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Estado de Minas

Bisbilhotice virtual pode passar dos limites e se transformar em vício

Quem nunca teve vontade de saber algo mais sobre sua paquera ou namorado? O problema é quando ela afeta negativamente a vida


postado em 03/10/2013 10:00 / atualizado em 03/10/2013 11:04

Aos 11 anos, Bruna (nome fictício) estava no sexto ano do ensino fundamental quando começou a dar sinais da obsessão de perseguir alguém. Apaixonada por um garoto dois anos mais velho, com a ajuda de algumas amigas, descobriu o nome completo, família, nome do cachorro, endereço e o telefone. Pagava as amigas para poder passar perto do rapaz, ligava para sua casa todos os dias, até que o “bina” do telefone a denunciou e ficou com a imagem desgastada perante o rapaz e os amigos. Anos depois e com o avanço das redes sociais, Bruna, hoje com 24 anos, não tem contato com o menino, mas quando o encontra finge que não o conhece. Entretanto, a mania de bisbilhotar permaneceu. Com um ex-namorado, ela chegou a criar conta falsa no extinto MSN Messenger, comprou outro chip de celular, mentiu para o parceiro sobre a verdadeira história e nunca foi descoberta.

O comportamento obsessivo de Bruna é considerado assédio pelo professor de psicologia da UNI-BH Evaristo Magalhães. “A dificuldade de lidar com a perda é muito difícil e ela acaba não medindo esforços para ter o outro de volta, o que é muito preocupante”, explica ele. Bruna não nega o vício nas redes sociais. “Passo o dia todo em Facebook, Twitter e Instagram. Olho o perfil de quem conheço e não conheço”, conta. “Se conheço alguém interessante, rola um clima, vou atrás do Facebook, descubro os amigos em comum, a família, o que gosta, aonde costuma ir”, confessa Bruna.

Evandro acredita que em casos assim, a curiosidade já passa a ser um comportamento obsessivo: “A pessoa perde o controle para poder ver o que a outra está fazendo”, explica. O bisbilhotismo é até aceitável quando é comum você saber, saudavelmente, o que uma pessoa está fazendo. Criar um perfil falso já sugere que você está querendo ter acesso a uma informação que você não deveria ter.

O hábito, porém, não é comum só com a garota. Vinícius Rodrigues (nome fictício) admite revirar todas as redes sociais para tentar descobrir algo a mais sobre a pessoa. “Olho timeline do Facebook, posts, fotos que foi marcada, localização no Instagram e atualização no Facebook”, explica o rapaz. O professor de psicologia acredita que a obsessão nas redes sociais é indicador da formação social do sujeito. “A curiosidade é comum do ser humano, mas depende muito de como a pessoa está recebendo a informação e o que ela faz com isso”, explica.

ESTRATÉGIA PAQUERA

"Sempre olho se é solteira e as fotos, claro!%u201D, André Iglesias Brandão, de 19 anos, estudante (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)


A caminho de Governador Valadares, onde faz faculdade de medicina, André Iglesias Brandão, de 19 anos, se entretinha com o smartphone na rodoviária de Belo Horizonte. Ele conta que usa o Facebook para espiar os perfis das jovens que vê passando pelos corredores da faculdade. “Sempre olho se é solteira e as fotos, claro!”, diz. Ele acha que dar uma olhada nos perfis on-line pode ser uma boa forma de se tornar mais atraente aos olhos da pretendente durante uma conversa, guiando o bate-papo para um assunto mais interessante à garota. Ele conta que nunca teve problemas com vigilância on-line de namoradas. “Aí é bobeira. Perda de controle”, afirma.

Não existe um tratamento específico para os viciados em bisbilhotar. “Faço terapia desde nova, às vezes conto casos de obsessões para a terapeuta e ela tenta me dar uma freada, mas nunca fiz algo específico para isso”, conta Bruna. Para o psicólogo, o que vai conectar a um comportamento doentio é quando justamente a pessoa perde o controle e deixa de fazer suas atividades cotidianas para poder ficar vigiando o outro. “A rede social ainda não dá o direito de fazer isso. Você não pode se apropriar dessa ideia acreditando ser normal”, explica Evaristo.

Stalkear não é assim tão fácil. Tem que saber onde olhar, os cuidados a serem tomados para não ser descoberto, porque qualquer deslize se é descoberto. “Requer um sexto sentido”, conta Bruna. Saber o que curtir, comentar e falar, é também artimanha básicas dos bisbilhoteiros. Vinícius sabe quando estava sendo bisbilhotado em uma das redes sociais. “Não sei se já descobriram que eu estava xeretando alguém, mas já percebi que estavam de olho nas minhas redes quando comentavam alguma coisa antiga ou ressuscitavam alguma foto do passado também”, relata o estudante.

Controlar a curiosidade é algo difícil, mas tem que saber ponderar. “A curiosidade é fantástica, faz muito bem ao ser humano, mas a pessoa deve fazer um juízo de valor sobre o que é aceitável e o que é exagero e a que esse exagero pode levar”, diz ele. O casal de universitários Fernando e Sônia (também nomes fictícios) não gosta de se lembrar do que passou. Por causa de uma indiscrição de Fernando, que resolveu investigar a Linha do Tempo, mensagens, fotos, enfim, dar uma geral no perfil da companheira no Facebook, os dois acabaram se desentendendo em uma boate, se estapeando e indo parar na delegacia. Permanecem juntos mas não perderam o hábito de xeretar um ao outro nas redes sociais. Para evitar má interpretação, combinaram de deletar contatos de antigos relacionamentos.

CORPO FECHADO

"Acho desnecessário postar coisas do tipo %u2018Partiu faculdade%u2019. Ninguém precisa saber disso%u201D, Aline Meira, de 29, bióloga (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS)


Para os bisbilhoteiros, nem tudo está tão fácil. As ferramentas de privacidade nas redes sociais acabam diminuindo as chances de se descobrir um pouco mais. “Hoje você pode escolher o que cada um pode ver de seu perfil, quem pode publicar ou não. A privacidade ainda pode ser preservada”, diz o psicólogo Evaristo Magalhães. Enquanto esperava o ônibus para Juiz de Fora, a bióloga Aline Meira, de 29 anos, aproveitava para ver as últimas notificações do seu Facebook. Aline diz que é extremamente fechada e tenta conservar sua privacidade na rede por meio das configurações. “Acho desnecessário postar coisas do tipo ‘Partiu faculdade’. Ninguém precisa saber disso”, diz. Apesar de permitir a visualização de suas publicações só para amigos, ela desconhece os recursos de privacidade mais avançados, como os dos posts individuais ou mesmo a funcionalidade de listas como a Restritos. (Júlia Boynard)


A SETE CHAVES
Como fazer para evitar a ação dos stalkers

Primeira lição é tornar privadas todas as suas redes sociais: Twitter, Facebook, Foursquare, Instagram etc. Sem dó, por favor. Se é do tipo que quer bater recorde de seguidores, pare de ler por aqui e esqueça sua privacidade. Normalmente, todo serviço oferece a opção na barra de configurações. Cadeado contra os bisbilhoteiros!

GOOGLE
Se uma pessoa não está no Google, ela não existe – é o que se costuma dizer. Mas sua vida inteira não precisa estar disponível on-line à mercê de malfeitores. Tome cuidado com as sutilezas desse espertinho motor de busca.
» Restrinja seus vídeos do YouTube para “privado” ou “amigos” específicos (https://bit.ly/16mUhYv).
» Desative a gravação de bate-papos do Gmail. Assim, se sua conta for invadida, o prejuízo pode ser menor. Você e seus contatos são notificados quando um amigo ativar esse recurso novamente (https://bit.ly/16Cd4eI).
» Controle o compartilhamento do seu local no Google Latitude para que seus contatos não fiquem sabendo a todo momento onde você está (https://bit.ly/tC4kzx).

FACEBOOK
A rede social é uma espécie de parque de diversões para os stalkers, por isso tenha especial atenção com seu perfil.
» Em Configurações e em “Quem pode ver meus itens”, escolha a visibilidade dos seus posts futuros. Na privacidade personalizada, é possível restringir ainda mais suas atualizações.
» Cada post pode ter uma privacidade única, basta configurar no ícone disponível na caixa. Você pode ocultar ou permitir a visualização para pessoas ou listas específicas.
» Ative a análise de todas as publicações em que for marcado. Dessa forma, pelo menos os seus amigos não verão no seu perfil aquela imagem constrangedora. Mas ela continuará no Facebook do coleguinha que o marcou.
» Permita que somente amigos o encontrem pelo endereço de e-mail ou telefone na seção “Quem pode me procurar?” das configurações de privacidade.
» Não permita que outros mecanismos de busca exibam um link da sua linha do tempo.
» Na seção “Sobre” da sua timeline, marque a opção de visualização “somente amigos”.
» Oculte as seções de plugins de aplicativos como Instagram, Soundcloud e Foursquare.
» Se vai alterar seu status de relacionamento, pense bem se quer mesmo que todo mundo fique sabendo. Basta configurar a privacidade da informação.
» A lista Restritos é uma grande invenção de Zuckerberg. Papai, mamãe, o chefe e outros contatos com quem você não tem muita intimidade não veem seus posts privados.

Instagram
O aplicativo de fotos não oferece muitas possibilidades para evitar os bisbilhoteiros, porém algumas dicas são úteis.
» Em Editar Perfil, escolha a visibilidade das suas fotos. Ou qualquer um que acessar seu perfil vê as fotos, ou só quem for autorizado a seguir pode ver.
» Oculte a localização das fotos para evitar que descubram onde frequenta
» Evite marcar os amigos nas fotos


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