Javier Toret Medina, articulador do movimento 15M, esteve no Brasil para participar do Colóquio Internacional Tecnologia e Democracia (coloquiotecnologiademocracia.org), realizado semana passada na Universidade Federal de Minas Gerais, e não perdeu a oportunidade de bater um papo com jovens de Belo Horizonte no Espaço Comum Luiz Estrela (https://on.fb.me/1a1gtZA). Desde 26 de outubro, o grupo ocupa um casarão abandonado há cerca de 30 anos pelo poder público, transformando-o em um centro de cultura e arte no Bairro Santa Efigênia, Região Leste da cidade.
Para se ter uma ideia, o grupo lançou a campanha virtual 15MpaRato (15mparato.wordpress.com) de crowdfunding, para coletar recursos e articular uma ação judicial contra Rodrigo Rato, ex-presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), que teve uma gestão suspeita à frente do Bankia, grupo bancário espanhol. Em 10 horas, a iniciativa arrecadou 15 mil euros (R$ 45 mil). A campanha #AbreTuWIFI, que incentivava as pessoas a deixarem o sinal de wireless de suas casas sem senha, durante as manifestações, serviu de inspiração aos protestos brasileiros. Javier diz que o 15M fez uma verdadeira máquina de guerra de comunicação: ocuparam as ruas e a web. Durante as manifestações, cerca de 1,2 milhão de tuítes foram postados sobre o tema. “Os garotos do Occupy dizem que somos a máfia do Twitter porque sempre emplacamos um Trending Topic quando queremos”, lembra.
Os espanhóis têm uma visão tática das campanhas de comunicação na internet. Há hashtags específicas para cada situação, comprovadamente mais eficazes. Quando eram realizados acampamentos, como o da Puerta del Sol, lançavam o #yeswecamp (sim, nós acampamos). Ao serem hostilizados por policiais, soltavam #Espanasinmiedo (Espanha sem medo). Do Brasil, Javier disse que era esperado a hashtag #BrazilRevolution, tal qual #SpanishRevolution, algo de visão internacional e não #Vemprarua, #Ogiganteacordou e #acordabrasil, algumas das mais populares entre as utilizadas. “O Twitter permite que qualquer pessoa no mundo veja o post. Vocês têm muito mais usuários do que nós nesse site, mas não têm uma cultura política nessa utilização”, pondera.
Pesquisa
O ciberativista conta que está em andamento um estudo com nome Global Revolution Reset Network, com pesquisadores de sete países. “Não sabemos o que vai acontecer, mas essas manifestações marcaram a vida de muitas pessoas. Abriu novas possibilidades de conexões entre ativistas, hackers e comunicadores. A sociedade, que estava dormindo, acordou. É um ciclo importante como Maio de 1968 (onda de protestos iniciadas por estudantes na França). Não sabemos se outros países vão se levantar. Nós, do 15M, só estamos esperando uma chamada de vocês”, afirma.
Os pesquisadores do Centro de Convergência de Novas Mídias (CCNM) da UFMG e professores do curso de comunicação social da instituição, Regina Helena Alves, Geane Alzamora, Carlos D’Andréa e Joana Ziller, deverão em breve lançar um livro sobre as manifestações brasileiras. Durante o colóquio, foi apresentada uma prévia sobre as análises até agora realizadas. Regina Helena destacou que a obra questionará a falsa dicotomia entre as redes midiáticas e urbanas, fazendo uma reflexão sobre as apropriações das ferramentas digitais como uso político.
“A rua passa a ser o espaço por excelência da visibilidade do enfrentamento e da denúncia do porquê do enfrentamento. E a conexão à internet como o lugar da transmissão do espetáculo que a performance da ação nas ruas quer se contrapor à espetacularização capitalista. Eles entendem que não vivem num ciberespaço e que não é nele que constitui suas ações. ‘A web não é um fim em si mesmo, é uma arma’”, ressaltou a pesquisadora.
É uma referência ao movimento de protesto Occupy Wall Street contra a desigualdade social nos Estados Unidos, em 2011. Ficou famosa a expressão “nós somos os 99%”, com a ideia de que os manifestantes eram a maioria que não iria mais tolerar a corrupção de 1% da sociedade.
GLOSSÁRIO DE CASTELSS
Sociedade em rede
Sociedade pós industrial, em meio às tecnologias da informação e comunicação.
Autocomunicação das massas
autonomia da população para alcançar uma audiência massiva por meio das redes.
ESPELHEM-SE!
Produtos do 15M para ficar de olho:
Campo de Cebada
Espaço para a comunidade digital que usa tecnologia livre.
elcampodecebada.org
Demo4Punto0
Permite que os cidadãos participem digitalmente da votação de qualquer lei.
twitter.com/Demo4punto0
15Mpedia
Espécie de Wikipédia do movimento.
wiki.15m.cc
Glosario Abierto del Vivero de Iniciativas Ciudadanas
Glossário das manifestações.
viveroiniciativasciudadanas.net/wiki/glosario-abiertos
MeCambio.Net
Guia de serviços sustentáveis alternativos alimentado pelos usuários.
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