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Estado de Minas

Levantamento mostra efeito dos comentários positivos nas redes sociais

Estudo diz que avaliações positivas de comentários postados na web geram mais opiniões do mesmo tipo


postado em 18/08/2013 06:00 / atualizado em 18/08/2013 09:21

Estudo mostra efeitos das
Estudo mostra efeitos das "curtidas" (foto: Arte/ Thiago F)
Quando alguém lê uma notícia na internet, geralmente acaba dando uma olhada nos comentários, para adicionar o seu pitaco sobre o assunto ou simplesmente se inteirar sobre a repercussão do tema. Você já parou para pensar que essas intervenções podem seguir um efeito cascata? Pesquisadores americanos realizaram experimento para comprovar essa suspeita. No trabalho, publicado na revista Science, eles analisaram e contabilizaram a participação dos leitores de um portal de notícias dos Estados Unidos e chegaram a conclusão de que comentários positivos geram mais opiniões do mesmo tipo e que as pessoas tendem a aprovar mais as ideias dos amigos.


O estudo foi feito por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), da Universidade Hebraica de Israel e da Universidade de Nova York. Os especialistas realizaram uma parceria com o portal Yelp.com para decifrar se os internautas eram influenciados por outros ao comentar as notícias. “Nossa sociedade está cada vez mais contando com as opiniões digitalizadas, que são agregadas (de autoria de várias pessoas), para tomar decisões. Nós, portanto, criamos um experimento randomizado, em larga escala, para investigar se o conhecimento de tais ‘agregados’ distorce a tomada de decisões”, detalha no estudo Lev Muchnik, professor do Departamento de Estudos Internet da Universidade Hebraica de Jerusalém.


Os pesquisadores monitoraram o site durante cinco meses. Cada comentário postado recebia uma avaliação positiva ou negativa gerada aleatoriamente por um programa de computador. Não se tratava de uma opinião verdadeira, portanto. Independentemente do conteúdo, a máquina simplesmente a avaliava positiva ou negativamente, ou, em alguns casos, não dava nenhuma avaliação. Os pesquisadores então observaram como os usuários que acessavam o espaço depois da interferência do programa se comportavam. Ao todo, os usuários deixaram 101.281 comentários, que foram vistos mais de 10 milhões de vezes e avaliados 308.515 vezes por outros usuários. Os temas das notícias eram variados, como política, cultura e economia.


Com a análise, os pesquisadores descobriram que os comentários positivos tinham muito mais poder de influência, gerando novos cliques na opção de “gostar”, do que os negativos. A probabilidade de uma avaliação positiva conseguir outra aprovação era 32% maior que a de uma desaprovação ser repetida. Os pesquisadores não sabem dizer por que isso ocorre, mas acreditam que a tendência pode ser explicada pelo “efeito pastoreio”, que significa uma concordância por associação, ou seja, os leitores seguiam a opinião dos primeiros. “A manipulação positiva criou um viés de influência social que persistiu ao longo do nosso período de observação. Nos cinco meses, notamos o acúmulo desse efeito, que aumentou consideravelmente nos cálculos finais”, destaca Muchnik no trabalho.

Coletivo Para Karla Patriota, professora do Departamento de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a pesquisa aborda um tema interessante e que ocupa a mente de quem trabalha com a web: a inteligência coletiva. “A teoria do pastoreio, descrita pelos pesquisadores, fala justamente sobre ideias que são construídas juntas. A percepção que temos e que pode mudar quando sabemos dos argumentos e opiniões do outro”, explica a professora.


Patriota acrescenta que o número alto de avaliações positivas é algo diferente do que já foi mostrado em pesquisas semelhantes. “Alguns estudos de marketing mostram, por exemplo, que um depoimento positivo sobre o serviço de uma empresa teria o poder de influenciar seis pessoas, enquanto uma opinião negativa atingiria 11. Vemos nessa pesquisa algo contrário, que muda um pouco essa visão”, destaca a especialista.


A professora também diz que a pesquisa aborda um grande espaço amostral, para dar foco justamente aos números. “Essa é uma pesquisa que trata principalmente de resultados em forma quantitativa, e não de análise de conteúdo, já que os temas das notícias são variados. O que é bacana por mostrar uma tendência que existe nesses portais, independentemente do assunto abordado.”
 
Parceria A amizade entre os internautas também moderou o impacto da influência social sobre o comportamento da classificação. “O site tem um recurso pelo qual os usuários podiam apontar pessoas de quem eles ‘gostavam’ ou ‘não gostavam’, formando, assim, gráficos de ‘amigos’ e ‘inimigos’. Sem surpresa, as pessoas se mostravam mais propensas a aprovar comentários dos ‘amigos’”, explica Muchnik.


Para Toni Vieira, professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), conhecer ou não as pessoas serve como um termômetro nas redes sociais, o que é comprovado no estudo. “Podemos utilizar esse experimento para ilustrar sinais que observamos facilmente nas redes, como em sites de interação social, nos quais sempre seguimos pessoas que tendem a ter os mesmos gostos que a gente”, aponta o pesquisador.


Vieira diz ainda que a pesquisa poderia ter vertentes específicas maiores, que renderiam outras constatações interessantes. “O comentário positivo pode ser interpretado de formas distintas. Quando digo que não gosto de um político especificamente, alguém pode concordar e gostar disso. Acredito que o foco do estudo era quantificar os dados e dar uma visão geral, mas abordagens mais específicas podem, no futuro, em outros trabalhos, acrescentar novas descobertas nessa área”, acredita.
Para Lev Muchnik, o trabalho pode mostrar o comportamento de internautas em análises futuras. “Acreditamos que a nossa experiência vai inspirar análises mais sofisticadas do viés de influência social nas pesquisas eleitorais. Esses resultados podem ser utilizados também para adaptar tecnologias de avaliação, que expliquem da melhor forma como funcionam as influências sociais”, prevê o cientista.


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