A busca de consoles da geração atual (PlayStation 3 e Xbox 360) no Brasil aumentou em 100% após o início da produção nacional. Essas foram apenas as primeiras iniciativas tomadas por empresas de games para ganhar a confiança do consumidor brasileiro. Tanto é assim que a Microsoft confirmou, na Brasil Game Show (BGS) – maior evento de games da América Latina, encerrada terça-feira –, os rumores da semana passada: o Xbox One, o novo console da empresa, será produzido por aqui.
A Sony, por sua vez, tenta correr atrás para reverter o “prejuízo”. Isso porque o anúncio do preço do PlayStation 4 (R$ 4 mil) gerou uma resposta negativa dos consumidores brasileiros. Mas, se depender de Mark Stanley, gerente geral da empresa na América Latina, isso será por pouco tempo. “Não vamos descansar até que o valor do PS4 seja acessível ao público”, disse logo no início da coletiva da companhia na BGS.
Uma demonstração de que o mercado brasileiro de games está com toda a força é bem representada na história de Chris Lee, diretor de Produtos da Nurigo Games. O sul-coreano decidiu, com alguns sócios, migrar da Coreia do Sul (considerado um dos países com o maior público de jogos do mundo) para o Brasil. “Escolhemos ficar aqui, pois já estudávamos o mercado havia algum tempo – especialmente o de títulos on-line –, e vimos nele um grande potencial”, disse.
Para Chris, a adaptação à indústria brasileira foi difícil por conta da necessidade de acelerar os projetos, que era impedida pela diferença cultural entre os dois países. No entanto, o entendimento do mercado e a capacidade da equipe foram essenciais para o sucesso do projeto. O lançamento da empresa de Lee se chama Battle Nations 1944 e traz como contexto a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. “É uma chance de vocês vivenciarem a sua história no nosso game”, explica.
Em português
“Três anos atrás tínhamos 3,5 mil pontos de venda de jogos no Brasil. Hoje, já são cerca de 5 mil”, comenta Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft na América Latina. A empresa, inclusive, é uma das que mais têm investindo em localização de conteúdo por aqui – como foi com os títulos Rayman legends e Far cry 3. “Hoje temos um mercado de um tamanho mundial, o que justifica a tradução de nossos jogos aqui. O público brasileiro merece isso.”
Um estudo da GfK, divulgado durante a BGS, ilustra bem o que Bertrand Chaverot afirma. Só em títulos de jogos lançados, foi um crescimento de 30% entre 2011 e 2012, de 1.221 a 1.582. De janeiro a setembro, os games no Brasil venderam 24,4% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Segundo Oliver Romerscheidt, diretor de Negócios da GfK, o país vai de encontro ao que acontece no resto do mundo. “Mesmo com preços elevados, o Brasil cresce. Já algumas regiões da Europa estão com números negativos”, explicou.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
. Marcelo Tavares
. criador da Brasil Game Show
A indústria de games no país está em franca aceleração. Como o senhor avalia esse mercado brasileiro?
Acho que alguns fatores foram importantes para isso ocorrer. Primeiro, o mercado sofreu uma desaceleração, principalmente nos Estados Unidos, na Ásia e na Europa. Essa crise internacional impactou negativamente no setor de games, pois, ao desacelerar lá fora, as empresas tiveram de encontrar em novas regiões a possibilidade de crescimento e até de compensação para essas perdas. Assim, surgiu a América Latina, que tinha uma demanda reprimida há anos, e o Brasil, claro, como o principal país. Os primeiros exemplos, no caso da Microsoft com o Xbox, e outras empresas aqui, como Warner, Ubisoft e EA, mostraram que, se a gente conseguisse reduzir um pouco os valores, traduzir os jogos para o português, ter conteúdo e eventos, seria possível mudar esse cenário. Exemplo disso é que hoje somos o mercado que mais cresce no mundo, duas, até três vezes mais do que os outros. E a tendência é de que isso continue.
Depois de seis edições, qual é o maior legado da Brasil Game Show?
Acho que a gente conseguiu colocar o Brasil não só em pé de igualdade, como também conseguimos mostrar que o país é um território que merece atenção total de todos. Hoje, temos cerca de mil executivos de fora visitando a feira, e eles percebem a força do mercado. Alguns ficam realmente boquiabertos, porque não imaginam o tamanho que é. E quem percebe vê a grandeza e pensa: “Temos que investir lá”. Creio que esse seja o grande legado do evento.
Como é receber, com exclusividade, uma nova geração no evento?
Vemos isso com muito bons olhos e conseguimos enxergar o destaque e a força que o evento ganhou. Você pode testar esses novos aparelhos e dezenas de jogos, consegue reunir um volume de conteúdo e ter uma data específica para acompanhar tudo. Acho que a gente merece, tem direito, e esse tipo de exposição não pode acontecer só lá fora. Hoje, estamos entre os três maiores do mundo.
LINHA DO TEMPO
2006
» É lançado o PlayStation 3 no Japão e nos Estados Unidos. No Brasil, o Nintendo Wii e o Xbox 360 vão para as lojas brasileiras, por R$ 2.400 e R$ 2.999, respectivamente. Os preços de ambos os aparelhos norte-americanos foram de US$ 250 e US$ 399 no primeiro dia.
2009
» O PlayStation 2 é finalmente lançado oficialmente no Brasil, nove anos após a América do Norte.
2010
» O PlayStation 3 é lançado oficialmente no Brasil por R$ 1.999, quatro anos depois da apresentação oficial nos EUA. Acontece a primeira edição da Brasil Game Show, com 4 mil visitantes.
2012
» Games de empresas como Ubisoft, Warner Games e Activision ganham cada vez mais legendas, traduções de menus e até dublagens em português. Mercado tem movimentação de R$ 1 bilhão e crescimento de 43% em relação ao ano anterior. Produção do Xbox 360 em Manaus já tem um ano. BGS tem mais de 100 mil visitantes.
2013
» Brasil recebe PlayStation 4 e Xbox One com pouco tempo de diferença em relação ao mercado norte-americano. Produção do Xbox One no Brasil, em Manaus, é oficialmente anunciada.