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Estado de Minas

Pesquisa mineira mostra que radiação no Brasil é maior do que se pensava

Estudo desenvolvido na Federal de Itajubá confirma que a incidência de radiação no Brasil é superior à que vinha sendo considerada. Após pesquisa, dermatologistas divulgaram consenso sobre fotoproteção


postado em 10/02/2014 08:00 / atualizado em 10/02/2014 08:54

Pedro Cerqueira

Veja o mapa da radiação no Brasil
Veja o mapa da radiação no Brasil
Sabe aquela recomendação sobre não se expor ao sol entre as 10h e as 15h? Pois bem, já não é mais bem assim. A conclusão de uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), no Sul de Minas, mapeou a incidência de radiação ultravioleta (UV) em todo o território brasileiro e indica que esses números são muito maiores do que os que vinham sendo considerados por grande parte dos médicos e unidades de saúde no país.

Segundo o professor Marcelo de Paula Corrêa, autor do estudo, é a primeira vez que essa quantidade relevante de informações sobre radiação solar ultravioleta no Brasil é reunida. “Até então, todas as recomendações que eram feitas sobre a exposição ao sol usavam informações coletadas, principalmente, nos Estados Unidos e na Europa”, explica. Parte dos dados sobre a incidência de radiação ultravioleta foi obtida com medições “in loco”, enquanto modelos matemáticos que se baseiam em diversos parâmetros (como o conteúdo de ozônio, a incidência de nuvens e a poluição) complementaram as informações para todo o Brasil e a América do Sul.

O modelo de medição é considerado muito confiável, segundo o pesquisador. A explicação sobre os níveis elevados de radiação UV no Brasil é a localização geográfica do país, que favorece o registro de uma das maiores incidências observadas no mundo. “As pessoas costumam associar a grande incidência de radiação solar com praia e com a Região Nordeste do Brasil, mas constatamos que, no verão, o Sudeste recebe uma quantidade de radiação maior que no Nordeste”, afirma Corrêa.

Aprenda a usar protetor solar
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No Rio Grande do Norte, por exemplo, às 9h já existe uma incidência de radiação ultravioleta que exige uma proteção intensa, com índices ultravioleta máximos entre 13 e 14. Por outro lado, em São Paulo, esse mesmo índice pode atingir índice 15 no verão. Então, é preciso que as pessoas que vão se expor ao sol tenham muito bom senso, pois essa radiação vai variar de acordo com o horário, o lugar e as características da atmosfera (a incidência de nuvens, por exemplo).

A pesquisa repercutiu na classe médica e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) logo divulgou o Consenso Brasileiro de Fotoproteção, documento atual e baseado na realidade brasileira. A publicação, anunciada no fim do ano passado e retratada pelo Estado de Minas, confirma que os parâmetros usados até então pela categoria para fazer recomendações sobre as formas e horários mais adequados à exposição ao sol eram retirados de revistas internacionais dos Estados Unidos ou da Europa, e que os poucos estudos publicados revelam que a radiação solar no Brasil é muito superior à observada nesses países. A SBD chegou a recomendar mais estudos sobre a realidade brasileira, a fim de produzir políticas públicas mais adequadas.

Horários

Além de não recomendar a exposição ao sol entre as 10h e as 15h (sendo que o horário de verão deve ser considerado), dependendo da época do ano e a localidade é preciso se precaver num período ainda maior. No Nordeste, por exemplo, é melhor evitar o sol a partir das 9h. Já no Centro-Oeste, é necessário estender esse período até as 16h. E o resultado dessa falta de informação talvez esteja retratada no último relatório divulgado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) em relação à estimativa de novos casos de câncer de pele no Brasil para 2014: 180 mil casos, nada menos que 31% do total de casos gerais da doença que devem ser registrados no ano.

Recomendações além dos cremes

>> Entre as principais recomendações feitas pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) está a utilização do protetor solar, cujo uso é considerado a medida central do programa nacional de fotoproteção. Pelas novas recomendações da SBD, o fator de proteção mínimo a ser usado é o 30. A entidade ainda chama a atenção dos indivíduos de pele negra, que, mesmo apresentando menor predisposição para o desenvolvimento do câncer de pele, não devem deixar de se cuidar. Para garantir a proteção, a aplicação do protetor deve ser feita na forma e quantidade adequadas, devendo ser reaplicado a cada duas ou três horas. Além disso, o uso de chapéus, bonés, óculos de sol e roupas adequadas é fundamental como a proteção solar com o creme ou loção.

>> Outra recomendação da SBD é a melhor divulgação do índice ultravioleta (IV), para que as pessoas possam se proteger. Da mesma forma como uma pessoa procura pela previsão do tempo para saber o que deve vestir e se será necessário levar o guarda-chuva numa viagem a turismo ou negócios, é possível acessar o site do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), para saber a radiação ultravioleta em todo o território nacional. O site do CPTEC/Inpe é o www.cptec.inpe.br. Para informações mais detalhadas sobre a radiação ultravioleta e a prevenção aos danos causados pelo excesso de exposição, o site do projeto Sol amigo (www.solamigo.org) traz uma série de informações em linguagem didática, incluindo atividades para a conscientização de crianças e adolescentes, faixas etárias mais sensíveis aos danos provocados pelo sol.

 

Três perguntas para... Carolina Marçon - Dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia

 

Com base nas medições feitas nessa pesquisa, o que mudou quanto à proteção que deve ser adotada ao se expor ao sol?
É preciso entender que, quanto maior é o índice UV, maior é o risco de desenvolver queimaduras e o câncer de pele. Quando o índice está acima de oito, já é considerado muito alto e é preciso se proteger. Só para ter ideia, na cidade de São Paulo esse índice anual é de 11. No Nordeste é 14. Isso nos leva a adotar o máximo de proteção entre as 10h e as 16h, mas principalmente entre as 11h e as 13h. Procure sempre pelas sombras, use filtro solar com fator de proteção solar de no mínimo 30, use chapéu e roupas que o protejam do sol.

Com o maior conhecimento a respeito da incidência da radiação UV no Brasil será possível reduzir os casos de câncer de pele?
Com certeza. O Brasil é um país peculiar porque está localizado numa região onde bate sol o ano inteiro. Isso faz com que não seja possível fazer as mesmas recomendações usando os dados de outros países. Por isso, e também devido às características diversas de pele que temos aqui, a Sociedade Brasileira de Dermatologia reuniu 25 especialistas da área que discutiram os temas mais polêmicos, de onde surgiu a publicação de um consenso de fotoproteção mais adequado à nossa realidade. E, com base nessas novas medidas, esperamos uma diminuição dos casos de câncer de pele.

O que pode ser feito para popularizar o uso do protetor solar, visto que seu preço não é acessível?

Existem diversos projetos de lei em tramitação que podem tornar o protetor solar mais acessível, desde propostas de redução de impostos, seu fornecimento para algumas categorias profissionais que trabalham diretamente expostas as sol, como os carteiros, até a distribuição para pessoas mais suscetíveis a desenvolver doenças relacionadas à exposição solar.

 


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