Privacidade ou maior exposição? No momento em que se discute a segurança dos dados oferecidos pelos smartphones, a Apple coloca no mercado um aparelho que usa a impressão digital para destravar a tela. O iPhone 5S, topo de linha da marca, lançado ontem, traz um leitor biométrico para liberar o uso com as impressões digitais. A empresa apresentou também o modelo 5C, que terá cinco cores e preço a partir de US$ 99 dólares (se comprado com um contrato de operadora de telefonia). O 5S, mais caro, também aparece em três cores – cinza, prata e dourado – e com melhorias na velocidade do processador e nas funcionalidades do software iOS7 . O presidente-executivo da companhia, Tim Cook, abriu a apresentação dos novos modelos em evento na sede da empresa em Cupertino, Estados Unidos.
O telefone mais barato será vendido online a partir de sexta-feira, enquanto o dispositivo mais caro pode ser pré-encomendado em 20 de setembro. Pela primeira vez, ele irá à venda na China ao mesmo tempo que nos Estados Unidos, um movimento esperado para restringir severamente o mercado negro de celulares contrabandeados na segunda economia do mundo. Desbloqueado, o modelo topo de linha com 16GB de armazenamento custará o mesmo que o iPhone 5C com 32GB: US$ 649.
Com a paleta de cores mais ampla e o preço mais baixo do iPhone, a mais valiosa companhia de tecnologia do mundo está tentando correr atrás de concorrentes como a Samsung Electronics e a Huawei Technologies em países como Índia e China, onde está perdendo terreno. O mercado reagiu mal às novidades e as ações da empresa fecharam em queda de 2,28% ontem, cotadas a US$ 494,64. As perdas do dia ficaram mais acentuadas justamente depois do evento que lançou os novos aparelhos.O anúncio do 5C resultou em provocações da concorrente Nokia na internet. Pelo Twitter, a marca finlandesa brincou que "a imitação é a melhor forma de elogiar". Isso porque as cores do 5C são parecidas com a dos Windows Phone.
Uma questão chave é se a Apple venderá o iPhone 5C, mais barato, também em mercados mais maduros, como Europa ou Estados Unidos, canibalizando vendas do 5S, seu principal modelo. Globalmente, o mercado para celulares inteligentes mais baratos, com preço de cerca de US$ 300, pode crescer para 900 milhões de unidades até 2015, estimou o analista da Bernstein Research, Toni Sacconaghi. Assumindo que a Apple costuma capturar apenas 10% desse mercado, o 5C traria receita anual de US$ 30 bilhões para a companhia.
Outra grande polêmica em torno do novo produto topo de linha da Apple gira em torno do scanner de digital. "É o fim completo da privacidade. As empresas tendem a ter cada vez mais informações pessoais do cliente. Agora, além de saber dos contatos, localização e foto, vão ter ainda o mapa das impressões digitais da pessoa", ressalta José Lúcio Balbi de Mello, especialista em tecnologia e diretor da LedCorp, empresa especializada em mobilidade e inteligência corporativa. Alguns smartphones, lembra, só realizam 100% das operações se o usuário tiver uma senha do gmail.
Na avaliação do especialista, a biometria nos aparelhos traz mais desvantagens do que vantagens. "Ter um leitor biométrico só para substituir a senha não faz sentido. O ganho vai ser uma agilidade mínima. É muita informação pessoal para um benefício pequeno", ressalta. Ele afirma que a impressão digital também pode ser reconstruída através das informações da carteira de identidade. "É por isso que os bancos pedem cartões com chip, além do leitor biométrico", observa.
Preço Alto
Em relação aos outros atributos do Iphone 5S, Mello lembra que a Aplle oferece o melhor touchscreen do mercado, mas os aparelhos costumam chegar ao Brasil com custo muito elevado em relação ao benefício. "O valor no Brasil é fora da realidade. É preço de produto de luxo", diz.
Wallace Oliveira, sócio da empresa de informática Bit Zero, é um consumidor voraz de tecnologia e já colocou seu Iphone 5 à venda (por R$ 1,8 mil) de olho no novo modelo da Apple, que ainda não tem previsão de chegada ao Brasil. "Prefiro ter um telefone que processe melhor os dados, as atividades do dia a dia. Além disso, vai ter uma câmera melhor, que uso muito nos meus momentos de lazer", diz. Oliveira afirma não se importar em gravar sua impressão digital para operar o aparelho. "Acho que dá mais segurança. Eu costumo não usar a senha, pela comodidade", afirma. (Com agências)