(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

Javier Toret Medina mostra em BH o valor do ciberativismo

Ativista mostra o que os Indignados da Espanha, movimento surgido em 2011, podem ensinar aos manifestantes brasileiros. Com medo da vigilância, pesquisadores incentivam o uso da criptografia


postado em 07/11/2013 10:45 / atualizado em 07/11/2013 11:32

Javier Toretd destacou a importância de uma campanha digital estratégica(foto: Maria Objetiva/Divulgação)
Javier Toretd destacou a importância de uma campanha digital estratégica (foto: Maria Objetiva/Divulgação)
Não é de se admirar que seja da terra do sociólogo espanhol Manuell Castells, um dos pensadores mais influentes do mundo e responsável por conceitos como “sociedade em rede” e “autocomunicação das massas”, que venha um dos exemplos mais interessantes de movimento para o Brasil se espelhar: o 15M, conhecido como Os Indignados. Em 15 de maio de 2011, 40 pessoas resolverem acampar na Puerta del Sol, em Madri, após uma passeata organizada pela plataforma civil e digital Democracia Real Já! contra medidas do governo espanhol consideradas antissociais para conter a crise financeira. De madrugada, o grupo foi violentamente retirado do local por policiais. Toda a ação foi divulgada por streaming dos smartphones dos ativistas. Resultado: depois de cinco dias, havia 28 mil pessoas no local alimentando uma campanha massiva de questionamento, nas redes e nas ruas, do sistema político e econômico do país. O protesto se espalhou por 52 cidades espanholas e recebeu apoio de várias outras da Europa.


Javier Toret Medina, articulador do movimento 15M, esteve no Brasil para participar do Colóquio Internacional Tecnologia e Democracia (coloquiotecnologiademocracia.org), realizado semana passada na Universidade Federal de Minas Gerais, e não perdeu a oportunidade de bater um papo com jovens de Belo Horizonte no Espaço Comum Luiz Estrela (https://on.fb.me/1a1gtZA). Desde  26 de outubro, o grupo ocupa um casarão abandonado há cerca de 30 anos pelo poder público, transformando-o em um centro de cultura e arte no Bairro Santa Efigênia, Região Leste da cidade.

O ciberativista, desde 2011, vem sistematicamente realizando protestos e hacks diversos na cultura espanhola, além de ter participado de várias ocupações culturais como La Casa Invisible (lainvisible.net), centro social e cultural de gestão cidadã em Málaga, no Mediterrâneo. No blog Data Analysis 15M (datanalysis15m.wordpress.com) ele e outros 10 pesquisadores publicam estudos referentes ao ciberativismo espanhol. Segundo seu levantamento, assim como no Brasil, 71% das pessoas que foram às manifestações em 2011 nunca tinham participado de um protesto antes. Ele diz que 6 a 8 milhões de pessoas participaram nas ruas, mas conseguiram – pela web – o apoio de cerca de 75 milhões.

Para se ter uma ideia, o grupo lançou a campanha virtual 15MpaRato (15mparato.wordpress.com) de crowdfunding, para coletar recursos e articular uma ação judicial contra Rodrigo Rato, ex-presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), que teve uma gestão suspeita à frente do Bankia, grupo bancário espanhol. Em 10 horas, a iniciativa arrecadou 15 mil euros (R$ 45 mil). A campanha #AbreTuWIFI, que incentivava as pessoas a deixarem o sinal de wireless de suas casas sem senha, durante as manifestações, serviu de inspiração aos protestos brasileiros. Javier diz que o 15M fez uma verdadeira máquina de guerra de comunicação: ocuparam as ruas e a web. Durante as manifestações, cerca de 1,2 milhão de tuítes foram postados sobre o tema. “Os garotos do Occupy dizem que somos a máfia do Twitter porque sempre emplacamos um Trending Topic quando queremos”, lembra.

Máfia do Twitter: Javier Toret, do 15M, destacou para público do Espaço Comum Luiz Estrela (E) a importância de uma campanha digital estratégica(foto: PAUL HANNA/REUTERS)
Máfia do Twitter: Javier Toret, do 15M, destacou para público do Espaço Comum Luiz Estrela (E) a importância de uma campanha digital estratégica (foto: PAUL HANNA/REUTERS)

Os espanhóis têm uma visão tática das campanhas de comunicação na internet. Há hashtags específicas para cada situação, comprovadamente mais eficazes. Quando eram realizados acampamentos, como o da Puerta del Sol, lançavam o #yeswecamp (sim, nós acampamos). Ao serem hostilizados por policiais, soltavam #Espanasinmiedo (Espanha sem medo). Do Brasil, Javier disse que era esperado a hashtag #BrazilRevolution, tal qual #SpanishRevolution, algo de visão internacional e não #Vemprarua, #Ogiganteacordou e #acordabrasil, algumas das mais populares entre as utilizadas. “O Twitter permite que qualquer pessoa no mundo veja o post. Vocês têm muito mais usuários do que nós nesse site, mas não têm uma cultura política nessa utilização”, pondera.

Pesquisa

O ciberativista conta que está em andamento um estudo com nome Global Revolution Reset Network, com pesquisadores de sete países. “Não sabemos o que vai acontecer, mas essas manifestações marcaram a vida de muitas pessoas. Abriu novas possibilidades de conexões entre ativistas, hackers e comunicadores. A sociedade, que estava dormindo, acordou. É um ciclo importante como Maio de 1968 (onda de protestos iniciadas por estudantes na França). Não sabemos se outros países vão se levantar. Nós, do 15M, só estamos esperando uma chamada de vocês”, afirma.

Os pesquisadores do Centro de Convergência de Novas Mídias (CCNM) da UFMG e professores do curso de comunicação social da instituição, Regina Helena Alves, Geane Alzamora, Carlos D’Andréa e Joana Ziller, deverão em breve lançar um livro sobre as manifestações brasileiras. Durante o colóquio, foi apresentada uma prévia sobre as análises até agora realizadas. Regina Helena destacou que a obra questionará a falsa dicotomia entre as redes midiáticas e urbanas, fazendo uma reflexão sobre as apropriações das ferramentas digitais como uso político.

“A rua passa a ser o espaço por excelência da visibilidade do enfrentamento e da denúncia do porquê do enfrentamento. E a conexão à internet como o lugar da transmissão do espetáculo que a performance da ação nas ruas quer se contrapor à espetacularização capitalista. Eles entendem que não vivem num ciberespaço e que não é nele que constitui suas ações. ‘A web não é um fim em si mesmo, é uma arma’”, ressaltou a pesquisadora.

No aniversário de dois anos do primeiro protesto na Espanha milhares de pessoas foram a Puerta del Sol, em Madri (foto: PAUL HANNA/REUTERS)
No aniversário de dois anos do primeiro protesto na Espanha milhares de pessoas foram a Puerta del Sol, em Madri (foto: PAUL HANNA/REUTERS)
OCCUPY WALL STREET
É uma referência ao movimento de protesto Occupy Wall Street contra a desigualdade social nos Estados Unidos, em 2011. Ficou famosa a expressão “nós somos os 99%”, com a ideia de que os manifestantes eram a maioria que não iria mais tolerar a corrupção de 1% da sociedade.


GLOSSÁRIO DE CASTELSS
Sociedade em rede

Sociedade pós industrial, em meio às tecnologias da informação e comunicação.

Autocomunicação das massas
autonomia da população para alcançar uma audiência massiva por meio das redes.

ESPELHEM-SE!
Produtos do 15M para ficar de olho:


Campo de Cebada
Espaço para a comunidade digital que usa tecnologia livre.
elcampodecebada.org

Demo4Punto0
Permite que os cidadãos participem digitalmente da votação de qualquer lei.  
twitter.com/Demo4punto0

15Mpedia
Espécie de Wikipédia do movimento.
wiki.15m.cc

Glosario Abierto del Vivero de Iniciativas Ciudadanas
Glossário das manifestações.
viveroiniciativasciudadanas.net/wiki/glosario-abiertos

MeCambio.Net
Guia de serviços sustentáveis alternativos alimentado pelos usuários.
MeCambio.Net


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)