Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, traz uma importante contribuição a essa linha de pesquisa. Trata-se de um software desenvolvido pelo cientista da computação Paulo Gurgel, como tese de doutorado, que torna robôs móveis mais inteligentes e com melhor capacidade de se orientar no ambiente.
O cientista explica que seu trabalho consistia em melhorar o funcionamento dos aparelhos. “Tentamos aumentar ainda mais a eficiência dos que já eram top de linha. Uns são mais espertos que outros, ligando os motores de limpeza somente ao detectar sujeira ou dirigindo-se a uma tomada próxima para recarregar a bateria. No entanto, acreditamos que poderíamos ir além”, conta. “Assim, desenvolvemos um sistema em que o robô é capaz de planejar seus passos para, antes de tudo, se localizar no ambiente. Sabendo onde está, ele é capaz de agir de maneira muito mais inteligente. Ele pode, por exemplo, planejar um roteiro eficiente de limpeza, escolhendo a ordem dos cômodos, baseando-se no comportamento e costumes dos moradores ou funcionários de uma empresa”, destaca.
O segredo da técnica está no software criado por Paulo Gurgel, que, depois de receber um mapa da casa onde o robô trabalhará, permite ao dono fazer uma série de programações (veja infografia). O pesquisador explica que o grande diferencial do software é poder personalizar a ação do limpador de acordo com o espaço. “O sistema de localização é a chave de tudo. Se o robô está seguindo um roteiro de limpeza, começando pela sala para depois ir para os quartos, mas uma criança ou um animal de estimação o desloca para o banheiro, ele será capaz de perceber, depois de poucos movimentos, que pode voltar para a sala no ponto em que parou ou planejar um novo roteiro mais eficiente.”
O especialista acredita que o projeto poderá ser usado em outros aparelhos futuramente. “Durante a temporada do doutorado fora, boa parte do foco foi em robôs comerciais de limpeza, mas o sistema de localização e navegação desenvolvido não se resume somente a esses aparelhos. Pelo contrário, o sistema foi aplicado em robôs que realizam entregas de pacotes e documentos dentro de uma empresa ou universidade”, destaca Gurgel.
Para Antonio Cordelo Espingardeiro, cientista inglês criador do P37, famoso robô criado nos EUA para auxiliar idosos em afazeres domésticos e membro do Institute of Electrical and Electronic Engineers (IEEE), o software pode ser realmente bastante útil para outros projetos. “Modularidade constitui um grande desafio na robótica hoje. Quase todos os fabricantes têm protocolos de software e hardware específicos. Isso torna extremamente difícil transferir módulos de hardware (por exemplo, sensores) ou software com outros robôs ou dispositivos”, destaca. “A motivação é ter plataformas robóticas genéricas que aceitam diferentes módulos e executem tarefas da forma mais rápida e eficiente possível. Pode-se imaginar um futuro em que as plataformas robóticas podem ser personalizadas e mantidas em áreas como transporte, saúde, meio ambiente e energia”, complementa.
Saúde
Professor de engenharia mecânica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Rogério Gonçalves também acredita que o novo software de Gurgel pode ser utilizado em outros aparelhos. “É uma ideia interessante, que pode ser adaptada para a locomoção de qualquer tipo de robô móvel. Temos hoje também os carros dotados de inteligência, na navegação autônoma, para determinar a trajetória interior, que poderiam se beneficiar desse sistema”, destaca. Ele acrescenta que esse tipo de trabalho tem despontado cada vez mais no cenário atual tecnológico do país, que cresce a cada dia e está mais voltado a equipamentos robotizados. “O Brasil está desenvolvendo boas pesquisas, tanto de robôs autônomos quanto na parte de medicina e reabilitação”, destaca.
Paulo Gurgel adianta que o projeto será aperfeiçoado para ser utilizado também na área da saúde. “Vamos dedicar as pesquisas para adaptar o sistema de localização em uma cadeira robótica inteligente que possa ser utilizada por pacientes com traumas neurológicos que tiveram perda parcial ou total de suas habilidades motoras. Como o robô é capaz de se localizar sem a ajuda externa, a cadeira de rodas robótica poderá navegar sozinha pela casa”, destaca. A pesquisa prevê ainda uma forma de controlar a cadeira com o movimento dos olhos. “Utilizando eletrodos capazes de captar a atividade cerebral e uma câmera para ler o movimento dos olhos, o paciente poderá ‘pensar’ no movimento e olhar para onde deseja ir, e, então, a cadeira fará o resto”, completa.