgado unicamente pelo Facebook e que teve sua terceira edição realizada na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no sábado. A estudante de gestão pública Camila Souza do Amaral, de 21 anos, conta que o evento foi inspirado na Gratiferia, realizada na feira de Tristan Narvaja, em Montevidéu (Uruguai). Uma amiga carioca trouxe a ideia para o Rio de Janeiro e ela resolveu implantar também em BH.

A primeira edição foi na Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste, em março deste ano, e recebeu centenas de pessoas ao longo do dia. “Foi muito bom. Todo mundo entendeu o espírito da feira”, diz Camila. E qual seria esse espírito? De acordo com ela, é acabar com o consumismo. Não é caridade e não envolve nenhum comércio. É para levar e pegar o que quiser. Só quando se encerra a feira é que os artigos que sobraram são doados para alguma instituição.

Além de livros, roupas e brinquedos, há quem leve cadeiras especiais e ofereça massagens. Um grupo, munido de máquinas de escrever, escrevia cartas a pedido. Mudinhas de plantas eram trocadas por sonhos descritos em pedaços de papel que enchiam potes. Brigadeiros e brinquedos ficaram à disposição. E várias apresentações culturais ocuparam o espaço. Betim, Contagem e Ribeirão das Neves também já fizeram suas edições.