Jornal Estado de Minas

Inclusão digital aumenta em Minas, mas ainda tem muito para melhorar

Em Belo Horizonte, cidade considerada modelo, cadastro em celular para hotspots irrita usuários e vários telecentros não funcionam

Jorge Macedo - especial para o EM

Shirley Pacelli

A cara fechada da modelo Crislaine Soares (foto), de 18 anos, tem um bom motivo: ela ficou 30 minutos tentando se cadastrar na rede do BH Digital, pelo seu smartphone, mas sem sucesso. A pedido do Informátic@, a jovem faria um teste do wi-fi aberto disponibilizado pela prefeitura na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Primeiramente, a tela do seu LG Optimus L5 trouxe um aviso de certificado de segurança inválido. Ultrapassada a primeira barreira, apareceu um formulário repleto de perguntas para se inscrever.

Diferentemente do sistema simples de cadastro de outros hotspots da PBH, este exigia informações como profissão, sexo, número dos telefones residencial e comercial, celular, além das usuais perguntas do nome, data de nascimento, e-mail, endereço e CPF. Fora isso, um código de verificação – terror de qualquer internauta preguiçoso – brincava de dar erro a todo momento. Tudo isso em um design nada responsivo, o que exigia arrastar a tela de um lado ao outro para visualizar o conteúdo completo. Antes de ser torturada por mais longos minutos, Crislaine foi salva pela carona que chegou. E nada de cadastro feito.

Não é só o cadastro no hotspot gratuito da prefeitura que se tornou um obstáculo para alcançar a inclusão digital plena na capital. As centenas de aclamados telecentros, que fazem número para que a cidade ganhe o título de “cidade digital”, não recebem, em sua totalidade, a devida atenção da administração pública. Vários deles, como os do Barreiro, Morro do Papagaio, Centro de Cultura de Belo Horizonte e outros, estão fechados à população por problemas no sinal da internet, falta de funcionários e máquinas defeituosas.

EMPURRÃO

Com 53 hotsposts e 400 telecentros e postos de internet municipal, Belo Horizonte foi considerada cidade digital em um novo levantamento, desta vez do portal Rede Cidade Digital. Enquanto isso, outros municípios do estado deverão alcançar o título em breve. Com o primeiro projeto-piloto em 2012, o programa Cidades Digitais, do Ministério das Comunicações (MiniCom), contemplou 80 municípios, três deles em Minas: Rio Acima, Pimenta e Nepomuceno. A segunda fase, que será implantada neste ano, selecionou 262 cidades, sendo 25 mineiras. O programa prevê a construção de redes de fibras ópticas que possibilitem a conexão entre os órgãos públicos, o acesso da população a serviços de governo eletrônico e a espaços de uso de internet.

O ministério contrata empresas para fornecer a infraestrutura, que posteriormente é doada às prefeituras. Não há repasse direto de verbas. O papel das prefeituras é garantir o funcionamento dos sistemas e a continuidade do acesso livre à web em pontos públicos. Segundo Lygia Pupatto, secretária de Inclusão Digital do MiniCom, foram habilitados municípios com menos de 50 mil habitantes e que demonstraram a possibilidade de contratação de link (capacidade de internet) maior que 10Mbps. “Entre essas foram selecionadas cidades a partir da combinação de dois indicadores: maior número de habitantes e menor densidade de acessos à internet em banda larga”, explica.

A secretária conta que será feita a capacitação de técnicos municipais, desde níveis operacionais até o nível mais estratégico, para realizar a manutenção das redes e equipamentos. Afinal, após a finalização da instalação, a responsabilidade fica a cargo das prefeituras. “Durante o período da operação assistida (seis meses) as prefeituras são incentivadas a construir parcerias com instituições de ensino, associações sem fins lucrativos ou mesmo empresas (neste caso, por meio de licitação) para a operação e manutenção da rede. Todos os equipamentos e instalações têm garantia de três anos.”

Em Ataléia e Botumirim, cidades mineiras selecionadas para a segunda fase, existem telecentros inativos há seis meses por falta de manutenção. A responsabilidade é atribuída ao governo federal pelas prefeituras. Puppato diz que elas receberão a infraestrutura necessária e poderão consertar os equipamentos. Há projetos para inclusão digital também de Rio Acima, Buritizeiro, Araçuaí e Inhapim.